Força o suficiente para segurar as emoções nas pontas dos dedos em cada pisar, mesmo que machuque ou arda. A vida tem dessas, ninguém nunca mencionou que seria fácil, não vim programado com um tutorial, e mesmo que viesse será que alguém o leria para me entender?!
Acredito que não.
Linn coloca o prato de morangos a minha frente, os analiso de braços cruzados antes de um bocejar me escapar dos lábios. Não queria isso pois a ideia de deitar para dormir me parece mais lucrativa mesmo que minha mente barulhenta trabalhe a todo vapor, que meus dedos desinquietos fiquem doloridos pelos movimentos repetitivos que tenho, ou que a ansiedade do sono me ocorra em situações em que necessito permanecer lúcido do mundo; dormir sempre me pareceu uma boa opção.
Tomo a fruta ainda a fitando por longos minutos. Meus olhos marejados me impedem de distinguir a forma real depois de um tempo, então afasto as lágrimas acumuladas, sentindo o nariz arder na sequência.
Dois, três... quatro passos, o barulho do relógio na parede me deixa nervoso, me levanto descalço, caminhando até a piscina, ouvindo os murmúrios insatisfeitos de Yoongi, seus olhos escuros caem sobre os meus e a postura tão rígida se alinha para algo menos agressivo. Os passos, seus passos lentos e silenciosos, o cheiro de oceano e alguma coisa a mais, juntamente as mãos que se prendem em meus ombros, me trazendo para a realidade do agora.
— Terei que esperar o rapaz novo com seu tratamento, mas vou ficar aqui para organizar documentos .— O polegar desliza por minha bochecha. — Namjoon vai arrumar alguma coisa que irá te ajudar com as lágrimas, será mais fácil desse jeito, não é?
A voz baixa e tranquila me traz uma sensação boa, como se não fosse preciso correr para alcançar suas palavras, para entender oque está tentando explicar. Desde o acidente da Van, meu mundo parece que está em câmera lenta, como se fosse possível ouvir tudo em uma dimensão maior, de forma que sinto primeiro para depois conseguir dizer exatamente o que estou sentindo.
Os médicos por muito tempo disseram que isso ocorreu porque meu corpo foi jogado para fora da ponte, caindo sobre as águas da divisa de Yara enquanto alguns outros ficaram presos no ocidente ou morreram queimados pela explosão. Me lembro do ruído alto, a água calma, o som incômodo do lado de fora mesmo que ter batido a cabeça não tenha favorecido, certamente.
E com toda a confusão, minha mente tem processado muitas coisas ao redor, coisas essas que meus lábios não acompanham quando preciso dizer. Acidentes acontecem, mas a procedência das situações depois deles é uma causa que acaba moldando quem você acaba se tornando depois de um renascer.
Essa minha segunda chance veio fria, conturbada, dolorida e totalmente solitária. Eu a descreveria assim no começo, mesmo que, hoje em dia, conseguir dizer o'que senti não tenha ficado mais fácil.
Depressão, foi oque meu pai disse quando lhe perguntei qual era meu problema, saber sobre a depressão me deixou ainda mais afundado nos sentimentos ruins que ela traz.
Já bastasse a situação de albinismo, todos os contras.
A depressão acompanhada de alguns bons anos do coma, me fizeram parar no tempo...Minha falta do sentir não tardou em aparecer, batendo na porta pela qual atendi sem muita relutância. Adulto, criança, jovem... Me perdi em quem sou exatamente, porque não fazia mais sentido. Porém agora, tendo os olhos escuros de Yoongi na minha frente, sei que não preciso me rotular, pois sou apenas Park Jimin e isso é algo que doença ou acidente nenhum pode tirar de mim.
— É. — Respondo depois de muito tempo quieto, todavia ele esperou. —Tenho que subir então.
Ele sorri num concordar de cabeça, chamando Linn com as mãos. Ela se aproxima me ajudando com as escadas.
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Ponta dos pés- jikook
Fanfiction[EM ANDAMENTO] " Quando eu morava em Ilha Bela, uma parte minha acreditava que nasci para ser apenas um propósito na vida das pessoas. Então te encontrar e escolher ficar foi mais uma vez apostar nisto. Porém, as coisas bem que poderiam seguir meno...