Parte 5

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Wednesday POV

— Bianca, ande logo, caramba! – Eu gritei para Bia da sala-de-estar, colocando minhas havaianas nos pés.

— Wed, não adianta ficar me apressando quando o que você quer é que a Enid chegue logo, então fica quieta, cara – ela gritou de volta, pontuando sua sentença com um volume bastante alto.

Lana e Ariel me olharam com os olhos arregalados, segurando seus brinquedos de praia nas mãos. Nós tínhamos combinado com Enid de ir à praia naquele dia, o primeiro domingo após o começo das férias de Lana, e as crianças estavam bastante excitadas. Claro que elas estavam animadas com a simples ideia de ir à praia, mas o que elas realmente queriam era passar um tempo com Enid. Desde que Lana a conheceu, Ariel só tinha escutado da melhor amiga o quanto sua outra mamãe era incrível e ela estava ansiosa para passar um tempo com Enid.

Eu havia me certificado com Enid algumas vezes desde sexta para saber se ela realmente estava bem com aquele plano de ir à praia. Eu não expliquei o porquê de eu achar que ela estaria desconfortável com a situação porque eu não queria aumentar seu desconforto ou estar errada sobre minhas conclusões. Eu sabia, porém, que eu não estava errada. Eu não poderia mentir e dizer que eu não tinha refletido sobre sua condição de intersexual, porque eu tinha – mais por curiosidade do que por qualquer outro motivo. Eu não sabia muito o que pensar sobre tudo, eu só esperava que um dia ela se sentisse próxima o suficiente de mim para compartilhar sobre os detalhes de sua intersexualidade. Eu sabia, no entanto, que aquilo seria pouco provável, então eu simplesmente me contentei em apenas pensar sobre o tópico. Enquanto refletia sobre, havia me dado conta que sua condição não me despertava muito mais além da curiosidade – ela não me despertava nem nojo nem excitação. Eu só... não sabia muito o que pensar.

— Mamãe, Enid chegou! – Eu escutei Ariel gritar para Bia; as duas pequenas estavam olhando para fora da janela e viram quando Enid estacionou em frente ao prédio. Eu imaginei que ela estaria nervosa com o dia de hoje, por isso eu iria tentar e fazê-la se sentir tão à vontade quanto fosse possível. Eu não sabia como eu faria aquilo, mas eu tentaria.

Duas horas depois e nós cinco estávamos chegando na praia. Enid tinha dirigido o caminho inteiro, apesar da minha oferta para que eu dirigisse por metade da rota. Eu tinha me sentado entre as duas cadeirinhas de criança no banco de trás, pois Bianca de acordo com ela ''iria se sentir sufocada'' ali no meio. Em vez disso, ela sentou-se no banco de passageiro ao lado de Enid, quem ficou em silêncio a maior parte do caminho. O máximo de palavras que ela tinha emitido eram em respostas a Bia ou as pequenas, ou quando se ofereceu para estacionar para que comprássemos alguma coisa ou perguntando a Lana se ela estava enjoada – apesar de ela ter dado a menor um remédio para evitar o enjoo assim que nos encontramos do lado de fora do meu prédio.

Quando chegamos, Ariel pegou uma das minhas mãos enquanto Lana se agarrou na mão de Enid, e elas nos puxaram em direção à praia – elas sabiam que não podiam correr a nossa frente –, deixando Bia para pegar todos os seus brinquedos na mala do carro (algo que definitivamente não a deixou feliz).

Nós colocamos nossas toalhas de praia numa distância considerável do mar; perto o suficiente para as meninas correrem até o mar para buscar água para fazerem seus castelos de areia, mas longe o suficiente para Bia conseguir reclamar da "longa caminhada" quando ela tinha que acompanhar as meninas até o mar. Nós tínhamos levado comida, bebida, filtro solar e todos pareciam estar felizes. Especialmente Enid.

No começo ela parecia muito hesitante em estar na praia. Assim que chegamos e nos estabelecemos ali, Bia tirou suas roupas, relaxando em seu biquíni assim como todas as demais pessoas na praia. Exceto eu e, claro, Enid. Eu demorei um pouco para ficar só de biquíni porque eu não queria deixar Enid desconfortável e, bem, eu não estava pronta para Enid, uma quase estranha, me ver com tão pouca roupa. Eu não tinha problemas nos desconhecidos da praia me verem desta forma porque eu jamais os veria novamente, de qualquer maneira. Mas, se quase todas as pessoas eram inibidas em relação a pelo menos uma coisa, eu era inibida em relação a praticamente tudo. Tirar a roupa na frente de um estranho era difícil, mas na maioria das vezes você superava. Tirar a roupa na frente de alguém com potencial para se tornar alguém muito importante na sua vida era intimidador, principalmente porque o que quer que eles pensassem de você importava. E eu definitivamente me importava com o que Enid pensava de mim. Uma boa parte de mim pensava que ela jamais julgaria alguém com base na aparência física, de qualquer forma, devido ao julgamento que ela própria parece fazer em relação a si própria. Mas tente falar isso às minhas inseguranças.

The donor: Wenclair [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora