Sentimento Mútuo

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Eu estou olhando para o monitor de vídeo. O monitor mostra um coração pulsando numa tela azul. Cada pulsação do coração é marcada por um batimento rítmico e constante. A linha que representa o batimento do coração está a caminho de oscilar como uma linha reta e macia, quando súbitamente ela se contorce e perde o seu ritmo.

Um suspiro profundo foi ouvido, como se Tom tivesse acabado de acordar de um pesadelo. Ele olhou para mim, com seus olhos arregalados. "Você ainda está vivo?" Murmurei para o mesmo que tentava controlar a respiração ofegante.
"Você tem sorte, eu estou." Sua voz soou baixa e rouca, ele ainda estava se recuperando.

Tom se acomodou na maca, murmurando sobre a dor do abdômen e tirando o soro da veia. "Você estava esperando que eu acordasse?" Ele desconectou o monitor de sinais vitais.
"Eu estava torcendo para que você não acordasse." Falei, e um sorriso se espalhou por seu rosto. A expressão de Tom se tornou mais harmônica com o passar do tempo. "Se torcia para isso, por que não me matou quando teve a chance?" Ele fez uma pergunta à qual eu sabia a resposta, mas não soube como respondê-la.

"Não me arrisco a lhe responder", disse eu, fazendo um esforço para esconder meu sentimento. "Por que você não quer me dizer?" Ele questionou. "Porque não se pode ter tudo." Eu não tinha intenção de revelar nada. Só queria observar.

Tom se levantou com dificuldade, se apoiou na muleta e caminhou em minha direção, soltando leves grunhidos de dor à medida que se movia. Seus olhos, opacos e sem brilho demonstravam uma expressão de determinação. Quando finalmente chegou perto de mim, ele segurou firmemente em meu queixo, forçando-me a encarar seu olhar vazio e sem vida.

"Algum dia você irá ceder e me contar", sussurrou ele, com uma mistura de ameaça e raiva em sua voz. Em seguida, soltou bruscamente o meu rosto e se dirigiu à porta, deixando-me sozinha com meus pensamentos confusos.

Eu sabia que não seria capaz de esconder a verdade de mim mesma do que eu sentia. A pressão estava se tornando insuportável.

Tom apareceu novamente na porta do quarto hospitalar. O hospital era um lugar onde não poderíamos estar. Afinal, Tom era conhecido por inúmeros crimes e era desprezado por muitos. Ele tinha seus próprios motivos para ter um quarto hospitalar naquela boate.

"Vou precisar da sua ajuda para fazer algumas coisas", disse ele com a voz baixa, tentando disfarçar o seu pedido com a tosse. Eu provoquei, querendo que ele repetisse, "Você vai precisar de quê?"

Ele tossiu novamente e se apoiou na muleta. "Da sua ajuda", respondeu.

"Não!" disse, me aproximando para ver o estado em que ele se encontrava. Ele precisava de cuidados médicos, não da minha ajuda.

"Quê!?" Ele questionou, surpreso. "Está precisando de um otorrino? Eu disse não! Você me trouxe aqui como dançarina, não como enfermeira!", respondi.

"Está bem, se é assim, você irá dançar para mim agora!" Ele provocou, desafiante.

"Agora?" Virei-me lentamente em direção a ele, surpresa com a ousadia. "Isso mesmo que você ouviu! Ou você está precisando de um otorrino para verificar a sua audição?", provocou ele, com um sorriso debochado. "Mas aqui? Do nada?" Perguntei, tentando entender a situação. "Não, você irá me ajudar a ir para meu escritório e lá dançará para mim, mas se preferir dançar aqui, a escolha é sua." Por fim, ele acabou conseguindo o que queria.

Com o seu corpo pesado se apoiando em mim, caminhei pelos corredores vazios até encontrar o seu escritório. Joguei ele em um sofá de couro que havia ali. Ele grunhiu de dor e fechou os olhos, visivelmente cansado.

"Eu não sou uma boa enfermeira", murmurei, sentindo a dor e o ódio na expressão dele. "Cada dia que passa me pergunto o que foi que você viu em mim", perguntei, desabotoando a minha blusa.

"Bom, eu vejo muitas coisas", ele respondeu malicioso, seu olhar seguindo cada movimento enquanto eu retirava minhas calças. "O que você vê em mim todas as garotas têm", murmurei, chutando minhas roupas para longe e ficando apenas de lingerie.

"Eu posso ter todas as garotas, mas eu quis você. Por quê?", ele se perguntou em voz alta, enquanto ligava a música.

Eu fiquei em silêncio. Não conseguia falar, já que sabia que as minhas palavras não faziam jus ao que eu realmente sentia. Tudo o que eu sabia é que estava ainda afundado nessa jornada de sensações confusas, onde era difícil separar a emoção da realidade. O que eu estava sentindo era difícil de expressar, mas eu estava feliz.

Eu sinto o olhar de Tom na minha pele enquanto me preparo para subir no pole. O meu coração bate mais rapidamente a medida que eu ouço o ritmo da música, sentindo-me em sintonia com a batida.

Quando o ritmo finalmente começa, eu me concentro, coloco a minha mão no pole e começo a girar, saltando e contorcendo-me em torno do pole, sentindo a sensação quente do metal contra a minha pele. É como se eu estivesse dançando sobre a música, fazendo parte dela.

De repente, me sinto em paz, como se eu fosse capaz de fazer isso para sempre. Me sinto livre e longe de tudo que está ao meu redor, perdida no momento presente, enquanto a música toca no fundo do cômodo, e eu sinto a tensão do meu corpo e a dor da minha mão ao segurar o pole, mas nada mais parece importar.

Tudo o que importa é a música e o movimento, e eu me concentro no que estou fazendo, ao mesmo tempo que eu sinto a adrenalina escoando pelo meu corpo enquanto as sombras dançam em torno de mim.

Eu estou completamente imersa na dança, como se nada no mundo pudesse me tirar daquele momento, deixando meu corpo e minha mente completamente relaxados. Eu sinto a liberdade, mesmo quando a minha perna se estica dolorida, ao fazer um movimento difícil.

Soube imediatamente pelo olhar na cara dele que ele me cobiçava, hipnotizado pelo movimento da minha dança. Eu senti uma sensação de poder no fato de controlar suas emoções e sensações tão facilmente. Como se eu tivesse conseguido entrar nele e tirar uma parte de si, para ficar em minha posse.

Tudo o que restava era nós dois, e o grande abismo de tesão que existia entre nós. Com a certeza de que ele também sentia isso. Um sentimento mútuo.

Amor Por Uma Noite |Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora