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O som das gotas pesadas faziam um som constante acima do carro.
Este, parado em um acostamento na beira da estrada. Sem sinal, sem vida, sem pessoas e sem carros.
Apenas a chuva, e a chuva, e a chuva.
Já tinha cerca de três horas que estávamos tentando ir para casa, e mais ou menos uma hora desde que optamos por parar e esperar a chuva diminuir, já que Neji quase bateu quando o carro deslizou na pista.
O ato acordou todos que dormiam no susto, e aconteceu logo em seguida daquele... Momento com Shikamaru.
Assim que eu desviei o olhar do seu.
Agora, estávamos ali parados. Todo mundo dormindo, exceto eu.

A Rapunzel estava com os braços dobrados em cima do volante apoiando a cabeça, Gaara com os pés em cima do painel e eu não conseguia ver a posição de Tenten, graças ao corpo grande de Shikamaru. Apenas sabia que dormia. Os dois, os dois dormiam.
Já eu, estava com a cabeça encostada na janela observando todo o mundo que desmoronava a nossa volta. Nem mesmo havia conseguido falar com Kankuro, a tempestade acabou com o nosso sinal.
Sentia aquele nó no peito em uma mistura duvidosa de tédio e... Sei lá.

Virei o rosto, olhando para Shikamaru de relance. Sua respiração era contínua e suave, os olhos fechados. A cabeça jogada para trás no banco e a boca entre aberta.
Merda.
Pelo menos agora ele estava usando uma blusa, né?
Mas o que que está acontecendo com a minha cabeça? Por que esse idiota resolveu mexer comigo hoje?
Não. Devo estar sensível por causa das cartas e...
Quem eu quero enganar, hein? Desde a nossa briga -Em um dia que também choveu, bosta.-, eu diria que estou... mais... sensível, a ele. Sei lá.
Foi estranho. Eu tô estranha desde então.
Aquele dia...
Foi o que eu mais me senti vulnerável e exposta. Acho que não vou esquecer o quanto chorei aquela noite, o quanto... Foi difícil chegar na escola e olhar para Shikamaru pelo canto do olho, sabendo que em outros dias iríamos nos cumprimentar da nossa maneira.
Então desmaiei, e agora estou aqui.
Presa em um carro com duas pessoas bem improváveis: Neji e Shikamaru.
O que tá acontecendo com a minha vida? Foi só aquela carta chegar misteriosamente no meu armário que tudo... Tudo começou a desmoronar.

Soltei um suspiro pela boca, mas acho que foi mais alto do que pensei. O corpo de Nara se ergueu, de repente. Os olhos pequeninos me olharam, o cenho levemente franzido.

Shikamaru: Que foi?

Sua voz saiu num sussurro pesado e ele coçou os olhos, bocejando em seguida.

Temari: Seu sono é tão leve assim? Eu só suspirei.

Nara assentiu.
Espera. Por que ele concorda?

Shikamaru: Eu tenho insônia. Só consigo dormir as vezes durante o dia, e mesmo assim nem sempre é um sono pesado. -Revelou, calmante. Seus olhos focados na chuva pela visão do painel, enquanto jogava aquelas palavras em mim.

Insônia.
Insônia...
Eu já li sobre isso. Aonde?
Pisquei.
A carta do anônimo. Em que ele me dizia que tinha insônia e pensar em mim o ajudava a dormir.
Que baita coincidência.
O rosto dele imediatamente se contraiu, virando-se bruscamente em minha direção.

Temari: Que foi?

Conversar entre sussurros é bem estranho.

Shikamaru: Nada. Só não... costumo falar isso para as pessoas... Quem tem que saber, sabe. -Um suspiro profundo escapou pelos seus lábios entre abertos.- O armário da minha casa é cheio de caixas e caixas de remédios para insônia. Já testei a maioria, até funciona, mas me destrói.

Por que eu sinto uma pontada no meu coração?
Que sensação estranha é essa?
É que, caramba... É dificíl ver Shikamaru exposto assim. São aqueles raros momentos dos famosos lampejos de personalidade, resquícios de segundos em que ele mostra ser alguém além do papel de dorminhoco e ignorante.
Então, toda vez que isso ocorre, é como se eu fosse pega de surpresa e mal sei reagir.

Ass: anônimo -Shika•TemaOnde histórias criam vida. Descubra agora