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A Fera estava cansada — cansada e perplexa. Não entendia como acabou mantendo um belo jovem como prisioneiro enquanto o pai dele, o verdadeiro ladrão, estava agora a caminho do conforto de seu lar. 

Balançou a cabeça. Não, não fazia sentido nenhum.

 Na verdade, ele pensou ao abrir a porta da frente do castelo, havia muito, muito tempo que nada fazia sentido em sua vida.

Disparando pelo saguão, a Fera quase trombou em Minho e Christopher. O candelabro e o relógio aguardavam ansiosos pelo seu retorno. 

— Mestre — começou Minho —, já que o garoto vai ficar conosco por um bom tempo... 

— E espero que "para sempre" tenha sido um exagero — intrometeu-se Chan, com seu tom perfeitamente educado e sóbrio, como era de se esperar de um mordomo. — Nós não temos equipe suficiente para uma estadia tão longa... — A voz dele sumiu quando a Fera se virou e o encarou. 

Sem intimidar-se, Lee Know prosseguiu: 

— Seja por um dia ou pela vida inteira — disse ele suavemente —, imagino que vá querer oferecer a ele um quarto mais confortável. 

— Este castelo inteiro é uma prisão — disse a Fera de forma rude. Enquanto falava, Mingi, o mancebo, tentou pegar seu manto. A Fera o empurrou para longe e continuou andando em direção à grande escadaria. Por cima do ombro, acrescentou: — Que diferença faz uma
cama? — Sem esperar por uma resposta, ele desapareceu nas sombras. 

Christopher esperou até ter certeza de que seu mestre não poderia ouvi-lo e ainda assim falou bem baixinho: 

— Sim. É uma prisão graças a você, vossa alteza. Eu simplesmente adoro ser um relógio. — Ele suspirou amargamente.

 Como encarregado da casa, Chan sabia que deveria ter uma imagem respeitável em todos os
momentos. Mas às vezes era difícil. Era duro lembrar que ele e todos os outros integrantes da equipe estavam naquele estado por culpa do mestre, que ainda tinham que servir. — Eu sabia que ele não iria concordar. 

— Mas tecnicamente... ele não disse não — disse Minho. Lançando um sorriso dissimulado para o relógio, o candelabro seguiu na direção das escadas que levavam à prisão na torre. 

Atrás dele, Chan permanecia imóvel. Ele sabia o que Minho tinha em mente. O lacaio romântico era tão fácil de ler quanto um livro. Ele queria libertar o garoto e colocá-lo em algum lugar mais notório; tinha esperança de que ele pudesse ser o jovem que quebraria a maldição lançada sobre eles, a maldição que perdurara durante todos esses anos por uma razão óbvia: a Fera
era uma besta, literal e figurativamente. E a magia que a feiticeira conjurou exigia que alguém o amasse mesmo assim. 

Christopher suspirou. Sabia que seu amigo tinha boas intenções. Já ele era realista. Não importava onde o garoto descansaria a cabeça, ele jamais amaria a Fera. E, se Lee fizesse o que pretendia e o tirasse da prisão, isso apenas enfureceria o mestre. 

O relógio se apressou até as escadas. Ele precisava deter Minho antes que o candelabro fizesse algo de que todos se arrependeriam. Porém, ele já havia aberto a porta da cela. 

— Perdoe minha intrusão, mademoiselle — disse ele na escuridão —, mas o mestre me enviou para acompanhá-lo até seu quarto. 

Felix estava sentada no chão com as bochechas molhadas de lágrimas. Ouvindo a voz de Minho, ele se levantou. 

— Meu quarto? — Ele parecia confuso. — Mas pensei que... 

— Pensou errado — interrompeu o candelabro. — Ele é uma fera, não um monstro. 

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