.capítulo VI.

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Não consegui adormecer. Passei a noite revirando na cama, pensando constantemente no que Taehyung foi fazer em Los Angeles. Meu coração palpitava, gritava mandando-me ir até lá, algo me chamava até lá.

Eram seis da manhã quando eu decidi, por fim, que iria até Los Angeles. Corri para o banheiro do meu quarto, tomando um banho rápido e ao sair vesti um macacão cinza com cumprimento um pouco acima dos joelhos, calcei uma sapatilha preta e me olhei no espelho enquanto penteava os cabelos. Era estranho... Nunca havia reparado muito nas roupas que eu usava ali, não que fossem feias, mas não parecia o meu estilo.

Talvez fosse meu estilo atual, mas definitivamente não seriam roupas que a Jennie de 2020 teria escolhido.

Peguei uma jaqueta de couro e saí na ponta dos pés, notando que a casa estava silenciosa, evidenciando que Alison ainda não havia acordado. Parei na sala pensando em como eu iria dali até Los Angeles. Um táxi ou algum meio de transporte público estava fora de cogitação.

Olhei ao redor, pronta para desistir de minha fuga quando vi, em cima da mesinha, as chaves de um carro. O carro de Alison. Sorri e fui até lá, apanhando o molho de chaves e saindo de casa. Algo queria que eu fosse até Los Angeles, que o tal problema não era nada sobre trabalho e as chaves ali ao meu alcance abriram o caminho.

Entrei no carro, agradecendo pelos veículos não mudarem muito desde do que me lembrava e dei a partida, sem me preocupar em deixar ao menos uma nota para Alison avisando onde eu estaria e sequer pegando documentos, que, na verdade, eu nem sabia onde poderiam estar.

Após longos minutos, notei que chegava à cidade das estrelas e a sensação apenas aumentava, a ansiedade em meu interior estava prestes a me dilacerar. Permanecei dirigindo pela cidade, sem saber exatamente para onde ir e sem saber como eu sabia dirigir tão bem pela cidade. — o que era o menos importante naquele momento.

Ao parar quando o semáforo ficou vermelho, bati os dedos no volante, nervosa e querendo encontrar Taehyung logo, então o choque de realidade me abateu.

Onde ele poderia estar? Onde eu poderia encontrá-lo? Como pude ser tão burra ao sair sem rumo daquela maneira?

Vasculhei o carro de Alison em busca de algo que pudesse me ajudar. Abri o porta-luvas e mexi ali, precisava de algum endereço ou qualquer coisa que me remetesse a encontrar Taehyung. Não achei o endereço, mas achei um álbum.

VIDA, esse era o título do álbum. Havia uma dedicatória para Alison "Obrigada por sempre cuidar tão bem da minha Jen." Arfei ao ler, ouvindo sua voz em minha cabeça ao ler a dedicatória. Uma buzina alta me tirou dos devaneios e eu notei que o sinal estava brilhando a luz verde. Deixei o álbum no banco ao meu lado e segui estacionei a um parque ali próximo ouvindo os gritos e risos infantis, onde peguei o álbum outra vez. O abri e vi uma página em azul com letra de fonte manuscrita "Para minha Jisoo. Obrigada por me ensinar o verdadeiro significado de querer viver e melhorar por alguém."

— Jisoo? — Sussurrei. Sentindo o ar praticamente desaparecer dos meus pulmões e os buscando com toda a força que eu tinha.

Jisoo... Ele amava a Jisoo? Se sim, qual o motivo de estar comigo? Cuidando de mim? Estaria ele com pena? Era por isso que ele evitava falar sobre o Blackpink? Gritei quando minha cabeça doeu e fechei os olhos com força, recostando a cabeça no banco e pousando minhas mãos ao lado da minha testa, tentando fazer com que a dor passasse, mas eu sabia que não passaria, eu estava sendo levada para outra lembrança.

— Jen... — Ele entrou no quarto, eu estava deitada de costas. — Jisoo já adormeceu? — Assenti e funguei. Ouvi o seu suspiro e o barulho de seus pés contra o chão enquanto se aproximava. — Jennie... Até quando você ficará assim? — Me sentei e o encarei com raiva.

— Você sabe que tenho motivos para ficar assim, Taehyung. — Ele passou a mão na testa.

— Você não tem motivo algum, isso não é nada tão grande como você está fazendo ser. — Me virei de costas para ele e ele, irritado, estalou a língua e se levantou resmungando. Eu odiava que tratassem meus sentimentos como algo supérfluo, raso. Ele não podia me culpar por esta naquele momento, ainda assim, parecia não entender e tratava como algo bobo.

Respirei fundo quando fui tirada daquelas lembranças. Ele falou algo sobre a Jisoo... O que havia entre nós três? Por que eu estava tão irritada com aquela lembrança? Eu estava tonta e enjoada devido à dor de cabeça, tive que respirar fundo para não vomitar.

Ao ser puxada das lembranças, a sensação de agonia retornou, meu peito doía e eu não sabia o motivo. Olhei ao redor, precisava ir ao hospital ou buscar alguma ajuda, até que o vi, Taehyung.

Ele estava no parque e não estava sozinho, empurrava no balanço uma criança que não deveria ter mais que seis anos.

Outra menina, um pouco maior que ela, se aproximou, eu reconheci a mulher que estava com ele... Lisa... Os dois trocaram um abraço, assim como as meninas.

Eu estava confusa. Em seu álbum havia uma dedicatória para a Jisoo e agora ele se encontrou no parque com a Lisa? Acreditar que ele se relacionou todas nós, era muito absurdo. Saí do carro vendo as meninas correrem para outro brinquedo e senti minhas pernas tremerem, mas me obriguei a ficar firme, eu precisava chegar até ele e fazer meus questionamentos. Queria saber quem eram as crianças.

Eles estavam conversando. Lisa lhe lançou um olhar reconfortante e acariciou seu braço, franzi a testa, sentindo algo queimar em meu peito e se espalhar por todo o meu corpo, deixando meu sangue a borbulhar.

Quando me aproximei, tanto Lisa quando Taehyung ficaram pálidos e chocados, pareciam desesperados e buscando alguma solução rápida para lidar comigo, sentia que qualquer palavra vinda de ambos me faria cair, mas ainda tinha aquela sensação em mim que gritava para que eu tivesse respostas.

Eu tinha muitas dúvidas. Por que no álbum dele tinha o nome da Jisoo? Por que ele estava ali tão próximo da Lisa? O que aconteceu para termos brigado seja lá qual fosse o dia naquela memória? Mas uma, uma em específico, arrancava meu ar, fazia um sentimento de anseio enorme. Uma que eu sentia precisar ser feita e, todas as outras, podiam esperar.

— Quem é aquela menina? — Meu coração pareceu que iria parar. Taehyung abriu a boca para me responder algo, mas ele não foi tão rápido quanto a voz infantil que ecoou pelo parque.

— Mamãe! — A menina correu até mim e me abraçou pela cintura, seus olhinhos brilhavam em alegria. — Você voltou! Que saudade! — Ela deitou o rosto contra meu corpo, minhas pernas vacilaram e ouvi o grito assustado da garotinha antes que tudo se tornasse escuro ao meu redor.

Memories [Taennie]Onde histórias criam vida. Descubra agora