🌙7: o neném não é neném

88 20 10
                                    

Apesar do dia ter se prolongado de forma leve depois do acidente envolvendo o ponta dos pés; não consegui parar de pensar no ocorrido, a maneira que pareceu assustado, qual eu o assustei. Os costumes daqui ainda parecem tão diferentes, a forma que me comunico, tão diferente... 

    Faz tempo que não sei como é, que não sinto a sensação que tinha com meus pais antes de ir a primeira vez a casa de meus avós e lá ficar, me achar em Ilha Bela.

   A sensação de não ser compreendido, lançar palavras demais pra alguém que está distraido em outro ponto, ou simplesmente, mesmo fitando suas orbes, não consegue lhe compreender pois é difícil demais pra ti expressar-se. 

Porém você está se esforçando.

   Você fala mais alto, usa palavras mais simples, tenta mudar quase tudo em busca de um entendimento que não vem.
    Sei quanto às condições do ponta dos pés, mesmo assim me senti abalado com a maneira pela qual fui interpretado. 
Talvez esteja largado demais, deveria ser mais sério? Seria mais simples se ele não tivesse chegado com a proposta de amigos, na verdade agora contesto-me se sou um profissional adequado para alguém tão jovem com o diagnóstico que Jimin tem.

  Porque ele tinha que ir com minha cara?
  Está questão não parece que quer derrapar de minha cabeça.

    Subo o último degrau do meu apartamento, expirando, a chave gira entre minhas mãos antes de eu rodar na fechadura. Mal abro a porta e dou de cara com Hoseok; arregalo os olhos pois não está com sua roupinha de dormir como espero, brincos de abacaxi rodam as orelhas, uma blusa de gola alta sem mangas bege o peitoral e de calça temos: uma moletom repleta de bolsos pretos. Um gorro simples cobre os fios, há gloos nos lábios e o perfume diz claramente que irá sair.

— Boa noite? — desejo, desviando de seu corpo pra cumprimentar flufly que dorme em um estofado. Me agacho perto dela retirando a pasta e jogando no chão mesmo, a programação de hoje é sorvete e filme, minha paciente da noite deu trabalho, foi cansativo.

— Jungkookiee... — o chamado vem cantado. Curvo as sobrancelhas olhando meu amigo por cima dos ombros. Isto não está me cheirando bem.

— O quê?

— Que tal me deixar na festa da maré? 

— Vai ser na praia? 

   Me levanto surpreso. Meu colega pondera ao notar meu interesse. Ele sorri bonito, me fitando. 

— Você pode me deixar e até ficar, vou encontrar com uns amigos. — propõe, e pondero relutante. 

— Que horas começa? Acho que vou dar uma passada, mas ficar distante da barulheira, vou só olhar o mar. 

— O mar? 

— Sim. 

   Um silêncio se estala conforme Hoseok parece confuso. Vou até a geladeira já que ele bancou o sonso. Bebo um pouco de água, até passo no rosto. Acho que irei com essa roupa mesmo. A fome não me chega então ignoro as frutas da bancada, pego as chaves do carro dando de cara com o rapaz na mesma posição parado na porta. 

— Vamos? 

— Vai assim? — reprova negando com a cabeça. — Coloque algo melhor. 

— Não vou ficar na agitação, só lá perto do mar. 

— Perto do mar... Claro, mesmo assim... Use algo melhor, não estou com pressa. 

    Não vejo algo de errado com minha roupa mas também não será sacrifício trocar. Eu deveria tomar um banho também, poupa o trabalho de chegar e ainda o fazer. Aproveito pra deixar comida reserva pra flufly, troco sua água, a caixinha de areia, e passo no chuveiro; visto uma calça simples de tecido longo na cintura, um sobretudo que costumava usar pra surfar só pra cobrir os ombros então novamente estou na sala girando as chaves do carro entre os dedos; Hoseok me olha sorrindo aberto, vem próximo elevando os calcanhares e expondo as palmas.

Ponta dos pés- jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora