Charlotte passava a maior parte do tempo em seu quarto. Quando não, estava com Lucy. Não queria sair em horários que sabia que o irmão estaria lá. Estava ressentida, magoada com suas atitudes. Quando soube que Charles havia regressado, sua felicidade fora enorme. Pena que ele a destruiu num só minuto.
Porém, por mais que ela tentasse não topar com ele, sabia que um dia seria inevitável.
- Charlotte? – Alguém batia na porta de seu quarto. Logo ela reconheceu a voz. Era Charles. – Posso entrar?
Ela pensou em dizer "não", mas soaria infantil demais. Ele estava com a cabeça dentro do quarto. Charlotte maneou a cabeça o suficiente para Charles entender que poderia entrar, sim.
Ele sentou-se à beira da cama.
- Charlotte, tem sido difícil falar com você nesses últimos dias.
- Hmmm. – Foi a resposta dela.
- Charlotte, por favor. Não haja como se tivesse sete anos. Já somos bem mais que isso.
Ela suspirou, impaciente, e virou-se para o irmão.
- O que quer que eu diga, Charles? Que estou amando a ideia?
- Bem... você poderia considerar.
- Considerar casar-me com alguém que eu mal conheço?
- Com quem você esperava casar? Você nunca conheceria seu noivo cem por cento.
- Eu poderia, sim. Poderia muito bem casar-me com aquele que amo.
- Quem você ama, Charlotte?
Ela percebeu que deixara escapar mais do que devia. Arregalou os olhos – o que não foi bom, pois deixou ainda mais claro o que dissera.
- Charlotte? Não minta para mim. – Charles tentava manter a calma.
- Saia do quarto, por favor. – Charlotte levantou-se e se dirigiu ao closet. Charles segurou seu braço.
- O que você esconde?
- Não tenho nada a esconder. Agora, por favor... SAIA!
Charles a soltou, mordido de raiva. Ela tombou e se segurou na parede, respirando com dificuldade. Queria chorar, deitar-se no chão e soluçar até adormecer. Queria esquecer que tinha um irmão. Não. Ela não queria esquecer do irmão. Queria esquecer aquela versão dele.
Charles bateu a porta com força, fazendo as paredes tremerem. Charlotte deixou o corpo escorregar até o chão e fez aquilo que tinha vontade: chorou. Seu corpo balançava abruptamente, devido aos soluços intensos. Ela tentava silenciar o choro, mas não tinha controle. Levantou-se com dificuldade e se olhou no espelho. Estava com o rosto vermelho, quase roxo. Umas pintinhas rosas estavam espalhadas por sua testa, devido ao esforço que fazia. Estava lutando contra o choro, mas ele vinha com mais dificuldade a cada minuto.
Não fazia muito que tinha acordado. Estava no meio da tarde, mas assim que Charlotte jogou o corpo na cama, adormeceu.
Ou ao menos foi isso que ela pensou quando acordou. Estava confusa.
Lembrou-se do que a levou ao sono e estremeceu. Não lembrava de muita coisa a não ser Charles gritando e seu corpo debatendo-se no chão, tentando controlar a vontade que crescia em seu peito.
Levou a mão ao peito. Seu coração parecia inchado, machucado. Nunca havia gostado da sensação que se espalhava em seu corpo depois do choro compulsivo, mas aquela vez pareceu pior. Imensamente pior. Como se todas as outras vezes que ela chorou fossem besteira. Ela pareceu entender o significado da palavra sofrimento.
Levantou-se, sacudindo o corpo como para se livrar daqueles sentimentos confusos. Não quis olhar-se no espelho, mas foi inevitável. O rosto estava rosado, mostrando que horas antes havia estado muito vermelho, e os olhos, inchados. Tentou melhorar a aparência para descer as escadas e ir até a varanda, mas foi quase impossível.
Seu rosto estava amassado quando ela finalmente chegou à frente de sua casa e sentou-se na cadeira de balanço. Respirou fundo, com os olhos fechados, e não sabe por quanto tempo manteve-se assim. Também não sabe por quanto tempo Edward esteve lá, lhe observando.
Abriu os olhos e deu com ele lá, em pé, com os braços cruzados no peito e o rosto sereno.
- Não quis acordá-la. – Ele disse, quase em um sussurro.
- Edward? Você... – ela piscou os olhos diversas vezes. – Você está mesmo aí?
- Acha que está delirando? – Ele riu com vontade. Descruzou os braços e chegou mais perto.
- Não, mas... minha nossa! Não acredito que estás aqui! – Ela preparou-se para se levantar, mas pensou duas vezes. – Por que vieste até aqui? Não posso ir até você. Não como normalmente faria.
- Sei disso. Sei que teremos que ser discretos, mas uma visita não fará mal algum. Para todos os outros, eu vim apenas entregar-lhe um convite.
- Um convite? – Os olhos dela brilharam.
- Sim, miss. – Ela riu com o tratamento formal. Já havia se acostumado com Edward a chamando de Charlotte. – Minha irmã, Elena, está convidando a senhorita para um chá. Este não é o primeiro, e eu aposto que não será o último.
Charlotte mexia-se, inquieta em sua cadeira. Estava morrendo de vontade de abraçar o corpo forte de Edward e deixar-se envolver em seus braços. Ele chegou mais perto, abaixando-se para que seu rosto ficasse à centímetros do dela. Olhou em todas as direções, certificando-se de que ninguém os observava.
- E não é apenas um simples chá, miss. Precisamos colocar uns.... assuntos em dia.
Charlotte corou. Edward endireitou o corpo.
- Bem, convite feito. Tenha uma boa tarde... miss.
Charlotte riu, com a certeza de que tudo ficaria bem. Depois de passar metade do dia chorando, apenas uma pequena visão de Edward Crane a deixara num mar de felicidades.
Tinha a certeza de que entregaria seu destino nas mãos daquele homem, e não se arrependeria.
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Um Casamento Adorável
Historical FictionEdward Crane está confortável em sua vida de solteiro. Charlotte Macclesfield está em sua primeira temporada, não necessariamente buscando um marido, mas aberta às possibilidades. Quando ela conhece o herdeiro da família Crane, não imagina o que p...