Capítulo Trinta e Oito

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— Não antecipava encontrá-la acordada, senhorita — Raquel comentara ao adentrarmos o quarto.

— Estava a contemplar o senhor Henry a preparar o strudel de maçã, minha sobremesa predileta — comentei enquanto me acomodava no banco ao pé da cama, despreocupadamente.

— Apenas isso? — indagou ela, dirigindo-se à porta do banheiro e abrindo-a.

— E o senhor Henry convidou-me para um desjejum mais reservado com ele e o senhor William — expliquei, desfazendo-me dos sapatos.

— Senhorita Wannell, posso fazer um questionamento? — Raquel entrou no cômodo onde estava a banheira, sua voz carregando um tom de curiosidade respeitosa.

— Claro, qual seria? — Respondi, acompanhando-a em direção à banheira, mantendo um tom de voz calmo e aberto à conversa.

— Estais a ser cortejada por algum dos dois senhores? — Sua pergunta ecoou no ambiente, interrompendo o ar tranquilo e trazendo consigo uma atmosfera de surpresa.

Meu corpo congelou diante da porta do banheiro; surpreendi-me com sua pergunta.

— Não. Conheces os meus pretendentes e nenhum dos senhores Bonneville figura entre eles — respondi, um tanto apreensiva, sentindo certo desconforto ao afirmar isso, enquanto me aproximava da banheira.

— Mas nenhum deles desperta o seu interesse? — Continuou ela, ajudando-me a desfazer o laço do meu vestido, em um gesto cuidadoso e atencioso.

— A beleza deles é notável, porém é apenas isso. — Minhas respostas eram cuidadosas, tentando transmitir uma verdade, mesmo com a certa apreensão que se instaurava entre nós.

— Como seu vestido ficou manchado por farinha? — Indagou ela, mantendo sua curiosidade enquanto cuidadosamente auxiliava-me a me preparar para o banho, suas palavras eram acompanhadas por gestos sutis e precisos.

— Tentei ajudar no preparo dos alimentos — respondi, tentando manter uma expressão tranquila, mesmo sob certa tensão, ciente de que a parte mais suja estava na parte de trás do vestido.

Raquel permanecia em silêncio, auxiliando-me com tranquilidade a despir e a adentrar a banheira.

— Mas a senhorita não se imagina sendo cortejada por algum deles? — indagou Raquel, esfregando uma das esponjas de banho suavemente em meu braço.

— A que objetivo conduzem esses questionamentos, Raquel? — inquiri, não tendo certeza se ela havia testemunhado nossas interações na cozinha, mas optei por não indagar.

— Ah, pensei apenas que... — Sua voz pareceu vacilar por um instante, um leve movimento em sua garganta revelando um certo nervosismo. — Devido à proximidade que tendes desenvolvido com ambos, considerei que pudesse haver um cortejo.

— Até que ponto nossa proximidade leva-te a questionar e a confundir amizade com cortejo? — interpeli, procurando não revelar em minhas expressões indícios de nosso envolvimento romântico.

— Não tenho certeza, mas muitos comentam.

— Quem comenta, Raquel? — Questionei, tentando manter uma expressão serena, mesmo sob uma tensão crescente, evitando expressar o desconforto que começava a aflorar em minha mente, buscando compreender a origem desses rumores que pareciam se espalhar entre os serviçais.

— Os serviçais — respondeu, com um tom de nervosismo perceptível em sua voz. — Referem-se à vossa proximidade com eles como algo incomum entre pessoas do sexo oposto que não são cônjuges.

— Apreciemos apenas a companhia um do outro. — Minhas palavras soaram como um pedido para que encerrássemos o assunto, tentando dissuadir quaisquer especulações que pudessem gerar mais rumores.

Um Amor e Três Altezas (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora