Capítulo 1 - Girassóis

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Felicidade. O que é ser feliz? Satisfação? Fortuna? Sucesso? Bem-estar? Contentamento? Minha mente está viajando enquanto observo o a flor de girassol em cima de minha penteadeira. Eu sou feliz?

Continuo a observar suas pétalas amarelas com pequenos tons de laranja, elas dão a sensação de calor, entusiasmo, mas por apenas alguns segundos, quando mudo meu olhar para a janela, consigo perceber nitidamente que o céu está nublado e chuvoso.

Não entendo por que Joey se importa em colocar girassóis todas as manhãs em minha penteadeira, será para tentar me fazer feliz? Talvez.

Depois que mamãe foi assassinada, nunca mais me senti a mesma, papai provavelmente sente o mesmo. Ele não gosta de me ver ou de me ouvir, acho que lembro muito a mamãe, ele não tem esse mesmo preconceito com Joey. Em parte isso me mágoa profundamente, mas noutra eu entendo. Ele quer fugir, se esconder e se preencher com qualquer outra coisa para esquecer que mamãe se foi.

Lembro-me de um dia em que houve um churrasco na casa de um amigo, eu tomava um suco e então Joey disse algo engraçado, sem conseguir me conter, cai na gargalha, papai do outro lado ouviu-me rindo. Por um segundo pensei que ele fosse chorar, mas ele pediu licença e se retirou. Talvez o que mais o machuque seja a felicidade, que ele deixou de ter.

Ainda enrolada em minha manta, com pequenos retalhos de tecidos coloridos e certa de que ninguém me obrigará a levantar, não levanto. Encaro o teto, em seguida fecho os olhos, minutos depois ouço o barulho tranquilizador da garoa fina que caí na grama. Meus olhos permanecem fechados, mas não consigo dormir novamente. Se não vou conseguir dormir, não existe motivo para faltar à escola.

Me levanto com raiva por não conseguir dormir novamente. Faltam vinte minutos para começar a primeira aula, obviamente vou me atrasar, não ligo.

Tomo um banho e enquanto a água quente escorre pelos meus cabelos ruivos, fecho os olhos e deixo a temperatura me envolver. Penso na saudade do tempo em que meu pai era um pai amoroso, sinto falta dos seus sorrisos e abraços, de seu carinho quando eu me machucava e da preocupação da mamãe quando eu não levantava quando ela mandava, dos beijos de boa noite. Agora minha mãe não está mais presente e meu pai é um homem sério e que valoriza mais do que devia o trabalho.

Saio do banho e coloco uma roupa simples, mas ao mesmo tempo que serve para ir à escola, deixo meu cabelo ruivo solto, sem graça e desço para a cozinha no andar de baixo. Acabo com meu suco de laranja em um só gole e saio pela porta segurando uma maçã. Entro em meu fusca amarelo, que anos antes permaneceu a minha mãe.

Em poucos minutos chego na escola, não tenho vergonha alguma por ter um fusca amarelo e não uma Range Rover ou um Audi. Caminho até a sala de aula com minha bolsa pendurada em minhas costas. Bato, abro a porta lentamente e peço licença ao professor. Ele faz uma careta, mas com a mão faz um gesto para mim entrar. Sorrio sentindo pares de olhos por todo meu rosto, e sentindo o mesmo corar. De cabeça abaixada sigo para o meu lugar, respiro fundo jogo minha mochila no chão e me sento, mas não sento em algo duro e frio como o esperado, sento-me em algo macio e quente.

Me levanto abruptamente, vejo em minha cadeira um rapaz. Meus olhos se encontraram com os dele, de um azul claro com raias douradas que reluzem como duas safiras, sua pele bronzeada como ouro destaca seu cabelo, de em caramelo escuro em uma bagunça organizada que faz meu coração bater acelerado. Seus ombros largos, revelam músculos bem definidos na camiseta cinza descolado. Com uma calça jeans preta e botas gastas, por baixo da mesa.

Ele sorri, mas não consigo retribuir, estou pasma.

Primeiro: o que um garoto desconhecido está fazendo sentado no meu lugar?

Segundo: por que ele parece um anjo?

Começo a suar e sinto meu rosto corar, abaixo a cabeça e mordo o lábio.

-Oi. - Ele diz com a voz aveludada.

-Er... me des-desculpe... - Consigo gaguejar.

- Você está bem? - pergunta-me.

-Desculpe... eu...

-Srta.. May, mil desculpas. Me esqueci de dizer - O professor hesita e coça a nuca - Seu lugar a partir de hoje será na frente do seu antigo, ao lado de Kailan.

A Nova EscolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora