Sem Cielo - I

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Quatro meses depois, todos começaram a cair na desesperança. Nico havia esgotado as instancias possíveis para localizar o pequeno avião; pela informação dos controladores aéreos haviam podido determinar que a aeronave na qual Malvina e Cristobal viajavam, poderia ter caído em uma zona muito densa da selva amazônica. As autoridades locais e a embaixada da Argentina no Brasil haviam colocado tudo a sua disposição. No entanto, pela densidade da área e pelo tamanho pequeno do avião, todos os esforços haviam resultado infrutíferos. A polícia local havia abandonado a busca, os funcionários da embaixada já não atendiam as ligações diárias de Nicolas. Outra vez estava sozinho, ainda que Lleca insistia em não abandoná-lo. 

Quando Nico descobriu que seu fiel amigo havia o seguido, quis faze-lo regressar imediatamente, mas Lleca se obstinou e desobedeceu sua ordem. Em duas ocasiões o havia subido no avião, e nas duas vezes ele havia regressado. Na ultima, Nico entendeu que não podia persuadi-lo e então lhe permitiu permanecer com ele. Mas a única alternativa que lhe restava era buscar a pé, se enfiando na selva, em uma zona que nem os nativos se animavam a recorrer, por ser densa e perigosa e estar repleta de animais selvagens. Além das dificuldades que implicava a busca pela selva, se somava o temor, não dito, de que tanto Cristobal como Malvina, e o bebê que ela esperava, não tivessem sobrevivido ao acidente.

Nico se comunicava diariamente com Felicitas, quem lhe fazia um reporte de como estavam as coisas na mansão. Os pequenos seguiam bem, ainda que tristes, sentindo a falta dele e de Cielo. Estava bastante preocupada com Alelí, que manifestava que em várias ocasiões havia visto Cielo; a pequena sustentava conversas imaginárias com o vento, como se falasse com ela. Felicitas entendia que essas alucinações respondiam a profunda angustia que essa grande ausência lhe provocava. Por outro lado, as obras na mansão avançavam a passo firme, e o lugar já tinha mais cara de Casa Mágica que da angustiante fundação BB. Nico também recebia informes dos cientistas aos que havia encarregado de estudar a atividade eletromagnética do relógio, com a esperança de poder detectar alguma variação que indicasse o regresso de Cielo. Mas sempre lhe diziam o mesmo: não havia modificações. O relógio parecia o que era: um objeto metálico inerte.

Depois de falar com Felicitas, Nico telefonava para o Rockland. O acampamento de verão estava chegando ao fim. Cada dia, aproximadamente na mesma hora, os cinco amigos se reuniam para esperar a ligação de Nico, com a esperança não disfarçada de que ele, enfim, lhes dissesse que havia encontrado Cristobal e Malvina. Mas dessa vez tampouco receberam boas notícias. Os jovens insistiram em se reunir com ele para ajudá-lo, mas Nico manteve sua decisão de que tentassem seguir com suas vidas e se divertirem, ainda que isso fosse algo impossível para eles. Além disso, a integração com seus novos colegas não era nada fácil: a maioria dos alunos do Rockland seguiam mantendo uma fria distancia com Mar, Tacho, Rama e Jasmim, a quem seguiam chamando de "os órfãozinhos".

Apesar dos esforços de Thiago para integrar seus dois mundos, muito não havia podido conseguir. Mar, por sua parte, tinha uma inimiga pessoal: sua própria meio-irmã, Tefi, quem a detestava e fazia todo o possível para faze-la se sentir incomoda. E como se tudo isso fosse pouco, tanto o namoro de Jasmim e Tacho, como o de Mar e Thiago, havia terminado.

Alguns meses antes, Thiago havia viajado para uma casa que seu avô paterno havia lhe deixado como herança. Ao regressar, Mar o notou distinto, triste e apagado. Finalmente, morto de culpa, Thiago lhe confessara que nessa viagem havia conhecido uma garota, a quem havia beijado. Lhe assegurou que havia sido algo fugaz e insignificante, mas para o coração desconfiado de Mar, aquela traição se tornou algo impossível de perdoar, e terminou a relação com ele.Enquanto que Tacho e Jasmim, ninguém além deles sabia o que havia acontecido. Simplesmente um dia anunciaram que haviam terminado e não deram mais explicações.Contrariamente ao esperado, quem não se via tão mal como o resto era Rama. O mais sensível dos cinco não se mostrava tão afetado pelas tragédias que os haviam golpeado, e só parecia interessado nos benefícios que o acampamento de verão lhe oferecia. Queria aproveitar cada instante nesse lugar, e estava fascinado com a variedade de garotas que passeavam diante de seus olhos, no marco ideal do verão e a praia. Os demais estavam surpresos e um tanto preocupados, já que Rama havia se tornado descontrolado e, por outro lado, muito cúmplice de Nacho, quem diretamente não conhecia os limites. Ambos não perdiam nenhuma festa, nem diziam não a nenhum trago.

Quase Anjos - O Homem das Mil CarasOnde histórias criam vida. Descubra agora