Edward manteve a testa encostada na testa de Charlotte por tempo suficiente para a menina achar estranho. Ele não abriu os olhos e parecia estar em transe. Como ela não estava acostumada com aquela atmosfera, achou melhor deixar ele conduzi-la e manteve-se calada. Eventualmente, Edward quebrou o silêncio.
- Desculpe se não me controlo. - ele começou, afastando-se finalmente de Charlotte - É inaceitável para mim estar perto da senhorita e não fazer nada para ficar mais perto.
- Eu não me queixei - a resposta foi baixinha, quase inaudível.
Edward segurou o rosto de Charlotte com as duas mãos. Seu olhar passeava pelas feições da menina, tendo o trabalho de decorar cada traço, cada marca, cada covinha, a fim de nunca mais tirá-la da cabeça. Grudou novamente seus lábios, agora num beijo rápido, que deixa a desejar.
- Ah, Charlotte. Nem em mil anos eu iria imaginar que estaria aqui, encontrando-me com uma mulher em plena luz do dia, sem ser uma de minhas irmãs ou familiares.
Charlotte riu.
- Não era permitido encontrar-se com mulheres na luz do sol?
- Para mim, não. Acho que estou violando alguma lei, até.
Ele falava com tanta leveza que era impossível para ela ficar ressentida com o comentário. Ela sabia que Edward não era dos mais santos - aliás, não era nada santo. Charlotte soube no minuto que olhou para ele, que o passado de Edward escondia muito mais do que umas viagens ao campo ou à Escócia. Edward tem jeito de libertino, todos os traços e sorrisos de um que já se meteu em muita encrenca e não perdoa senhoritas inocentes. Embora, quando questionado sobre sua crueldade com as donzelas que já cruzaram seu caminho, ele foi muito objetivo.
- Nunca me envolvi com nenhuma garota inocente. Todas as mulheres que passaram pela minha vida e fizeram parte desse jeito foram damas viúvas ou solteironas.
- Mas... E quanto a mim? - Charlotte se viu confusa.
- Você é uma exceção à regra.
- Uma exceção definitiva?
Edward pendeu a cabeça para o lado. Infelizmente - para Charlotte - de uma forma adorável.
- Nunca se sabe.
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- Mamãe, é só um cachorro!
- Tire esta coisa de perto de mim! - berrou Eloise, quase arrancando os cabelos de raiva, enquanto Linus, o doce e pequenino cachorro mordia a barra de seu vestido. Ele parecia muito destinado à destruir a peça.
- Não entendi como isso aconteceu. - Dizia Lucy, sem nenhum controle da situação - ele é tão bonzinho. Não é do seu feitio agir assim.
- Eu não sei o que esse cachorro tem! Tire-o daqui.
Lucy correu até a cozinha e roubou um pedaço de carne. Quando voltou para a sala, abanou o filé no ar e atraiu a atenção de Linus. Ele correu animado até ela e pulou no ar diversas vezes, a fim de morder o pedaço de carne. Seus dentes agarraram o bife com a mesma vontade que abocanhava antes o vestido de Eloise.
Eloise saiu marchando, subindo as escadas em direção à seu quarto, resmungando xingamentos, tanto à Lucy quanto ao pequeno Linus.
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- Mas é muito fácil! - insistia Edward. - é tudo questão de coordenação. Claramente você é uma pessoa sem controle.
- Como ousa? - Charlotte franziu os lábios - eu não sei pintar, e sou totalmente normal por isso. Nem todo mundo tem esse talento.
- Mas não é talento. É questão de se dedicar.
- Eu nunca tive tempo para me dedicar à isso.
- Por que vocês mulheres só se concentram em costurar? Não as levará a nada!
- Eu não costuro. - Charlotte riu.
- O que você faz, Charlotte? Sinceramente. - Edward apertou o queixo de Charlotte entre seu dedão e o dedo indicador, fazendo careta ao ver o nariz dela franzindo-se. - Vou desistir de tentar descobrir o seu segredo.
- Meu segredo? - Charlotte tirou a mão de Edward de seu rosto e endireitou a postura. - Não tenho segredo. Sei fazer diversas coisas.
Edward encostou-se na árvore com o joelho dobrado e o cotovelo apoiado na perna.
- Conte-me mais.
- Você é terrível. - ela riu com vontade.
- Eu? - Edward levou a mão ao peito, fingindo surpresa.
- Sim, você mesmo, senhor. - Edward fechou os olhos e jogou o corpo para trás, como quem acabou de levar um tiro. - Senhor Crane, não duvide de mim.
- Senhorita Macclesfield, eu duvido, até a senhorita me contar qual seu segredo.
- Pois bem. - Charlotte curvou o corpo para ficar mais perto dele. - Quer mesmo saber?
Edward afirmou com um gesto rápido de cabeça.
Charlotte fechou os olhos e respirou fundo. Estava com o rosto impassível, séria. Não ousou mexer um músculo até que ouviu um grunhido de Edward e quase sorriu, mas se manteve séria. Depois de alguns segundos, quase um minuto de silêncio, ela pareceu puxar o ar do fundo dos pulmões e abriu a boca para arrotar.
- E-D-W-ARD. - Foi o que saiu no final.
Ela abriu os olhos um pouco assustada e viu Edward paralisado. Depois que ele percebeu o que havia acontecido, desatou a rir. Uma risada forte, que começou com som mas no final o que restou foi seu rosto muito vermelho e sua boca aberta. Sabia-se que ele estava rindo, mas não ouvia-se mais nada. Charlotte também começou a rir muito alto, mais pela reação do rapaz do quê por sua proeza. Isso era uma coisa que ela conseguia desde criança, mas quase ninguém sabia do seu dom. Sua mãe nunca gostou desse tipo de comportamento, então, com medo, a menina deixou essa capacidade escondida.
- Que tipo - Edward começou a tossir em consequência das risadas - de criatura - mais tosse. Ele bateu palmas enquanto tossia e ria ao mesmo tempo. Depois de um tempo recuperando-se, conseguiu concluir. - Que tipo de criatura estranha é você?
- Ah! - ela sorriu sem graça - cada um tem um talento, não é mesmo? Este é o meu.
O riso de Edward se transformou num sorriso. Um sorriso que teimava em não sumir de seu rosto.
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Aí, gente! Mais um capítulo pra voces! Espero que gostem!
Leia Um Clichê Para Chamar de Meu, da mesma autora. Uma comédia romântica sobre uma escritora independente em busca do seu clichê perfeito; seja na vida real ou na ficção.
Beijos!
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Um Casamento Adorável
Ficção HistóricaEdward Crane está confortável em sua vida de solteiro. Charlotte Macclesfield está em sua primeira temporada, não necessariamente buscando um marido, mas aberta às possibilidades. Quando ela conhece o herdeiro da família Crane, não imagina o que p...