Capítulo 5 - Admitindo erros

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Nos últimos vinte minutos que consigo perguntar à Steward sobre a coisa dos olhos, ele não me dá nenhuma informação útil. A única coisa que me disse é que iria descobrir o que aquilo significava, mas sinto que ele já sabe o que significa.

Ele fez um interrogatório comigo baseado em como ele agiu. Não tive coragem de dizer que ele me agarrou e chegou perto a me beijar, mas tenho certeza que um dia ele vai descobrir, afinal a verdade não é algo que se mantenha escondida.

Ficou apavorado com a possibilidade de ter nos machucado, o que levava direto ao meu irmão, mas ele estava dormindo com a cabeça apoiada nas teclas do computador. Fazendo trabalho, não?

Steward fica muito mais relaxado quando vê que não machucou ninguém e eu fico feliz com a tranquilidade dele, mas não entendo muito bem por que achava que poderia ter nos machucado.

Ele se senta no sofá e olha para o teto. Eu faço o mesmo. Segundos depois ele fecha os olhos, parece tão relaxado, aliviado, a tranquilidade irradiando de si. Não querendo atrapalhar, me levanto sem querer emitir qualquer ruído, mas sendo impedida por uma mão que segura meu braço.

Sento-me novamente no sofá e fecho os olhos. Sinto a mão dele segurar a minha e entrelaçamos os dedos, abro os olhos e olho para nossas mãos. Vejo um sorriso nos lábios de Steward e encosto a cabeça no sofá, tensa.

Sinto sua mão soltar meus dedos e apertar meus ombros, ele me puxa para si e eu não recuo, mesmo sabendo que devo. A tensão vai se dissipando e encosto a cabeça em seu peito, está tão aconchegante, quente e delicioso que não consigo ter forças para me afastar e ele sabe disso, enfim fecho os olhos.

Quando acordo o Sol já entra pela janela e ilumina a sala, estou coberta com a minha manta e minha cabeça está apoiada em uma almofada. Me levanto e vou para o quarto. Será que Steward foi embora?

Troco de roupa, lavo o rosto, tomo um suco e aproveito o resto do tempo para comer um mingau.
Joey por incrível que pareça está esperando no fusca, no banco do motorista. Entro e sem dizer nada e me sento.

- Bom dia! - Meu irmão diz.

- Bom dia - Falo me aconchegado no banco para descansar, mesmo sem estar cansada. Encosto minha cabeça no banco e fico apreciando a paisagem. Nesse trecho do caminho, as árvores estão crescidas e flores brotam de seus ramos, a grama é tão verde e aparenta ser tão macia que, minha vontade é rolar no local e sentir o sopro da brisa, me enrolar como um cobertor. Fecho meus olhos e me imagino no local, minha família toda junta em um piquenique, minha mãe nos braços de meus pai, Joey e eu no chão observando as nuvens e suas formas. Apontando e dizendo com o que cada uma se parece. A felicidade pairando sobre nós como um véu.

- May, chegamos - Diz Joey tocando meu ombro. Abro os olhos em um salto.

- Ah! Er...vamos - Me levanto. Seguimos para a aula de física. A Srta. Kaylle não estava na sala quando entramos. Essa era a única aula que não me sentava ao lado de Kailan e isso era imensamente ótimo.

Sento-me em meu lugar, jogo minha mochila colorida no chão, pego meu caderno de gramática e aproveito para fazer o dever que não o tinha feito. Quando a professora entra não havia conseguido acabar, mas como ela não começou a falar imediatamente, continuo. Evelyn chega dois minutos depois de a professora entrar na classe. Finalmente termino o dever e já me abaixo para pegar um livro para ler.

- Você viu o Neitan hoje? - Evelyn pergunta, olhando para a porta preocupada. Neitan faltou ontem e hoje nenhuma de nós o havia visto, o que será que aconteceu? Faço que não com a cabeça.

-Ele deve estar doen...

Antes que eu possa terminar a frase, ela já não me escuta. Olha para a porta com um sorriso largo pronta para levantar. Entendo o motivo já que olho para a porta. Neitan em todo o seu esplendor entra na classe, sua mochila verde pendurada no ombro que deixava seus olhos verdes, mais chamativos, com uma camiseta preta que, define seu peito, mesmo sendo de moletom. Espere! Eu estava olhado o peitoral do Neitan?! Reviro os olhos. Eu estava mesmo fazendo isso!

Evelyn levanta da cadeira e Neitan corre para abraça-la, ele a levanta no ar e a beija. Sem se descolarem um do outro ele a coloca na cadeira, dá um último beijo e senta-se no seu lugar. Acho que eles andam assistindo filmes demais!

Quando a aula acaba, vamos para a cantina, sento-me ao lado de Joey, que mastiga um hambúrguer.

- Você não vai comer? - Ele me pergunta, dando mais uma mordida.

- Não estou com fome - Afirmo, colocando os cotovelos na mesa e apoiando a cabeça nas mãos.

- Acho que é por que o Steward faltou! - Evelyn cochicha no ouvido de Neitan.

- Arght! Não sou surda, tá?

Me levanto e vou para o lugar mais calmo que eu conheço. Minha árvore. Sento-me na grama e me encosto na árvore. Fecho os olhos sentindo a brisa me embalar. Fico assim por alguns minutos, mas logo ouço passos vindo em minha direção. Continuo de olhos fechados, mesmo percebendo que uma pessoa está parada na minha frente, mas parece não querer me incomodar. Minutos depois sinto alguém colado ao meu lado. Abro os olhos.

- Me desculpe, não queria incomodar. Sabia que te encontraria aqui, eu preciso... conversar.

Bruscamente me levanto, tento andar rapidamente para chegar ao pátio. Sinto uma mão em meu ombro, que me impede de continuar.

- Por favor Myara - Implora.

- Não tenho nada para falar com você! - Tento me livrar do seu toque, mas ele permanece firme.

- Eu tenho o que falar com você! - Ele respira fundo e me observa com olhar de piedade.

- Kailan, eu...

- Eu eu sei que você ainda sente algo por mim, sei que eu errei, não devia ter terminado, eu... eu não sei porque eu fiz aquilo, sei que estou cercado de garot... quer dizer, May...

- Não me chame de May! - O interrompo, gritando.

- Myara, a questão é que eu te amo, eu quero que me perdoe e fique comigo! Quero seus lábios nos meus, seus dedos nos meus cabelos, marcas de unha em meu peito, suas lágrimas na minha camisa, quero você de volta!

Eu hesito. É claro que eu quero, mas não... eu não sei se consigo. A traição não é um erro, é uma escolha. Ele escolheu fazer isso comigo, ele tem que sofrer as consequências de suas escolhas. É assim que funciona.

- Acho lindo você admitir seus erros, mas não posso...

-~Isso é por causa daquele tal de Steward não é?! - Sua voz assume um toque selvagem e sombrio.

- Claro que não Kailan, nem o conheço! É que...

-É claro que é! - Ele respira fundo, para recuperar o bom senso - Será que eu posso mudar a sua opinião?

-Não, você n...

Antes que eu pudesse terminar a frase, seus lábios se colam com os meus, pressiono os lábios determinada a não retribuir o beijo. Tento empurra-lo para longe do meu corpo, mas ele permanece colado ao meu. Seus dedos passeiam pelo meu cabelo. Seus lábios descem pelo meu pescoço, eu não consigo falar, estou paralizada, mas continuo tentando empurrá-lo.

Seus lábios novamente sobem aos meus lábios. Reúno minhas forças e piso no seu pé. Empurro-o para longe de mim e limpo sua saliva de minha boca.

- Qual o seu problema? Você acha que se me beijar, eu vou te amar?

- Você fala como se não me amasse!

Fecho as mãos em punho, me seguro para não dar um passo e dar-lhe um soco.

- Você é louco!

- Sou mesmo, por você! - Ele grita para mim enquanto cambaleia.

Eu bufo e saio correndo para o banheiro. Certamente ele não tem bom senso.


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