🌙4: Primeiros dias realmente não são fáceis

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O quarto de ponta dos pés é muito bonito, enorme. Como parte da casa, cortinas creme são amigas de janelas grandes, um tapete felpudo cobre boa parte do assoalho, a cama é de casal com direito a pega mosca e tudo!

Minha nossa, riquinho demais.

   Retornando minha atenção ao andar do menino, cruzo os braços e observo Linn o auxiliando. Tenho que solicitar órteses para si conforme a dor fantasma for dando uma sessada, afinal, fica difícil investir em aparatos com esse empecilho.

— Você quer ficar a sós com ele? — Linn questiona ao que o garoto entra correndo para sentar-se perto da  escrivaninha.

— Não tenho opinião sobre isso, sendo sincero.

— Vou sair, se precisar me chame.

   E assim ela faz.
  Park vira-se para me encarar; carregando lápis e papel para o chão ele me chama e me coloco ao seu lado.

— Namjoon disse que os desenhos me ajudam a refletir emoções desde o acidente, então os continuei não só como trabalho mas também para as seções.

— Não só como trabalho? Meu paciente é um artista?! Não cansa de me surpreender?

    Observo sua postura agora no chão, é uma graça como pode criar energia pra o que gosta, ou como se esforça pra explicar, significa que está disposto ao que podemos o oferecer não só como profissionais mas como pessoa. Demonstro mais interesse nos seus atos conforme deixo claro que estou observando tudo, focando nos fios claros caindo sobre os olhos a medida que as ondulações batem nos cílios. Que vontade de amarrar este cabelo.

— Eu sou cantor e  dançarino. Piano e desenho são a parte, mesmo que ajude um sócio no estúdio dele. — sorri quando me entrega uma das pastas que trouxe consigo ao chão. — Esses aqui é de antes do acidente, minha mãe contava histórias mitológicas, então desenhava o'que ela dizia, acabou que tenho um pequeno atelier repleto de quadros místicos.

— Brabo. — elogio antes mesmo de ver as artes, ficando boquiaberto após abrir. Como pensei, ele manja muito. — Contando que é dançarino me deixa realmente ansioso pra te ver em prática mesmo que meu objetivo a partir de agora será diminuir uma parte do seu esforço físico.

— Consigo lidar com isso. — as mãos vão aos olhos, analisando o lugar. — Você gosta de desenhar?

— Até que sim, porém meus desenhos são aqueles bonequinhos palito, não chega nem perto dessa obra aqui não.

— Aposto que são bons bonecos palitos. — ele olha para meu rosto, então para as próprias mãos, analisando-as antes de me encarar novamente. — Boneco palitos... Bonecos palito, palitos... como fala isso?

— Bem... Há um motivo do porque eu escolhi fisioterapia e não letras licenciatura. — seguro a risada mudando de assunto, trazendo uma folha em branco pra frente de seu rosto. Eu sei lá como diz. — Seu jeito até então é doce e caloroso, senhor Park, eu acho isto.

   Respondo finalmente sua pergunta feita antes de entrarmos aqui, tentando colocar os cabelos atrás da orelha.

— Obrigado... eu acho. — o garoto deixa o lápis no chão, caminhando até a escrivaninha novamente, voltando e agachando-se atrás de meu corpo. Penso em contestar mas seus dedos chegam aos meus fios rapidamente.

   Prendo a respiração enrugando a testa.
Apenas... O quê?
   As mãos passam cuidadosas, e não demora muito para que ele volte a escrivaninha, trazendo um pequeno espelho consigo.

— Eu só fiz uma trança, se você não gostar pode tirar, é que você mexeu no cabelo e me deu vontade de mexer também.

   Observo meu reflexo unicamente pra aquiescer. Foi tão repentino que quase me assustou.

Ponta dos pés- jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora