Capítulo 3 - Bolinho de Baunilha

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De alguma maneira acabo por estar à beira da minha árvore chorando no colo de Steward.

Depois que Kailan foi embora corri para ele que me pegou no colo e me aconchegou em seu peito.

Mesmo não conhecendo o rapaz muito bem, ou bem o suficiente, confio nele, ele é meu ombro amigo agora. Kailan jamais será.

- May, quer falar sobre isso?

- Eu sei. - afirmo.

- O que você sabe?

- Que vocês, quer dizer, os homens odeiam quando tem que falar sobre outros garotos, não precisa ser gentil sobre isso, eu entendo - Sorrio de modo carinhoso e compreensivo.

Ele sorri de volta e aproxima o dedo para secar minhas lágrimas.

-May, você pode confiar em mim.

- Eu não acho.

- Como?

- Não confio tanto assim em você.

- Mas... mas, por quê? - Seu olhar expressa exatamente o que à em sua voz, insegurança e desapontamento.

- Primeiro: nem te conheço direito...

-Mas você chorou no meu colo! - Diz brincando e enrolando um cacho de cabelo nos dedos.

- Segundo: você continua me chamando de May!

Ele ri, um tipo de risada que dá até prazer de se ouvir.

- Myara, por favor, me conte o que aconteceu entre você e Kailan - Ele quebra o silêncio. Olho em seus olhos maravilhosos e dou um sorriso fraco. O carinho que ele faz com o dedo em minha bochecha, me faz sorrir e meu sorriso o incentiva a continuar.

- Steward, ainda doí de mais, eu prometo, quando a dor passar eu te explico. Você me entende?

Ele assente com a cabeça.

- Er... acho que já temos que ir...

- Isso, boa ideia - Ele me ajuda a levantar e pega minha mão para me levar até a aula de biologia.

Quando chegamos me sento em meu lugar ao lado de Kailan. Eu percebo os olhares de Kailan para mim, e ignoro, não estou com humor para isso.

No final dessa aula sigo para a cantina. Decido por pegar somente um bolinho de baunilha. O agradável aroma, não se compara ao de canela. Dou a primeira mordida e olho para os lados; a escola é dividida em castas.

Passo os olhos pelos geks, pelos populares, bad boys, líderes de torcida e infelizmente meus olhos se encontraram com os de Kailan, seus olhos verdes profundos ficam me encarando, ele veste uma calça jeans e uma jaqueta de couro. Seus cabelos loiros estão jogados para cima, encharcados de gel, como para formar um topete, seus lábios, em um sorriso fraco, mas que mesmo assim me fazem querem enterrar os meus neles, vejo um braço abraça-lo provavelmente para confortá-lo, meus olhos passeiam pelo braço até encontrar o dono.

Uma garota com cabelos compridos e negros, com um lápis delineador preto que destaca seus olhos. Sua calça é preta e sua camiseta vermelha, com um desenho de uma Lua brilhante rodeada de estrelas, sussurra no ouvido de Kailan, continuo a observar até que seus lábios descem até seu pescoço e beijos acariciam sua nuca. Kailan afasta a franja da garota para o lado, pega um dos fones da mesma e se coloca a escutar a música junto dela.

- Terra chamando May! - Ouço alguém chamar, reconheço a voz imediatamente.

- Me desculpe Evelyn...

Ela segue meu olhar até a mesa de Kailan.

- Sinto muito amiga - Ela se senta ao meu lado e abraça meus ombros - Você ainda gosta dele não é? - Pergunta com um sorriso fraco.

- Não! Talvez. Eu... é complicado... - Jogo a cabeça sobre a mesa - Ele não merece meu perdão, ele diz que se preocupa comigo, mas se realmente se preocupasse não teria me feito sofrer tanto e não estaria nos braços daquela... dela. - Digo, me referindo a garota de cabelos negros.

- Eu entendo... - Levanto a cabeça e a abraço.

- Obrigada!

Evelyn, desde meus oito anos foi minha melhor amiga, sempre me apoia e me aconselha. Está presente sempre que preciso dela. Seu rosto sempre foi delicado com traços de grande beleza. Cachos castanhos caem sobre a nuca e cobrem os ombros, seus olhos em um tom alaranjado doces na expressão, que invejam. É magra, não é alta, nem baixa. Hoje, usa moletom, amanhã usará e ontem usou, ela ama moletom. Ela se diz tímida, mas não acredito muito nisso. Afastamo-nos do abraço e a olho nos olhos.

- Você viu o Neitan hoje? - Ela me pergunta, faço que não com a cabeça e ela assente - Tem alguém vindo para cá - Disse ela sorrindo maliciosamente.

Viro para trás, Joey e Steward caminham em direção a nossa mesa. Ótimo!

- May! - Ele chama de longe - Esse é o Steward, ele é meu amigo. Acabou de se mudar da Espanha e tem um irmão gêmeo, acredita? É praticamente como nós! - Diz quando chega.

- Espere um segundo - diz Steward interrompendo - Vocês são gêmeos? - Ele olha para mim e depois para Joey, surpreso.

- Somos.

Ele assente.

- Podemos sentar aqui? - Joey pergunta.

- Claro! - Evelyn diz animada.

Dou mais uma mordida em meu bolinho. Joey se senta ao lado de Evelyn e Steward do meu, continuo dando mordidas em meu bolinho até restar apenas farelos. Lambo meus dedos repletos de cobertura. Percebo segundos depois que Steward me observa com um sorriso no rosto.

Coro e termino rapidamente de limpar as pontas dos dedos. Ele ri.

- Algum problema? - Pergunto.

-Não, é que... sua boca - Steward diz, se aproximando para... afasto a mão dele.

- Obrigado, mas eu me limpo.

Ele sorri e limpo a boca com as costas da mão. Ele aproxima os lábios de meu ouvido e seu hálito quente fez cócegas em meu pescoço.

- O canto da sua boca...

Não consigo me mexer, estou paralisada.

- Quer que eu limpe? - Ele sussurra próximo a minha boca.

Meu coração está acelerado e ao mesmo tempo congelado. Nada faz sentido. Ele parece esperar minha permissão, mas não digo nada. Afasto seu rosto do meu e dessa vez pego um guardanapo.

Ele me olha e sorri, mas vejo um toque de alguma coisa no fundo de seus olhos, que some tão logo quanto veio, sem que antes eu conseguisse identificar.

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