Linda Barba - IV (cap. diga com mímica)

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Já haviam se passado quase três semanas desde que Salvador havia aterrissado sobre Cielo, a quem ele chamava de "Linda". A acompanhava regularmente para ver o médico, tratando de encontrar as razões de sua amnésia que não cedia. Também haviam ido à polícia para explicar sua situação, com a esperança de que ali pudesse estar a par de alguma busca, já que supunham que a família de Linda a estaria procurando. Mas não houve nenhum avanço, razão pela qual Salvador começou a pensar na possibilidade de que ela fosse uruguaia, como ele, e por isso não era procurada por aqui.

Cada dia ele se apaixonava um pouco mais por essa mulher bela e sem passado. Não se atrevia a dizer, respeitando o estado de confusão no qual ela estava e, além disso, não descartava a possibilidade de que fosse casada ou comprometida, pelo que tentava se preservar de sentir algo especial por uma mulher que pudesse não ser para ele. Por isso decidiu se limitar só a lhe oferecer toda a ajuda possível, como à uma boa amiga.

Cielo começava a se sentir um peso para ele. Por outro lado, estar todo o dia sem ocupações não lhe fazia nenhum bem, então pensou que seria bom conseguir um trabalho. Salvador lhe falou de seu pai, um empresário muito importante que tinha várias empresas.

- O que você sabe fazer? - lhe perguntou Salvador.

- De tudo - respondeu Cielo, com simplicidade e franqueza.

Ele já havia percebido que Linda parecia ser uma pessoa muito culta e com habilidades múltiplas. Era claro que sabia idiomas, vários, já que havia notado que, quando viam filmes em inglês, ela assistia sem ler as legendas. O mesmo havia notado em duas ocasiões vendo filmes franceses e até lhe pareceu observar que tampouco lia as legendas quando viam um filme russo. Além disso, eram evidentes seus conhecimentos informáticos, já que solucionou vários problemas em seu computador, e inclusive havia consertado um defeito na caldeira da laje radiante.

No dia seguinte, a levou para conhecer seu pai, um homem muito amável e simpático; Salvador tinha uma excelente relação com ele. Horácio, que assim se chamava, não abandonava a esperança de ter seu filho trabalhando perto, no entanto respeitava seu espírito livre. Cielo gostou dele assim que o viu, e ainda que ele não perguntou muito, supôs que era a nova namorada de seu filho.

- Vejamos, Linda, o que você gostaria de fazer? - perguntou Horácio.

- O que o senhor achar melhor - disse Cielo, respeitosa.

- Não sei qual seria a melhor área para você... tem alguma especialidade?

- Linda é boa em tudo, pai, acredite - interviu Salvador.

- Seu filho me disse que o senhor tem uma imobiliária - disse Cielo.

- Bom, não exatamente. É uma construtora, entre outras coisas. Mas aqui, onde estamos, funciona a Fundação da empresa.

- E a que se dedica a Fundação?

- Aqui se ensinam diferentes disciplinas artísticas à crianças com capacidades diferentes.

O rosto de Cielo se iluminou, encantada. Horácio a convidou a recorrer a Fundação, para ver se encontrava alguma área onde ela gostaria de trabalhar.

- Muito obrigada - disse Cielo.

- De nada, Linda. Lindo nome, com certeza. Seu sobrenome?

Cielo ficou muda, tinham escolhido um nome substituto, mas não haviam pensado em um sobrenome. Ela olhou para Salvador esperando que ele pudesse ajudá-la, e ele, por trás de seu pai, lhe fez um gesto pegando em sua própria bochecha, que Cielo interpretou como se estivessem brincando de "diga com mímica".

Quase Anjos - O Homem das Mil CarasOnde histórias criam vida. Descubra agora