Episódio 9

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Eram 10h30 da manhã.

Pietro : Pare, pare! - gritava Pietro, cobrindo seus ouvidos com as mãos na esperança de cessar o barulho.

Hoje, o morro acordou sem a empolgação habitual. Não havia vizinhos fofocando, nem o som alto do funk, tampouco buzinas nas estreitas ruas; apenas o eco de tiros para cá e para lá.

Tudo começou por volta das 9h, embora já tivéssemos sido alertados desde o dia anterior sobre possíveis tiroteios no morro hoje.

Até as aulas foram suspensas. A escola fica a apenas duas ruas abaixo do morro, e metade dos alunos são daqui. Como iriam sair? Não tínhamos ideia do horário que os tiros começariam.

Pietro é autista, em um grau bastante baixo, mas não tolera barulhos altos. Além disso, tem um medo terrível de balas. Quem não teria?

Nossa mãe, como de costume, saiu para trabalhar às 5h30 da manhã e não parava de ligar para casa quando as notícias sobre tiroteios começaram a circular nos jornais.

Tia Laura estava no salão da Lorraine; com certeza ainda está escondida lá dentro.

Parte meu coração ver o rosto do Pietro todo molhado de lágrimas, seus olhos inchados e vermelhos, ele gritando e chorando alto.

Estamos na cozinha, agachados, onde supostamente é mais "seguro".

Any : Meu pequeno, vai passar. Você entendeu? Vai passar - digo, com os olhos cheios de lágrimas pela cena que presencio.

Infelizmente, essa é a realidade para muitos de nós que vivemos em morros e favelas.

O mais curioso é que o morro estava pacificado há uns seis meses, sem tiros nem choros desesperados.

Arrasto Pietro para mais perto de mim e o abraço enquanto ainda estamos no chão, tentando confortá-lo.

~~

Eram 13h09 da tarde.

Pietro está deitado na cama da nossa mãe, depois de tantos tiros e choros, tudo cessou.

Os tiros acabaram por volta das 12h; eu demorei para acalmar Pietro, mas consegui preparar o almoço para ele e depois ele adormeceu.

Estou lavando a louça quando vejo minha tia entrando pela porta.

Any: Que demora, tia. Os tiros terminaram há cerca de uma hora.

Laura: Any, minha filha, que tiroteio. Estou chegando agora. Não paguei a Lorraine à toa, fiz ela terminar meu cabelo. Mas e você? Não deveria estar se arrumando para ir à casa do Josh? Conhecer os sogros? - coloca uma garfada na boca.

Any: Sim - estou pensando nisso e acabei me sentando junto a ela. - Estou com medo!

Laura: Medo do quê, menina?

Any: Medo de o Josh me pedir em namoro na frente da família dele.

Laura: Ah, Any, não acredito que esse seja o seu medo.

Any: Tia Laura, a família dele é toda rica, roupas de grife, mansão, carrões, e eu tenho o quê? Nem um vestido para usar eu tenho.

Laura: São eles que vão namorar você? - pergunta-me, fazendo-me negar com a cabeça. - Então, não precisam gostar de você. Se o Josh gosta, minha filha, isso é suficiente.

Fico refletindo sobre essas palavras. Em parte, ela está certa, mas em outra parte, nem tanto.

Any: Não sei, tia.

Laura: Deixe-me perguntar. Você rouba? Trafica? Teve filho cedo? Sai pegando qualquer um? É procurada pela polícia?

Para todas essas perguntas, respondo "Não".

Dois Mundos. Um AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora