The donor: Wenclair [G!P]

Parte 22

Wednesday's POV

Quase dois meses depois e eu estava deitada acordada na cama, observando Enid enquanto ela se apressava pelo meu quarto, com a escova de dente ainda em sua boca e a pasta toda borrada em seus lábios enquanto ela se inclinava para baixo para amarrar suas botas. Eu ri quando ela se levantou rápido demais e quase tropeçou em um dos muitos brinquedos que nossa filha tinha espalhado em todos os cômodos do apartamento.

— Está com pressa, hm? – Provoquei quando ela começou a andar pelo quarto de novo, sua escova de dentes não mais em sua boca e apenas um resquício de pasta no canto dos seus lábios.

— E é tudo culpa sua – Enid disse incisiva antes de vestir sua jaqueta de aviador que antes estava jogada no meu chão; nós duas estávamos impacientes demais na noite anterior para arrumar as peças de roupas em seus devidos locais, porque queríamos nos conectar de novo e rapidamente.

— Eu não ouvi você reclamando – eu provoquei de novo, observando o rosto da minha namorada aquecer em embaraço com as memórias daquela manhã e do porquê ela estava atrasada para o trabalho.

— Eu jamais poderia reclamar – Enid enfim conseguiu colocar suas botas e sua jaqueta, completando seu traje de trabalho, e agora estava pairando seu rosto sobre o meu.

— Espero mesmo que não – segurei seu rosto entre minhas mãos e dei outro beijo apaixonado naquela manhã... bem, talvez não tão apaixonado quanto os que compartilhamos mais cedo. Depois de alguns momentos em que minha excitação pareceu crescer com a insistência dos nossos lábios, Enid afastou-se de mim, seus lábios, no entanto, recusando-se a desgrudar completamente dos meus.

— Eu realmente preciso ir, baby – Enid afirmou finalmente, quando ela se afastou de mim por completo, pegando as chaves do carro no criado mudo e seus olhos solidários notando o biquinho que eu fazia.

— Tá bem.

— Amor, não faz isso.

— Hm, tá – murmurei, ainda fazendo um bico pelo fato da minha namorada não estar mais me esquentando na cama.

— Vejo você em breve, ok?

— Ok, cara mia. Tenho um bom dia no trabalho e me ligue quando tiver uma oportunidade – eu cedi, expondo meus lábios para ela me dar um beijo final antes de partir.

— Eu sempre ligo – com um último beijo, ela saiu do quarto e eu a ouvi abrindo a porta da frente com cuidando, usando as minhas chaves para sair. E então eu voltei a fazer um bico. Deitada ali na cama, grunhi com a falta do calor que vinha do corpo de Enid e eu gemi com o quanto eu já sentia falta dela.

Sorri para mim mesma ao pensar no quanto nós já agíamos de maneira doméstica. Minha namorada saindo da nossa cama para ir trabalhar; em mais ou menos uma hora eu teria que levar nossa filha para a escola e no restante do dia eu ficaria esperando Enid me ligar só para ouvir sua voz e para descobrir sobre seu dia. Éramos como pessoas casadas. Pensar assim quase explicaria o "eu amo você" que quase escapuliu dos meus lábios algumas noites antes e novamente naquela manhã. Claro que nas duas vezes foi durante o sexo, mas eu não podia evitar pensar que aqueles pensamentos, durante aqueles momentos em particular, eram os mais genuínos: quando tudo era mais intenso, cru e quase puro de tanta paixão.

Eu sabia que era muito cedo para pensar em amor e para pensar no quanto parecia certo estar naquela situação em que estivemos há poucos momentos, uma situação tão doméstica. Mas quando aqueles pensamentos surgiam, era quase impossível impedir que eles viessem à tona.

— Wed? – Virei minha cabeça para a porta do quarto, levemente entreaberta, que revelava o rosto de Bia. Sem pensar muito, eu me desloquei para meu lado da cama e levantei o cobertor para a mais nova entrar ali, no lado usualmente ocupado por Enid. – Então a olhos azuis já foi?