Quase Anjos - O Homem das Mil Caras

Linda Barba - III

Para desgosto de Malvina, Franka havia sido convidada para o batizado. Nico estava muito agradecido à ela por prestar seus serviços médicos aos garotos, além disso entre eles ia nascendo certa amizade. Foi Franka a primeira que viu Cielo se aproximando deles; sabia que, se algum dos garotos a visse, já não poderia cumprir a ordem que lhe haviam dado. Então se separou do grupo e avançou até ela, a agarrou e a afastou do campo visual do resto, que seguiam tirando fotos com a bebê, já batizada.

- Se sente bem? - lhe disse Franka dissimulando - Te vejo pálida. Sou médica.

- Essas pessoas... eu os conheço, acho.

- Venha, sente-se... você não está bem, querida.

Com extrema perícia e dissimulo, abriu sua bolsa e tirou seu pequeno artefato moderno que sempre levava consigo. Foi um passaporte ao desmaio.

Meia hora depois, Franka e seus homens ingressaram Cielo ao centro de operações clandestino. E sem perder um minuto, Franka informou a seu superior a descoberta exitosa de sua presa.

- O que faço com ela, Juan Cruz? - lhe perguntou no meio da conversa.

- Faça todas as verificações, e depois deixe-a onde a encontrou - ordenou seu misterioso chefe.

- Que eu a libere? - perguntou ela sem entender - Não queria capturá-la?

- Te repito: faça as avaliações e deixe-a onde a encontrou - concluiu Juan Cruz sem dar mais explicações, como sempre.

Franka fez o que lhe ordenaram: realizou os exames neurológicos em Cielo, fez um informe exaustivo, e a levou de volta ao lugar onde a havia encontrado, claro que os outros já não estavam mais ali. Como Cielo despertou na rua, pensou que havia tido outro episódio amnésico. A essas alturas, Salvador já estava muito preocupado com ela, e se tranquilizou só quando a viu chegar.

Ainda que ninguém o tenha percebido, Lleca nunca chegou na igreja onde batizaram Esperança. Quando todos estavam saindo, ele ainda estava atrasado, se barbeando. Na realidade não tinha nenhuma necessidade de se rasurar, já que ainda não tinha barba, mas persistia em fazê-lo, pois estava nessa idade em que o pré-adolescente já não se sente como as outras crianças, mas tampouco é aceito como adolescente entre os maiores. Lleca pensava que se barbeando estava mais do lado dos maiores, mas como cada vez que o fazia recebia a zombaria de todos, sempre dava um jeito para que ninguém visse. Por isso esperou que todos saíssem para se barbear tranquilo. Estava terminando de fazer sua barba imaginária quando ouviu barulhos no corredor. Então deu uma olhada e ficou perplexo ao ver que havia dentro da casa três homens desconhecidos, vestidos de preto.

Aproveitando que nessa tarde todos estavam entretidos no batizado, Franka havia mandado seus capangas para buscar o misterioso livro dos cadeados que os garotos tinham escondido ali, e que Luca havia podido ver em uma ocasião. Como Luca tinha a ordem de reportar qualquer incidente estranho, falou com Franka sobre esse curioso livro, e por isso ela mandou que o buscassem. Mas não contava com que Lleca ainda estaria na casa e se converteria, sem intenção alguma, em uma espécie de herói, pois, tentando fugir, acabou derrubando uma cadeira e o barulho alertou os capangas, que preferiram fugir a serem descobertos. No entanto, Lleca conseguiu escutá-los que procuravam pelo livro em questão.

Depois da cerimônia de batismo, o grupo regressou à casa para festejar. Nico encontrou Lleca em estado de choque e, ao ouvir seu relato, lhe perguntou confuso de que livro falava. Então os garotos o mostraram a ele e lhe contaram as estranhas circunstâncias nas quais o haviam encontrado. Nico lhes repreendeu por não tê-lo contado antes, já que assim que viu o livro reconheceu os símbolos prunios que tinha na tampa e na capa. Evidentemente esse livro estava relacionado com os mistérios de Eudamon. Os garotos também lhe contaram - e Nico pôde comprová-lo - que os cadeados eram impossíveis de abrir. Ele decidiu guardá-lo em um lugar seguro até que pudessem encontrar a maneira de abri-lo.