Edward chegou à casa de sua mãe no final da tarde. O céu quase escurecia por completo, podendo ver apenas sombras a sua frente. Estava contente pois ao menos sua irmã, Elizabeth, já estaria deitada.
Bateu a porta e esperou que o mordomo viesse. Com um breve aceno de cabeça, sem dizer uma só palavra, passou reto pelo criado e foi direto ao escritório da mãe. Conhecendo-a bem como ele conhecia, tinha certeza que ela estaria lá.
Seus passos eram largos e pesados, de modo que sua mãe logo o ouviu chegando, então estava olhando para a porta quando ele entrou.
- Edward, querido. - ela sorriu enquanto falava. Nada a deixava mais feliz do que uma visita inesperada do filho que não mais vivia com ela. - O que lhe traz aqui a essa hora?
Ele poderia dizer que não havia motivos urgentes, mas ambos saberiam que ele mentira.
- Preciso tratar de assuntos... inadiáveis.
Edna depositou a pena que estava em sua mãos na resma de papel à seu lado, e apoiou os cotovelos na mesa. Edward sentou-se à frente da mãe e ficou em silêncio por quase um minuto, antes de começar a falar.
- Bem... mãe. Preciso avisar-lhe com antecedência que posso estar saindo da cidade nos próximos dias.
- Alguma coisa urgente a ser tratada fora?
- Bem... - ele se remexeu na cadeira, sem saber como prosseguir - não precisamente.
Então Edward desfez o nó em sua garganta e contou a sua mãe tudo o que havia acontecido nos últimos dias. Desde o primeiro encontro com Charlotte, até o último. Ele não pronunciara o nome "Charlotte", apenas a chamava por "Srta. Macclesfield".
- Qual das meninas Macclesfield? - perguntou Edna, interessada. Parecia estar recordando algo.
- A mais nova. - Edward tentou esconder o sorriso - Charlotte.
- Muito bem. - Edna tamborilava os dedos na mesa - Você sabe sobre a história da família?
- Como? - Edward aguçou os ouvidos. - Que história?
- Sobre o falecido Sr. Macclesfield.
- Não. Não sei nada sobre. - Edward tentou recordar alguma conversa sobre, mas Charlotte nunca mencionara nada sobre o pai.
Edna pensou ter soltado algo desnecessário, mas como o filho parecia apaixonado por Charlotte Macclesfield, ela logo livrou-se da culpa.
- Bem, Edward... você era muito pequeno para lembrar-se de coisas como essa, - ela começou, concentrada - mas quando o Sr. Macclesfield mudou-se para onde a família mora hoje, ele não estava apenas com Eloise a tiracolo. Uma criança muito menor que você repousava em seus braços. Todos acreditaram ser o primeiro filho deles, naquele caso, era uma menininha. Mas Eloise já estava grávida àquela altura... Sua barriga era perceptível, mas eles fizeram de tudo para esconder o caso. Meses depois, duas crianças habitavam a casa. Uma menininha - a primeira - e um garotinho, Charles, que chegou depois. Eles são quase da mesma idade, e não tem como terem vindo da mesma mulher. Poucas pessoas sabem deste caso, pois Eloise começou a mentir sobre a idade da garotinha logo após a morte do marido.
Edward estava calado, ouvindo atenciosamente cada palavra. Ao fim, ele riu, nervoso.
- Mãe... isso é muito grave. A senhora tem certeza?
- Absoluta, Edward. Como tenho certeza que você, meu filho, morou nove meses em meu ventre.
Edward desabou na cadeira, relaxando o corpo. Levou a mão a testa.
- O que devemos fazer? - perguntou.
- O que devemos fazer? - repetiu Edna. - Não temos o que fazer, Ed, querido. Essa história não pode sair daqui. - ela curvou o corpo para chegar mais perto do filho - existe algo mais.
- O quê? - Edward quase se contorceu de curiosidade e agonia.
- Esta parte não tenho absoluta certeza. Mas é provável. - ela parou um minuto, lembrando-se de cada detalhe - Sobre o testamento do falecido sr. Macclesfield... existe algo sobre isso no documento. Correu um boato, na época em que o Sr. Macclesfield morreu, onde diziam que, se Eloise contar aos filhos sobre o caso, revelando que na verdade a garotinha não é sua filha, ela perde tudo o que foi do marido.
- Mas... Ela merece saber. Todos merecem saber!
- Sim, Edward... Concordo com você. Mas não fui eu quem escreveu o testamento. Não fui eu quem escondeu uma filha.
- E sobre a mãe de Lucy?
Edna suspirou profundamente.
- Sobre isso, não sabemos. Provavelmente era alguma criada do sr. Macclesfield, ou alguma mulher com quem ele se relacionou e acabou engravidando sem estarem de casamento marcado. Existem tantas possibilidades, meu filho!
- Eu ainda não entendo por que ele não queria que Lucy soubesse de quem é filha. Ela merece isso... - ele repetia para si mesmo - Pelo que ouvi... Eloise maltrata muito a filha. Quer dizer... a afilhada. Enteada?
- Acho que ele percebia isso, meu filho. Por isso preferiu que a mulher cuidasse da menina à jogá-la na rua.
Edward levantou-se de súbito.
- Preciso pensar sobre isso e descansar. - contornou a mesa, diminuindo a distância de sua mãe e a beijou no alto da cabeça. - Boa noite, mãe. Logo, logo volto com mais detalhes sobre... você sabe. - deu uma piscadela enquanto passava pela porta e a fechou atrás de si, deixando a mãe com um sorriso largo no rosto.
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Começando a explicar algumas coisas!
Ansiosa para saber o que vocês acharam. :) s2 beijos!
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Um Casamento Adorável
Historical FictionEdward Crane está confortável em sua vida de solteiro. Charlotte Macclesfield está em sua primeira temporada, não necessariamente buscando um marido, mas aberta às possibilidades. Quando ela conhece o herdeiro da família Crane, não imagina o que p...