Prólogo

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Boa leitura!

××

O par de botas chocava-se contra a calçada molhada, o guarda-chuva não era grande o suficiente para proteger o loiro que se encolhia de frio com o contato com a água gelada da chuva. As sacolas escorregavam das mãos um pouco úmidas. Apressava os passos para chegar logo ao seu apartamento. Park Jimin, vinte e cinco anos, portador de deficiência na fala desde seu nascimento. Em sua infância, sofreu o tão temido bullying e, na adolescência, sofrera ainda mais com as brincadeiras de mau gosto, como as pegadinhas e agressões verbais e físicas. Na época, os pais do Park tomaram várias providências, mas sempre conseguiam “mexer” com Jimin. Agora, com seus vinte e cinco anos e vivendo a vida sozinho, já que seus pais queriam aproveitar a velhice viajando e conhecendo outros lugares, Park residia em Seul, um tanto longe de sua terra natal, Busan. Cursava História na Kookmin University, tinha ótimos professores e uma boa convivência com os colegas de curso, porém, por mais que tudo estivesse bem, ainda faltava algo na vida do jovem.

O amor.

Jimin, por ter sofrido na infância e adolescência, acabara levando para a vida adulta as palavras das pessoas, estas que lhe diziam que nunca teria alguém para amá-lo. Era um mudo, quem iria perder tempo amando alguém como ele?

Vendo a portaria logo à frente, Jimin correu, fechando o guarda-chuva e, usando sua língua de sinais, cumprimentou o porteiro que todas as manhãs lhe dava um bolinho de arroz feito por sua esposa. Passou pelo homem e correu para o elevador, apertando o número de seu andar e se encostando na parede de metal. Estava cansado, seu dia havia sido agitado tanto na faculdade quanto no trabalho. Jimin era garçom em um barzinho que ficava a duas ruas da faculdade. Ganhava o suficiente para pagar as coisas da faculdade e as despesas de casa, possuía também uma quantia que recebia todo mês de seus pais. Ele não gostava daquilo, mas os mais velhos insistiram tanto, que não pôde negar o dinheiro. Quando o elevador parou em seu andar, Jimin fora direto para seu apartamento e, ao abrir a porta, avistou seu gato, Saturno, dormindo sobre o sofá, todo encolhido, parecendo uma bolinha de pelos. Sorrindo com aquilo, fechou a porta e deixou os sapatos molhados ali mesmo. Seguiu para a cozinha e colocou as sacolas sobre a mesa. Precisava de um banho quente urgentemente.

Quando saiu do banho, agasalhado com seu pijama grosso e quentinho, Jimin caminhou até a cozinha, onde, sentado ao lado da vasilha de ração, Saturno o aguardava. Logo tratou de pegar o pacote de ração no armário, despejando-a na vasilha e acariciando as orelhas branquinhas do bichano, este que nunca miou para si e nem mesmo para ninguém. Ainda era estranho para o Park, entretanto, ele ficava feliz por ter o gato consigo. Ambos eram amantes do silêncio e das estrelas. Saturno, sempre que via seu dono observar os pontinhos brilhantes no céu, se acomodava no colo do Park e o acompanhava em sua admiração pelas estrelas. Terminando de guardar a compra, Jimin separou os ingredientes para preparar um sanduíche para si. Saturno já havia terminado de comer sua ração e foi se acomodar no sofá, se alongando por alguns segundos e logo se deitando no lugar preferido do rapaz, que apenas observava o gatinho.

[...]

Quando terminou o lanche e limpou a pequena bagunça que fez, Jimin apagou todas as luzes, deixando apenas a do corredor acesa. Caminhou em direção ao seu quarto e Saturno vinha logo atrás, esbanjando todo seu charme para o dono, que sorria com o jeito do gato. Estando ambos acomodados na cama King Size, Jimin se encolheu em meio às cobertas, enquanto observava a chuva cair lá fora pela janela. Deixou se levar pelo cansaço e dormiu serenamente, sendo recebido e acolhido pelos sonhos, onde sua voz era presente e ele podia ser o que jamais poderia ser na vida real.

[...]

Enquanto todos de Seul já se encontravam dormindo ou até mesmo escondidos, evitando de se molhar na chuva, havia um jovem de cabelos escuros e jaqueta preta, encostado sobre a grade da ponte do rio Han, deixando-se molhar com a chuva. O jovem observava o grande rio, sentindo alguns dos pingos entrarem em contato com sua pele machucada e os lábios cortados pelo soco que levou arderem. E, estando ali perdido no tempo, uma buzinada atrás de si o trouxe ao presente.

— Jeongguk, venha para cá! Vai pegar um resfriado forte se continuar aí! — Era NamJoon gritando consigo de dentro do carro. Jeon negou, voltando seu olhar para o rio, onde ao longe podia-se ver um grande barco cargueiro. — Puta que pariu, Jeon! Entra nesse carro!

Jeongguk riu baixo, se afastando da grade. Pulou a segunda que separava a calçada de pedestre da rua e adentrou a caminhonete 4x4 do platinado, que lhe xingava baixo enquanto dava a partida no veículo e deixava a vaga para trás.

— Me diga, o que aconteceu depois que deixamos vocês no apartamento? — Indagou, parando no semáforo. Jeon se encolheu dentro de sua jaqueta, deixando seu corpo tombar para a janela.

— Não quero falar sobre isso, Nam — murmurou, vendo, ao lado da escada de uma padaria, um filhote todo encolhido, tentando se proteger do frio. Não pediu autorização alguma ao mais velho, somente abriu a porta e correu até o cachorrinho, que tremia por estar molhado e fraco. — Vou cuidar de você — declarou Jeon, pegando o filhote no colo e retornando para a caminhonete. NamJoon apenas balançou a cabeça para os lados e voltou a guiar o veículo para sua casa. — Quero ir para minha casa, hyung.

— Não, eu vou te levar para a minha casa. Jin está preocupado demais contigo.

— Não me importo, só quero ir para casa. Qualquer coisa, avise a ele que estou bem — disse, enquanto acariciava as orelhinhas peludas do filhote.

— Sabia que você é muito chato?! — Batendo com a mão no volante, NamJoon virou para fazer a rotatória e voltar para a rua do Jeon. — Ainda quero saber o que houve entre você e a Kim Yang Mi.

— É tão difícil entender que não quero falar sobre isso?! — Gritou, logo se arrependendo ao ouvir o chorinho vir do filhote. — Desculpe — sussurrou para o serzinho em seu colo. — Ela me rejeitou, hyung. Kim Yang Mi me rejeitou da pior forma possível. — O platinado, que já havia parado o carro em frente à casa do mais novo, se surpreendeu com a fala do outro. — Sabe aquele anel que eu fiquei, praticamente, cinco meses juntando dinheiro e comprar? Pois bem, ela simplesmente jogou na minha cara e disse tudo o que queria dizer nesses dois anos que viveu comigo.

— Jeongguk…

— Não quero sua pena ou apoio, só quero ficar sozinho — retrucou, já ajeitando o cachorrinho em seu colo para sair do veículo.

— Não ia dizer nada disso, Jeon. Só queria dizer para que levante essa cabeça e siga em frente. Você supera. — Sorriu, deixando suas covinhas à mostra. — Poderia, pelo menos, me dizer onde foi que arrumou tanto machucado assim? — Jeon sorriu largo, deixando a cabeça tombar para frente. Kim de imediato entendeu.

— Precisava me aliviar e acabei participando de uma luta de rua. — Riu, indo para casa deixando o mais velho, que negava com a cabeça, para trás.

[...]

Dentro da pequena casa, que conseguira alugar com ajuda de NamJoon, Jeon fora direto ao banheiro para secar o cachorrinho com o secador e uma toalha.

— Acho que seu dono ou dona deve estar bem preocupado com você. Mas não vejo coleira alguma. — Sorriu, secando, com cuidado, as orelhas caídas do filhote. — Amanhã eu vejo o jornal, talvez seu dono tenha colocado uma foto sua lá. — O filhote latiu, como se estivesse concordando com o moreno. — Pronto. Vou te deixar na sala e, enquanto isso, vou tomar um banho quente. Estou começando a sentir meu corpo ficar ruim.

[...]

De banho tomado e corpo agasalhado, Jeon ajeitou algo para ele e o cachorrinho comerem e, estando os dois de barriga cheia, foram direto para o quarto. Jeongguk ajeitou, em um canto ao lado de sua cama, um lugarzinho para o filhote dormir, este que, ao ser colocado ali, dormira rapidamente. Já Jeon ainda levou um tempo para conseguir pegar no sono, pois o que passara naquele dia e a saudade de sua irmã, Jeon Hyunjin, lhe deixava com os pensamentos a mil. E, foi pensando em sua irmã, que possuía deficiência na fala e havia se mudado para o exterior junto de seu namorado, que Jeon adormeceu.

O Silêncio do Seu Amor • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora