Crescendo numa família muito comunicativa, Edward tentava manter o contato com os parentes de toda maneira, e carta era a mais frequente. Ele gostava de escrever cartas, embora nunca admitisse. Começou muito cedo, assim que aprendeu a juntar as palavras. Depois de adulto, a prática ficou mais rara, mas mesmo assim ele ainda se sentava à escrivaninha e escrevia para alguém de tempos em tempos. Sua última correspondente fora sua irmã, Elena, que agora estava na casa de sua mãe e não necessitava receber cartas.
Desta vez, sentado à escrivaninha com a pena na mão, o papel ali tinha um destino diferente.
Era tarde da noite e ele escrevia sem parar, mas sempre amassava o bilhete recém-escrito, o transformava numa bola e atirava no chão. Não sabia bem o que pôr ali, não sabia bem o que poderia transmitir da melhor forma o que ele queria dizer. Queria passar confiança através das palavras, e se perguntou a noite inteira se isso era possível.
Depois da décima terceira tentativa, ele finalmente deixou o papel intacto e depositou-o num envelope. Com cuidado para deixa-lo bem lacrado, Edward levou o envelope consigo até o quarto e adormeceu, com a promessa de que no dia seguinte, enviar aquela carta seria a primeira coisa que ele faria.
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Charlotte estava em seu quarto, sentada em frente à escrivaninha, praticando sua escrita. Havia passado um tempo pensando sobre o que Elena e Edward lhe dissera: todos têm um talento. Ela gostava de escrever, mas não sabia se isso poderia ser chamado de talento, portanto, decidiu tentar.
Escrevia cartas para ninguém, contando sobre situações imaginadas.
Quando estava na quarta folha, foi surpreendida por alguém na porta. Era sua irmã, Lucy. Na verdade, ela não bateu na porta ou fez alguma menção de que iria entrar: apenas entrou. Correndo e ofegante.
- Oh, meu Deus! – Assustou-se. – O que é isso, Lucy?
- Chegou isto para você! – Disse Lucy, entregando-lhe um envelope muito branco. – Abra, ande!
- Quem é o remetente?
- Não tem remetente! Por isso estou assim. Ande, Charlie, abra logo isso. Foi dito que só você poderia ler.
- É mesmo? – O coração de Charlotte acelerou. Ela não se levantou da cadeira onde estava, mas pareceu que deveria deitar-se.
- Meu Deus, acho que estou tonta. – Lucy se sentou na beirada da cama.
- Como é que é? Eu recebo um envelope que parece importante e você quem fica tonta? – Charlotte riu. Não podia conter. A irmã sempre agia dessa forma, e mesmo sendo sério, era cômico.
- É como estou lhe dizendo. Agora, vamos, não vai abrir?
Charlotte finalmente rasgou o envelope e tirou de lá a carta. Virou-se para Lucy, então pôs-se a ler.
Querida Charlotte,
Peço que seja paciente quanto aos eventos recentes.
Estou com o pensamento nisso, e não lhe decepcionarei. Estarei
Pensando em ti e imaginando o momento em que, dali em diante, serão
Apenas eu e você. Estou contigo na cabeça, como sei que estará comigo.
Agora, preciso informar-lhe pessoalmente. Encontre-me no lugar de sempre,
No final da tarde do próximo dia.
Com amor, Edward Crane.
- Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! – Gritava Lucy. Charlotte continuava fitando a carta. Palavra por palavra, a fim de memorizar cada frase, cada ponto. Nunca havia recebido uma carta de amor, e mesmo que aquela tivesse vindo para marcar um encontro, não deixava de ser uma "carta de amor".
- O que você fará, Charlie?
Charlotte saiu do transe e olhou para a irmã. O sorriso ia no meio da bochecha.
- O que mais posso fazer? – Suspirou – Irei, com certeza.
Lucy pareceu ser atingida por um tiro naquele momento. Desabou na cama, com a mão no peito.
- E se o sr. Grant vier visita-la?
- Bem... acho que nessa hora passarei mal. – Ela sorriu. Um sorriso doce e travesso – Assim, de uma hora para outra.
Lucy riu.
- Eu realmente queria que o sr. Crane tivesse o status que Sr. Grant tem.
- Sei disso. Ele não é nenhum visconde, estou ciente disso, mas é tão bom quanto. Na verdade, melhor.
- Não é assim que Charles pensa.
- Não. – Charlotte suspirou novamente, com pesar. – Mas o que realmente ele sabe? A única pessoa que deve saber de algo sou eu. Eu e Edward.
- Que sorte você tem, Charlie.
- Sorte? – Charlotte fechou os olhos, rindo sem querer – o que menos tenho é sorte. – Ela sentou-se ao lado da irmã e passou o braço por cima de seus ombros, chegando-a mais perto. – O que menos temos é sorte. Eu e você. Duas azaradas.
- O que fizemos de tão mal, hein? O que poderíamos ter feito em outra vida para sermos tão azaradas agora?
- Quem sabe não fomos bruxas más, que maltratava criancinhas? – Sugeriu Lucy. Charlotte riu com vontade.
- Ou um animal muito cruel, que comia criancinhas?
- Bem, não sei o que fomos. Mas nunca, em hipótese alguma, farei algo contra criancinhas. Parece que esse tipo de pessoa não se dá bem nas próximas vidas.
Ambas riram, esquecendo por um breve momento o pesar de suas vidas.
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Um Casamento Adorável
Fiction HistoriqueEdward Crane está confortável em sua vida de solteiro. Charlotte Macclesfield está em sua primeira temporada, não necessariamente buscando um marido, mas aberta às possibilidades. Quando ela conhece o herdeiro da família Crane, não imagina o que p...