Alguma coisa em Charlotte a impediu de deixar Edward levá-la até sua casa. O calor que invadia seu peito por estar fazendo algo quase proibido era excitante.
Não estava proibida de ver Edward, mas tantas visitas assim sem nenhuma afirmação de compromisso era, no mínimo, estranho. E muito mal visto pela sociedade.
Lucy estava na varanda, lendo um livro com Linus nos seus pés quando a irmã chegou, sozinha.
- O que faz aqui sozinha? Onde está sr. Crane? - Perguntou Lucy sem levantar o olhar do livro por muito tempo. Linus balançou o rabinho animado ao ver Charlotte, mesmo que não a conhecesse tão bem.
- Não foi preciso que ele me trouxesse até aqui.
- Que bom, então. - Lucy fechou o livro e olhou diretamente para a irmã - Temos uma surpresa para você.
- Que surpresa? - Charlotte pulou animada.
- Não é das melhores.
Charlotte entrou correndo pela porta, deixando a irmã sozinha com o cachorrinho novamente.
- Mamãe! - ela entrou gritando. - Mamãe! Soube que há uma surpresa para mim!
Eloise levantou-se assustada da poltrona onde estava acomodada e acalmou a filha:
- Sim, Charlotte. Temos uma surpresa para você.
Charlotte viu a mãe lhe dar as costas e seguir até a cozinha, onde de lá saiu com um rapaz. Um rapaz alto, loiro e familiar. Charlotte conhecia muito bem aquele sorriso largo. Era seu irmão, Charles, que finalmente havia regressado da Grécia.
- Charles! - Charlotte pulou com os braços em volta do pescoço do irmão. - que saudade! Oh, meu Deus! - ela afastou-se um pouco dele, olhou bem seu rosto e depois, como se não tivesse demostrado felicidade um segundo antes, começou a esmurrar o peito de Charles. - Nem uma carta você mandou! Estávamos beirando o desespero!
Charles sorriu com a cabeça um pouco inclinada para o lado, como ele sempre fazia naquele seu jeito manso. Sabia que estava errado, mas beirar o desespero era exagero de Charlotte. Ele sentou-se onde antes estivera sua mãe e respirou fundo.
- Não exagere, okay, irmãzinha? Sabes bem que eu sempre volto.
- Sei, Charles. - Charlotte ajoelhou-se aos pés do irmão mais velho - mas mesmo assim, sempre sinto sua falta.
Charles curvou-se e beijou o alto da cabeça de Charlotte, que sorria abertamente.
- Agora que voltei, preciso tratar de uns assuntos com você. - ele tocou a ponta do nariz de Charlotte ao pronunciar "você". Ela encolheu o corpo, quase jogando-se no chão, então percebeu como estava desleixada e subiu para uma poltrona ao lado de Charles.
- Sobre mim? O que poderia haver de tão importante para ser conversado agora? Eu prefiro matar as saudades e ouvir suas histórias. Deve haver muitas!
- Sim, tenho muitas histórias - Charles riu, sereno. - mas precisamos conversar antes
- Uh-oh. Estou em más lençóis? Sinto isso.
Charles apoiou os cotovelos nos joelhos e entrelaçou as mãos. Apoiou o queixo nos dedos e suspirou profundamente, enquanto olhava Charlotte nos olhos. Estava quase com pena do que iria falar - já que era uma repreensão - só de ver o olhar da irmã tão alegre e esperançoso.
- Charlotte, mal cheguei e já ouvi más notícias. Sobre você, o que me entristeceu. Fico muito desapontado em saber que você recusou tão bruscamente o pedido de casamento de um visconde. E um dos mais respeitados da cidade! - Charlotte grunhiu e teve vontade de afundar chão adentro, mas Chales continuou a falar. - Você sabe o que um casamento com um visconde traria para nossa família? Será que hora alguma você pensou nas questões financeiras que enfrentará se casar-se com um qualquer? Você não quer viver mal, quer, Charlotte?
A menina o olhava com o cenho franzido. Não havia em seu rosto vestígio algum de felicidade, o que era aparente minutos antes. Aquele assunto não a deixava confortável e ela queria fugir o mais rápido possível.
O motivo pelo qual não aceitou o pedido de John Grant foi o amor. Ela não o amava. Estava certa disso como estava certa de que o céu era azul - embora as vezes ele permanecesse mais tempo cinza do que azul. Não poderia aceitar um pedido assim, que implicaria passar toda sua vida dedicando-se a alguém, quando esse alguém não a amava, nem tinha seu amor. Era inaceitável pensar naquelas condições.
- Charles... veja bem. Não irei me casar por dinheiro. Não irei visar os bens da família... Eu... eu só quero alguém que me ame e que eu ame de volta. Não vou aceitar pedidos de estranhos e ainda mais pedidos tão grosseiros. - Ela quase ajoelhou-se novamente. - você soube, Charles? Você soube como ele chegou aqui? Nem sequer me conhecia bem e já me pediu em casamento, dizendo que eu era bonita o suficiente para isso. Como se eu fosse uma fruta que ele escolhe na feira e leva para casa, só por que era verde o suficiente e não tinha caroços como as outras!
Charles bufou.
- Eu sei que ele não é dos melhores cavalheiros, Charlotte. Mas você não pensou em ninguém quando o enxotou daqui!
- Pensei em mim! - ela rebateu.
- Isso é egoísmo!
- É mesmo, Charles? Egoísmo? Querer ser feliz é egoísmo?
- Nessas condições, é! - Ele levantou-se abruptamente - Veja bem o que vou lhe dizer, Charlotte. - Pôs as mãos na cintura e olhou bem para a menina. Pela primeira vez na vida ela sentira medo do irmão mais velho, que sempre fora tão carinhoso e amável. - Você irá se casar com o senhor Grant. Você irá, sim. - ele disse rapidamente quando viu que Charlotte ia protestar. - Ele virá aqui amanhã e não há como fugir. Você agirá normalmente, como se nunca o tivesse rejeitado. - parou um minuto e tentou decifrar as feições de Charlotte. - Entendeu?
Ela concordou com um movimento de cabeça e Charles saiu da sala marchando, ainda com as mãos na altura da cintura. O que ficou com Charlotte foram as lágrimas, que mesmo sem ela notar, começaram a rolar por suas bochechas, quentes e pesadas.
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Um Casamento Adorável
Historical FictionEdward Crane está confortável em sua vida de solteiro. Charlotte Macclesfield está em sua primeira temporada, não necessariamente buscando um marido, mas aberta às possibilidades. Quando ela conhece o herdeiro da família Crane, não imagina o que p...