Capítulo 20 - Tensão e Traumas

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Yukka e Chayoung caminhavam sozinhas no horário de intervalo.

Mas agora, elas não estavam com o mesmo comportamento de antes.

Chayoung ainda andava de cabeça erguida com o skate na mão, mas seu olhar agora carregava um desafio implícito. Como se estivesse na defensiva, com muros altos em torno de si mesma.

Yukka ainda se arrastava de sono, mas por baixo dos cabelos volumosos, agora ela também tinha um olhar triste. Não com os outros, mas uma mágoa de si mesma.

Estavam evitando os garotos da sua turma.

Vasco e Bumjae tentaram falar com elas quando chegaram, as Chayoung os cortou antes que pudessem pressioná-las.

— O que a gente faz ou deixa de fazer dos portões pra fora não é da conta de vocês. —ela disse curta e grossa.

Yukka e Vasco se encaram pelo espaço entre suas mesas durante todo o primeiro tempo.

Ele estava preocupado e também tinha muitas perguntas.

Yukka queria se desculpar e entender porque ele parecia triste também.

Parecia que o espaço entre suas mesas tinha cem quilômetros.

Hyungseok, Jang Hyun e Jinsung também tentaram conseguir algumas respostas.

Todos eles ainda tinham pequenos ferimentos da noite anterior.

Exceto Chayoung que tinha quebrado três dedos da mão direita, ninguém ficou nada muito grave.

As duas também não conversaram muito entre si.

Yukka queria falar a verdade para seus novos amigos. Ela acreditava que eles eram boas pessoas. Que a entenderiam.

Chayoung preferia cortar a própria língua fora do que falar sobre si mesma.

Ela só confiava em suas amigas mais antigas porque elas viveram muitas coisas juntas. Coisas demais até mesmo para ela suportar sozinha.

Era tão difícil confiar nas pessoas.

Fazia parte de seus instintos primordiais omitir coisas sobre si mesma.

Tinha motivos para chamarem ela de Dama das Sombras. Ela vestia segredos e mistérios como se fosse o manto de escuridão da noite que a escondia.

— Eu não posso mesmo falar com ele? — Yukka perguntou torcendo os dedos das mãos.

Chayoung revirou os olhos.

— Você pode fazer o que quiser. Mas não venha choramingar para mim se eles não quiserem mais ser seus amigos.

Estava sendo cruel e sabia disso.

“Não vou permitir que ninguém magoe você Yukka. Sempre fomos só nós duas a saber tudo uma da outra.”

Talvez estivesse de mau humor também.

Em quanto estava desmaiada —por causa do golpe que sua melhor amiga lhe deu pelas costas — teve pesadelos com o que viu naquele porão vazio que obviamente já abrigara demônios famintos por sangue e violência.

Um palco onde pessoas um dia lutaram com tanta ferocidade que os vestígios de sangue continuavam ali mesmo depois de tanto tempo.

Yukka não estava falando sobre isso, mas Chayoung sabia que ela também percebeu como aquele lugar cheirava a opressão e brutalidade. Ela apenas era melhor em lidar com aquilo. Era mais forte quando precisava ser.

E aquela cela.

Haviam muitas delas lá em baixo. Todas estavam vazias, guardando apenas a presença desalentadora do sadismo perpetuado ali.

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