Amor Por Uma Noite |Tom Kaulitz

Não tem como Voltar ao Passado

A boate parecia um mar de gente. Pessoas de todos os tipos de aparência andavam em todas as direções, como um enorme rio vivo, numa correnteza caótica e agitada. Alguns conversavam ao redor, riam, faziam apostas, outros compravam mulheres.

"Não acho que seja uma boa idéia! Eu trabalho para o seu irmão e já perdi uma pessoa importante por causa disso." Contrariei Bill, que tentava me convencer a fazer uma performance naquela boate, que era nova para mim.

Bill olhou para mim com um tipo de sorriso cínico nos lábios, sabendo que tinha somente uma chance. "Dama da Noite, você é nova aqui, tem que dançar! É uma tradição para a sua passagem" Ele disse, sua voz carregada de intenção e poder.

Me senti instantaneamente desconfortável com a sua insistência, já que ele era o irmão de Tom, alguém que talvez eu não possa contrariar, mas no entanto, eu não trabalhava para ele.

Bill, percebendo a minha hesitação, decidiu aumentar a pressão. Ele se aproximou de mim, ciente de que o poder da manipulação estava fluindo em suas mãos. "Vamos lá, Megan", sussurrou, encostando seu rosto ao meu. "Você não quer ser a única que não se encaixa nas tradições aqui, quer?"

Constrangida e sentindo a pressão cada vez maior, abaixei os olhos por um momento. Eu sabia que ceder significaria alimentar o ego de Bill e satisfazer as expectativas dos demais à minha volta.

Ergui o queixo, olhei diretamente nos olhos dele e disse: "Mas e o seu irmão? Ele não permitiria que eu fizesse algo do tipo. Foi justamente por causa disso que ele me tirou da outra boate!" Bill, sem saber como reagir diante da minha resistência, afastou-se lentamente, deixando transparecer uma expressão descontente.

Eu sabia que o irmão de Bill, Tom, era extremamente possessivo e controlador, e agora tudo fazia sentido, ninguém da linhagem Kaulitz bate bem da cabeça.
Talvez Tom tenha me colocado nesta nova boate para que eu não tenha contato com o mundo que ele considera perigoso, sendo que para mim, ele era o mundo perigoso.

"Você não está vendo ele aqui! Está?" As palavras de Bill ecoaram pela minha mente, me deixando surpresa. "Quando ele não estiver aqui, eu que mando em você!" A atmosfera tensa se dissipou gradualmente enquanto eu pensava e me arrependia cada vez mais pelo lugar em que eu tinha me metido. Sabia que não podia mais voltar atrás e que teria que enfrentar as consequências das minhas atitudes.

Suspirei fundo, sabendo que escolha era algo que eu não tinha. Eu já estava nos camarins, com a lingerie em meu corpo, me preparando para entrar em ação. Olhei para o espelho, estudando meu reflexo. Tudo lá dentro era tão diferente do que eu estava acostumada a ver. A boate era escura e cheia de fumaça, com luzes coloridas piscando freneticamente. Havia uma mistura de cheiros no ar, entre perfume, bebida e suor. Parecia um submundo um pouco distante da minha realidade.

Respirei fundo mais uma vez, jogando meus cabelos para trás. Era hora da minha entrada. Caminhei até o pole dance, que se encontrava em uma mesa individual, com atenção redobrada para não tropeçar nos saltos altos. Mantive minha postura confiante, apesar dos nervos à flor da pele. A música alta abafava meus pensamentos e me permitia focar no presente do momento.

Os olhares curiosos e cheios de expectativa me envolviam, mas eu me mantive concentrada. Os movimentos fluíam naturalmente, mesclando sensualidade e técnica. Eu me desprendi do medo, abandonando-me na arte do pole dance. A cada giro, cada movimento poderoso, eu ganhava mais confiança e esquecia temporariamente as preocupações. A música me guiava e o meu orgulho também fervilhava em meu interior.

"Vamos, fique nua!" Um homem exclamou enquanto jogava notas de dinheiro no pé da barra. Notei a expressão de diversão nos rostos dos demais presentes, ansiosos para ver o que eu poderia mostrar

A atmosfera estava imbuída de expectativa e desejo. O ambiente escuro e esfumaçado do local criava uma aura misteriosa. Senti um misto de ansiedade e medo correndo pelas veias, pois nunca havia me despido na frente de estranhos antes.

Aumentei a intensidade dos movimentos, procurando desesperadamente manter o controle sobre a situação. Quanto mais esforço colocava na performance, mais a névoa da incerteza se dissipava, dando lugar à determinação.

A idéia de expor meu corpo dessa forma para todos verem, mesmo que temporariamente, parecia aterrorizante. O desconforto e a incerteza alimentavam os pensamentos tumultuados dentro de minha mente.

Os olhares maliciosos dos espectadores varreram meu corpo, percorrendo cada curva e cada detalhe. Para os homens de diferentes idades e origens, era apenas mais uma noite de entretenimento adulto. Para outros, uma busca por vazios emocionais preenchidos pela estranha intimidade de terceiros. E, é claro, não se podia esquecer daqueles que apenas desejavam a luxúria momentânea.

Olhei para os maços de dinheiro espalhados no chão, brilhando como estrelas sedutoras.

Eu estava no meu próprio mundo, focada em minha performance, mas em algum momento percebi um olhar familiar entre o público. Era Tom, com o seu semblante carregado. Foi como um soco no estômago, lembrando-me das consequências que estariam por vir. Continuei dançando, tentando esconder minha inquietação, mas por dentro, a tensão começou a crescer. Eu sabia que a presença dele era iminente e que eu teria que lidar com as consequências das minhas atitudes.

Enquanto girava no pole, meus pensamentos giravam em círculos também, questionando a minha sanidade e o meu bom senso. Como eu havia chegado até ali? Por que fui fazer algo que sabia que não seria aprovado por Tom?

A música chegou ao seu clímax e, com um último giro, desci do pole, ignorando completamente o pedido do homem. Sorrisos maliciosos foram notados e percebi que minha performance tinha sido um sucesso. Mas isso não importava mais. A sensação de vitória foi substituída pela ansiedade pelo confronto iminente.

Enquanto me arrumava e me preparava para sair do meio dos homens, meus pensamentos borravam com arrependimento e uma certeza dolorosa: não tem como voltar ao passado.