• Sol e Lua •

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O Sol pediu a Lua em casamento
Disse que já a amava há muito tempo
Desde a época dos dinossauros
Pterodáctilos, tiranossauros
[...]
Mas a Lua achou aquilo tão estranho
Uma bola quente que nem toma banho?
Imagine só
Tenha dó
Pois meu coração não pertence a ninguém
Sou a inspiração de todos os casais
Dos grandes poetas aos mais normais
[…]
O Sol, sem saber mais o que fazer
Com tanto amor pra dar, começou a chorar
E a derreter, começou a chover e a molhar
E a escurecer
[...]
O Sol pediu a Lua em casamento
E a Lua disse: Não sei, não sei, não sei
Me dá um tempo
E o Sol congelou seu coração

Abri os olhos quando a música tocou as últimas notas, erguendo o meu corpo da cama para pausar o áudio que saía do celular.
Estava repetindo e repetindo e repetindo. A luz da lua, a minha lua, entrava pela janela naquela madrugada de sexta para sábado.
E eu, preso a minha insônia, aos meus pensamentos.
Um sol apaixonado por uma lua.
A carta de Temari na mesa de cabeceira, aberta, lida mais de 10 vezes só aquela madrugada.
Um misto de sensações que me preenchiam. A maneira absurda como ela se via.
A idéia de que não era encantadora, que não era única, que não era... Ela.
Mal sabe ela.
A frase que roubara de mim para usar para si, a forma como assinou a sua carta com o apelido que eu dei a ela.
Me levantei devagar na cama, me sentando na minha escrivaninha.
A pilha de papéis envelhecidos ásperos que guardara, os incontáveis envelopes e o carimbo do lacre da cera vermelha. Tudo preprarado, a espera de mais uma carta ser criada.
Mas não consegui fazer nada, porque todas as palavras dela me desestabilizaram.
Eu estava ansioso para ver o que ela tinha para dizer, e, sinceramente, eu esperava uma enxurrada de palavrões. Quando isso não veio, perdi o equilíbrio.
Aquele chão firme de concreto que eu achava que tinha sob os meus pés, de repente se rachou e eu caí no abismo de suas palavras.

Quem dera eu, ser um sol cujo coração estivesse congelado pela frieza da lua.
Não.
Meu coração estava pegando fogo, fumegando, muito bem acesso.
Há quem diga que a lua não disse "não" para o sol por medo de que se apagasse de tristeza. E, não disse "sim" para que não explodisse de alegria. Logo, a melhor opção foi o "não sei". A infinita dúvida que se arrasta por todo o vazio e a infinidade do cosmos, enquanto Saturno guarda os seus anéis eternamente.
Ah, caramba, a minha lua não disse sim, não ou não sei.
Disse que me odeia, na verdade.

Mas...
Um suspiro seguido de um suave sorriso.
Eu esperava muito mais aspereza de Temari. Não foi isso o que recebi.
As suas palavras deram a entender que minhas cartas a afetavam, que apesar de usar a palavra ódio várias vezes, não parecia me odiar. Estava confusa, sim, mas isso é melhor do que um sentimento de repelir, correto?
E a sua necessidade de dizer que eu não estava a encantando...
Inclinei o meu corpo na cadeira que esguichou.
Será que eu estava finalmente conseguindo uma rachadura no muro do coração da minha rosa lua?
Meu sorriso morreu devagar, as lembranças do episódio de quinta e sexta vagaram pela minha mente.
Queria poder ajudá-la enquanto enfrentava a sua fase de Lua Nova.
Queria dizer quem eu sou, o que sinto. Queria dizer todas as palavras que transcrevo no papel, olhando em seus olhos.
Mas quem eu quero enganar?
Sou um covarde, e ela me acertaria um soco se soubesse que é Nara Shikamaru quem a envia cartas.
Não.
Preciso manter o papel.
Avançar com Temari sendo Shikamaru é muito difícil, do contrário, o meu personagem extremamente limitado, anônimo, parece estar dando passos largos.
Eu deveria me incomodar?
Imagine só
Tenha dó
Um suave sorriso pela letra da música que correra pela minha cabeça, então me joguei novamente em minha cama junto ao meu emaranhado de dúvidas e desejei que a minha insônia me deixasse dormir.
E, olha só, deixou.

Ass: anônimo -Shika•TemaOnde histórias criam vida. Descubra agora