Capítulo Quarenta e Dois

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Ainda atordoada com o que acabara de fazer, fixei meus olhos em Henry, que me encarava com os olhos arregalados e a mão repousando no rosto, no exato local onde desferi meu tapa.

- Uau, mon chéri! Não imaginei que fosse tão agressiva assim - comentou Henry, visivelmente surpreso.

Meu coração acelerou descompassado quando, desatenta, ouvi o som da trinca da porta ao meu lado ceder, onde Amélia e Thomas estavam confinados. Num gesto instintivo, segurei o braço de Henry e o puxei, fazendo um sinal para que ele ficasse em silêncio, colocando meu dedo indicador sobre os lábios. Apressada, abri a primeira porta que se apresentou, arrastando-o para dentro.

- O que está ocorrendo? - indagou Henry, mas minha resposta foi um silente gesto de negação.

Ao adentrar a sala, procurei fechar a porta de modo silencioso e, em seguida, pressionei o corpo de Henry contra o meu, aproximando-nos ao ponto de sentir sua respiração. Minha mão se postou sobre sua boca, e fiz um gesto para que permanecesse em silêncio, enquanto escutava os passos de Amélia e Thomas do outro lado da porta, além do fechar sutil da porta que utilizaram para se retirar. O silêncio tenso que permeava aquela sala escura, um pouco mais iluminada do que o corredor onde estávamos, pude reparar que a marca de meus dedos ficara no rosto de Henry, e senti-me extremamente envergonhada quando nossos olhos se encontraram, pois ele havia reparado que eu estava observando-o.

Aquele lugar, agora nosso refúgio temporário, abrigava meu nervosismo latente, refletido na irregularidade de minha respiração enquanto os passos de Amélia e Thomas ecoavam no corredor. Com o coração acelerado, aguardava, envolta pelo silêncio da sala que escondia nossa presença.

- Desculpe, Henry, eu... as coisas estão tão confusas agora. Precisamos manter silêncio e... - Antes que pudesse concluir, a voz de Thomas ressoou no corredor, e prendi a respiração, nervosa e apreensiva, temendo ser descoberta enquanto escutava a conversa deles.

- Acho que havia alguém neste corredor. Talvez estivesse nos escutando. Precisamos sair daqui - disse Thomas.

O eco dos passos distanciados de Amélia e Thomas reverberava no corredor, indicando sua possível retirada, ao passo que a melodia do baile tornava-se nítida. Após um suspense angustiante, o crescendo da música preencheu o ambiente, acompanhada pelo fechar cuidadoso da porta. Liberei o ar que retivera e retirei a mão que cobria a boca de Henry. Seu semblante exibia perplexidade, e no sussurro suave da sala, ele indagou:

- O que vossa senhoria estava fazendo? - sussurrou ele, com os lábios próximos aos meus, enquanto nossos corpos permaneciam erigidos contra a parede daquela câmara vazia, iluminada de maneira branda por uma diminuta lareira.

- Estava... Estava... extraviada em minha busca pelo caminho que conduz ao recinto reservado para a satisfação de necessidades fisiológicas. - Respondi, com uma precária tentativa de persuadi-lo que que, todavia, mostrou-se insuficiente diante de sua perspicácia.

Ele pigarrou.

- Se perdeu enquanto procurava o toalete? - questionou ele.

- Sim, querido, mas não consegui encontrar... - falei, tentando convencê-lo com minhas expressões faciais.

Henry, sem se deixar dissuadir pela resposta evasiva, continuou com uma pergunta direta, evidenciando sua percepção aguçada:

- Bisbilhotando, não é verdade? Não me forje mentiras, mon chéri.

- Seria isso verdadeiramente relevante? - questionei, tentando desviar o foco de minhas ações.

- Acaso não lhe ensinaram que invadir a privacidade alheia não condiz com a elegância que se espera de uma dama?

Um Amor e Três Altezas (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora