Capítulo 1 - Novas Alunas, Novos Segredos

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Todos os olhares se voltavam para as duas garotas entrando na sala que fingiam não se dar conta.

Um choque percorreu todos os alunos da engenharia.

Finalmente, teriam garotas na sala.

—Porque só tem homem aqui? —uma delas sussurrou com um olhar de estranhamento.

Ela segurava um skate e por cima do uniforme feminino, usava um moletom roxo com capuz do qual escorria seu cabelo cumprido liso preto e com uma mecha grossa azul na frente. Ao invés da saia do uniforme, ela usava um shorts preto e uma meia branca que ia até sua coxa grossa.

Ela tinha um olhar sério e com um dos dedos cutucava o ombro da amiga que tinha os olhos quase fechados e descansava a cabeça no quadro.

“Yukka é muito preguiçosa credo!”

A dorminhoca tinha os cabelos ondulados tingidos de castanho cobrindo seu rosto quase por inteiro. Ela usava a saia cinza da J High com uma meia-calça preta cobrindo as coxas estranhamente firmes e all star branco nos pés. Por cima do suéter amarelo da escola uma blusa rosa de tricô com as mangas longas demais cobrindo seus dedos.

O professor suspirou. Mais alunos problemáticos para o departamento de engenharia era a última coisa que precisava.

Olhou para os garotos que pareciam estar em choque, um que tinha uma barba rala estava chorando.

—Garotos prestem atenção! —eles ficaram imóveis olhando para frente, porém o professor sabia bem que não era por causa dele. —Essas são as novas alunas transferidas. Meninas podem se apresentar?

A de capuz assentiu.

—É claro professor. Eu sou Han Chayoung, espero me dar bem com vocês. —falou se curvando. O capuz fazia sombra sobre os olhos, mas dava pra ver o queixo e lábios delicados.

Ela deu uma cotovelada nas costelas da outra que soltou um ronco leve e abriu os olhos em baixo da cortina de cabelo.

“Ela tava mesmo dormindo em pé?!” O professor pensou chocado.

Lentamente ela passou a mão jogando o volumoso cabelo para trás e olhou para a sala com os olhos cansados.

Nesse momento muitos prenderam a respiração. Com o cabelo na cara não dava pra ver o quanto ela era bonita, tinha uma pequena cicatriz na bochecha esquerda bem abaixo do olho, mas isso só dava mais charme ao rosto delicado dela.

—Choi Yoona. Mas me chamem de Yukka, se estiver tudo bem por vocês —falou antes de tirar a mão e deixar o cabelo cobrir o lado esquerdo do rosto novamente.

—Ó-ótimo meninas. Podem se sentar agora —o professor soltou um suspiro cansado. “Pelo menos elas não são escandalosas”.

As duas se sentaram próximas da parede, bem do lado de onde sentavam um orelhudo e o chorão da barbicha.

Chayoung tentava prestar atenção na aula, mas estava difícil com tantos olhares queimando em suas costas.

“Por que diabos esses otários não param de olhar pra gente?!” se perguntou e discretamente observou todos com seu olhar atento. Percebeu que quase todos tinham tatuagens e músculos demais pra adolescentes comuns.

“Esses malucos são gangsters mesmo! Eu sabia.”

Ela abriu o livro na página que seu professor pediu.

“Tomara que eles não atrapalhem meus objetivos...” pensou e olhou para Yukka que nem se incomodava com os olhares. A amiga estava debruçada na mesa com o cabelo espalhado pra todas as direções, tendo que tirar da frente para acompanhar a explicação do professor.

—Esses caras são muito esquisitos —Chayoung sussurrou. —Um deles tá até chorando desde a hora que a gente chegou.

Isso atraiu a curiosidade de Yukka, que com a mesma expressão impassível virou o rosto dando de cara com os olhos brilhantes e chorosos de um cara tatuado e musculoso.

“Ele é um grandalhão, mas parece ser tão sensível...” Yukka pensou.
Ainda com a cabeça deitada, ela ergueu o cabelo revelando o rosto e deu uma risadinha olhando pra ele, que só faltou infartar.

“Nossa que... Que fofo!”

—Até que é... bem engraçadinho —sussurrou de volta para a outra.

—Deixe de ser esquisita. Ele nem parece ter a nossa idade... —Disse Chayoung.

Na hora do intervalo, de um lado Chayoung tentava acordar Yukka que babava na mesa e do outro o orelhudo tentava tirar o barbudo do estado catatônico que ele se encontrava.

Quando as meninas estavam saindo (e Yukka se arrastava) Vasco levantou e tremendo chamou a atenção do amigo.

—B-Bumjae... —ele falou com uma expressão solene. —Eu quero almoçar com elas... você pode fazer alguma coisa?!

Bumjae tomou aquilo com uma missão da Burn KKnuckles

—Rapazes! —chamou os outros que também observavam as meninas e lhes disse o que fazer.

—Se é pelo Vasco... —disseram antes de se jogar na porta da sala.

—O-o quê?! —Chayoung falou chocada vendo uma pirâmide de homens, igual aquelas que as lideres de torcida fazem, bloqueando a porta.

“Se esses delinquentes bobalhões mexerem com a Yukka...” Ela pensou cerrando o punho.

—Hey meninas! Desculpem por isso, vão ver que tem muita gente estranha nessa escola —um garoto de orelhas grandes se aproximou coçando a nuca.

—Mas foi você que mand... —um dos rapazes protestou antes de ser interrompido por um olhar amedrontador do outro.

—Meu nome é Park Bumjae e esse é Lee Eun Tae, mas chamamos ele de Vasco —Ele sorriu se apresentando a pontando para o amigo que estava paralisado com os olhos brilhando.

—É um prazer conhecer vocês. —Chayoung respondeu sorrindo com falsa simpatia.

—Você também tem um apelido... —Yukka observou lançando um sorriso para Vasco.

O garoto corou igual a uma pimenta.

Ele olhou para a garota com uma determinação em seu rosto. Para muitos, poderia ser um cara homicida também.

“Vasco... vai assustar a garota!!!” Bumjae pensou nervoso.

Mas quando olhou para Yukka, ela só o olhava curiosa com a cabeça meio inclinada, parecia esperar o que ele ia dizer.

“Seja gentil e rápido...” Vasco se lembrou do conselho.
—Porfavoralmocemcomagentehojevamosprotege-las!! —Praticamente gritou e se curvou agressivamente.

“Eu não entendi merda nenhuma.” Chayoung pensou.

—Vasco... acho que não deu pra entender —Bumjae disse colocando a mão no ombro dele.

—Eu não conheço o lugar. Você... —Yukka começou em um tom leve e se interrompeu pra bocejar. —...pode me levar pra comprar achocolatado?

—SIM! Eu levo, pode deixar! —Vasco berrou de volta.

Ele foi andando na frente, dando alguns passos de volta para trás para acompanhar a garota que parecia ser lenta como uma tartaruga.

—Boa Vasco! —Os caras da Burn Knuckles falavam empolgados em quanto ele passava.

Vasco deu um joia e sorriu para eles que faziam gestos comemorando.
Yukka cobriu a boca e deu uma risada baixa.
“Será que é esse o grupo que a Chayoung tá interessada? Eles parecem legais de verdade.”

—Que povo animado... —Falou arrastada.

“Ufa, pelo menos dessa vez deu certo!” Bumjae pensou olhando para a garota. “Mas ela parece meio... ah não sei.”

—Tem espaço pra mais gente na mesa de vocês? —Chayoung perguntou segurando o skate na frente do corpo.

—Claro... —Bumjae respondeu corando levemente.

“Então esse é o cérebro por trás da Burn Knuckles... é bom que sejamos bons amigos, só espero que a Yukka não me atrapalhe” a garota pensou com um leve sorriso de lado.

Eles foram para o refeitório sob alguns olhares curiosos. A essa altura todo mundo já estava sabendo que duas garotas se transferiram para o departamento de arquitetura.

Chayoung escutava tudo o que podia e lia os lábios de quem estava longe demais com os olhos atentos.

Algumas garotas olhavam pra elas com desdém.

—Olha só pra aquela lá, o cabelo dela tá cobrindo quase toda a cara dela...

—Parece um zumbi andando! —Outra riu.

“A Yukka como zumbi é mais bonita do que metade dessas garotas juntas! Se a Himiko estivesse aqui quebraria os dentes dessas daí.”

—E aquela outra lá que trouxe um skate pra escola? Tá querendo aparecer.

—Ei vocês! —Alguém chamou a atenção. Uma garota de franja cruzou os braços olhando para os desocupados do corredor. —Vocês nem conhecem elas. Que maldade ficar falando assim!

—Aff, a Haneul fala isso, mas era a primeira a julgar os outros pela aparência...

Haneul ficou quieta ouvindo isso e suspirou.

—Não liga pra elas Haneul! Elas não sabem como você mudou. —Outra garota, de cabelo castanho e coque alto consolou.

—Tem razão Mijin! Elas não sabem de nada, vamos —Haneul falou antes de sair com o braço enganchado na amiga.

“Agora eu gosto das pessoas pelo que elas são...” ela pensou no rosto de um certo garoto da loja de conveniência.

“Quem são elas? Aliadas úteis talvez?” Chayoung pensou. “Não parece ser o caso. Mas talvez elas saibam mais do que acreditam.”

Sentaram juntos e alguns calouros se juntaram também.

—Lee Leon! Olha tem garotas na arquitetura agora! —Vasco falou alto apontando pra elas sorrindo.

—Hum? —Lee Leon, com seus cabelos curtíssimos em roupas largas ergueu a sobrancelha com raiva, deu um soco na cabeça de Vasco e saiu pisando duro.

—Será que ele está com inveja porque não tem nenhuma caloura? —Vasco se perguntou esfregando o local.

“Ela é uma garota burro!” Chayoung pensou incrédula.

“Mas já tinha uma menina na arquitetura...” Yukka refletiu estranhando o comentário de Vasco.

—Essa parece forte. Precisamos dar um jeito de avaliar ela —Chayoung sussurrou para a amiga que assentiu bebendo seu achocolatado de caixinha nem um pouco interessada.

A de capuz se levantou para pegar um suco e algumas frutas. Os garotos se ofereceram para ir pegar para ela, mas Chayoung não queria ser folgada nem que a vissem como uma aproveitadora.

—Pega alguma coisa com cafeína pra mim por favor. —Yukka pediu segurando a manga da blusa dela.

A amiga assentiu e seguiu o caminho.

Quando ela saiu, uma garota loira agarrou as orelhas de Bumjae.

—Miru para! —O garoto tirou as mãos dela.

—Não seja mau, Bumjae! —Ela falou rindo e tentando alcançar as orelhas de novo. —Se você me deixar pegar nas suas orelhas eu conto uma coisa interessante sobre aquela garota nova... ouvi que ela se chama Han Chayoung, é isso?

Bumjae arqueou as sobrancelhas e apertou os olhos.

—O lado detetive juvenil do Bumjae está vindo a tona! —Vasco falou desviando brevemente a atenção de Yukka que estava dormindo com a cara na palma da mão dele, que impedia ela de deitar no pote de arroz.

—Para com essa merda de detetive! —Bumjae xingou. —Mas como eu sou o trigésimo segundo herdeiro da família Park, eu vou negociar com você Kim Miru...

Perto da cantina, uma garota baixinha de óculos tentava passar despercebida com sua bandeja de comida. Chayoung achou que poderia perguntar a ela onde fica a máquina de café, mas antes que pudesse se aproximar um grupinho de três garotas cercou a baixinha.

—E aí Soojeong, não pensa em comer um pouco menos? —Perguntou uma delas que tinha o cabelo tingido de vermelho fazendo piada com o peso da menina.

A Garota ignorou os risos e tentou seguir seu caminho em silêncio, mas as outras a fecharam.

—Você não vai almoçar com o Hyungseok vai? —Outra perguntou em tom de ameaça.

—Não pense que é amiga dele, a única vantagem de andar contigo é seu dinheiro.

Chayoung viu a pobre garota (que aparentemente não é nada pobre) fechar os punhos. Ela se surpreendeu que seus punhos também estivessem cerrados.

“Eu não vou me comprometer. Que bom que a Yukka não tá vendo isso, ela não seguraria.” Pensou aliviada.

Antes que a novata desse as costas, ela viu a do cabelo tingido dar um tapa na bandeja da menor, fazendo a comida voar bem em cima de Soojeong.

O corpo de Chayoung se moveu antes que pudesse parar pra pensar, ela girou e chutou a bandeja fazendo ficar reta e toda a comida cair de volta nela. Então ela segurou com a mão direita Impedindo de cair na cabeça de Soojeong.

Quase todo mundo naquela parte do refeitório ficaram boquiabertos olhando para a garota. Ela foi silenciosa, então muitos não viram o que aconteceu e perguntavam curiosos aos outros.

Bumjae pode ver porque estava prestando atenção. “Ela não deixou cair um grãozinho de comida sequer?!”

—Viu? Eu falei que era verdade. —Miru falou enquanto apertava e puxava as orelhas dele. —Han Chayoung foi campeã nacional de ginástica aos quinze anos. Ela morava na cidade... qual era mesmo? Aquela dos Royals...

—Royals? O que é isso?

—É um grupo antigo da cidade que uma das minhas tias mora. Faz um tempo que eles sumiram, mas eles são tipo heróis pro povo da cidade.

“Existiu mesmo um grupo tão amado assim?” Bumjae pensou e olhou de volta para Chayoung. “Vou dar uma passada nessa cidade.”

—Desculpe garota... —O capuz fazia sombra em seus olhos, mas dava pra ver um sorriso constrangido em seus lábios. —Sua comida ficou toda misturada. Vou pegar mais com você.

—Não precisa, obrigada. —Falou.
Chayoung olhou para as garotas que implicaram com Soojeong por um tempo, seus olhos tinham um brilho sinistro e ela pareceu ensaiar ir na direção das outras. Mas então, ela parou.

“Não vale a pena. Esse negocio de punir os outros nem combina comigo.”
Então a garota foi pegar suas bebidas.
(...)

—Ufa... eu quase interferi.— Hyungseok disse segurando a mesa com força.

“Soojeong me disse que não quer depender dos outros e que eu atrapalho a socialização dela no colégio.”

Sentiu alguém colocar a mão em seu ombro.

—Hã? Jaeyeol? —Falou vendo o amigo assentir com a cabeça. —Você conhece ela?

O loiro assentiu de novo.

Jin Sung, Mijin, Haneul e Dukhwa olharam com estranheza. Todos pensando a mesma coisa: “Como raios o Hyungseok entende ele?”

—Então ela é uma atleta? —Continuou a “conversa” com Jaeyeol. —Ah a empresa do seu pai patrocinava ela!

—Por que não patrocina mais? —Jin Sung perguntou curioso. —Ela não é boa?

Jaeyeol só voltou o olhar para Chayoung que voltava para a mesa dos Burn Knuckles e deu um sorriso pequeno.

—Ela é ótima, mas aconteceram algumas coisas no ano seguinte ao que ela foi campeã e ela largou a carreira temporariamente. —Jaehye, a irmã do loiro, disse sentando do lado de Duk.

—Que tipo de coisas? —Haneul perguntou interessada.

—Bem, parece que ela foi acusada de doping. —A modelo falou colocando a mão na frente pra fazer segredo.

Todos arregalaram os olhos.

—Quem usa essas coisas não é profissional de verdade. —Jin Sung disse com um rosto nervoso.

—Você nem sabe a história toda! —Mijin repreendeu dando um pescotapa no boxeador.

Jaeyeol negava com a cabeça e as mãos incessantemente.

—O quê? A acusação era falsa? —Hyungseok traduziu novamente.

—Meu pai sempre disse que ela nunca usou nada disso e os exames obrigatórios dela nunca deram nada, mas antes de fazer os exames mais detalhados pra tirar a prova ela desistiu de competir e voltou para a casa dela por razões pessoais. Mas papai vai voltar a patrocinar ela. Esse ano a Chayoung vai voltar a competir. —Jaehye continuou.

Todos voltaram a comer, mas suas mentes pensavam várias coisas sobre a novata.

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