Eudamón - VI (Cap. siga o coelho branco)

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- A senhora não pode ser Esperança Bauer! - disse Cielo, desacreditada.

- Eu sou Esperança Bauer - repetiu a anciã.

- Mas o que... é a avó de Indi? A senhora é a avó, não? Claro, não pode ser a bebê... ou seja... é a avó, não? Ou é a neta?

- Eu sou Esperança Bauer - repetiu a anciã, e insistiu com o convite de tomar o chá, mas Cielo recusou, pois estava apressada para encontrar o mensageiro.

Quando lhe perguntou se sabia onde ele poderia estar, Esperança lhe deu uma indicação muito estranha.

- Siga o coelho branco.

- À que se refere? É uma metáfora?

- Somente siga o coelho branco.

E nesse momento Cielo viu Tic Tac passar entre as árvores do bosque, vestido inteiramente de branco, correndo nervoso, enquanto olhava a hora no relógio de bolsinho. Cielo correu atrás dele e, ao tentar alcançá-lo, não viu um buraco de gigantes dimensões e caiu nele. De repente tudo ficou escuro, e Cielo teve a sensação de cair durante centenas de metros, até terminar se desmoronando em uma habitação escura e fechada, sobre algo que amorteceu o impacto do golpe. Tanto o conselho de seguir o coelho branco, como a aparição de Tic Tac apressado correndo olhando o relógio e o buraco em que havia caído, lhe recordava a algo. Não demorou muito em compreender que tudo se parecia muito com um livro que tinha lido quando Indi a ensinou a ler: Alice no país das maravilhas. Cielo pensou que tudo era uma tosca encenação, uma recriação um tanto forçada daquela história, e começou a se impacientar. Tanto havia insistido Tic Tac para que ela se desapegasse de seu passado e seguisse seu caminho, para agora trazê-la à este lugar estranho, para brincar de Alice e terminar encerrada em uma habitação com duas portas e nenhuma maçaneta. Mas de repente o mesmo Tic Tac apareceu junto a ela, atuando francamente como se fosse o coelho da história de Lewis Carroll.

- O que é isso, relojoeiro? De que estamos brincando? Tanta despedida agora a pouco, tanto choramingo, para aparecer de novo depois de dois minutos, brincando de ser o coelho de Alice no país das maravilhas?

- Não há tempo! Não há tempo! - disse Tic Tac, e abriu uma porta e saiu por ela.

Cielo o seguiu pelo corredor, Tic Tac abriu outra porta e voltaram a aparecer ambos na habitação onde ela havia caído. Repetiram o círculo várias vezes: saíam por uma porta da habitação para terminar entrando na mesma por outra. Ela começou a se impacientar e se irritar, porque pensava que uma vez mais estava sendo vítima dos jogos estranhos de Tic Tac. Então deixou de segui-lo e viu como ele saia por uma porta e entrava pela outra, uma e outra vez, até que o deteve e lhe exigiu que parasse com esse joguinho e a levasse, de uma vez por todas, até o mensageiro para que desse a mensagem que tinha para ela.

- Ah! É isso o que você quer? - disse Tic Tac.

- Claro! - protestou ela.

- Então que falasse de uma vez. Para ir a algum lugar, primeiro tem que saber aonde quer ir.

- Não comece com suas frasezinhas - ordenou ela. - Me leve agora mesmo até o mensageiro.

Então ele abriu a segunda porta e saíram por ela. Do outro lado, apareceram outra vez no mesmo bosque onde estava Esperança Bauer. Cielo começou a se enojar.

- Está de sacanagem com minha cara? Outra vez aqui! Quero ir com o mensageiro! - gritou Cielo.

Tic Tac sorriu e apontou para Esperança. Cielo não compreendeu e repetiu:

- Me leve agora mesmo com o mensageiro!

E Tic Tac exagerou ainda mais o gesto, apontando para Esperança. Então Cielo compreendeu.

Quase Anjos - O Homem das Mil CarasOnde histórias criam vida. Descubra agora