Capítulo 1: O Retorno

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Olhei para o meu reflexo na janela do ônibus enquanto a paisagem verde lá fora passava como borrões sob meus olhos. O temor estava ali. O aperto no peito se fazia presente. Eu estava voltando...

Eu tinha conseguido fugir pelo máximo de tempo que consegui, e agora precisava voltar. Meus pais precisavam de mim para ajudá-los com a empresa da família. Sem falar que no próximo ano eu começaria o ano letivo na faculdade, e esse tinha sido o acordo que eu tinha conseguido fazer, com muito custo, com meus pais para eles me deixarem passar um ano morando com meu primo.

 No começo, eles foram contra. O único filho deles, morando um ano longe, era muito para eles. Mas eu estava desesperado para fugir, então os convenci de que passar esse ano com meu primo seria proveitoso. Que seria uma experiência muito boa, já que meu primo iria se mudar para o exterior no ano seguinte para fazer seu mestrado, e esse ano seria o último ano, durante muito tempo, que eu iria vê-lo. Sem falar que em breve eu iria me mudar para o Campus da Faculdade, e essa também seria uma forma de eu aprender a ficar sozinho. 

Sabendo o quão apegado eu era ao meu primo, e levando em consideração o quanto me manter longe seria benéfico para quando eu fosse para a faculdade, eles deixaram.

E agora eu estava voltando para o lugar que fugi sem pensar duas vezes, como um covarde. Meu primo, antes de me colocar no ônibus na rodoviária, me disse que tudo iria ficar bem, que eu era forte, que conseguiria passar por isso. Eu sabia que na verdade não seria nada disso, que eu não era tão forte como ele afirmava, mas entendi que, naquele momento, ele só queria me dar palavras de encorajamento. Afinal, ele era a única pessoa que sabia a verdade sobre a minha fuga. O único a quem tive coragem de contar.

Senti meu telefone vibrar, trazendo-me de volta para a realidade. Olhei para o visor e vi uma mensagem do meu amigo Wai, perguntando se faltava muito para eu chegar. Mais mensagens dos outros meninos pipocaram no visor. Claramente, eles estavam ansiosos pela minha volta. Olhei para a janela novamente para me localizar e arfei quando percebi que estava mais perto do que gostaria. Só faltavam mais alguns minutos para chegar.

Se me perguntassem se eu estava pronto para voltar, eu negaria. Claro que negaria. Poderiam se passar 2 ou 3 anos, e eu ainda não saberia se estaria pronto o suficiente para encará-lo. Não quando tudo sobre ele ainda me afeta. Não quando o toque dele ainda se faz tão presente no meu corpo mesmo depois de tanto tempo.

Todas as vezes em que eu fechava os olhos, me concentrava, ainda conseguia ouvir os seus gemidos, o calor inebriante de seus toques, o hálito quente sobre o meu corpo. E eu odiava tudo isso. Odiava o quão fácil eu perdi. O quão facilmente me deixei levar e o quão tolo eu tinha sido.

Nós sempre fomos inimigos; a rixa no nosso bairro nunca nos permitiu sermos outra coisa. A rivalidade sempre foi nosso meio de comunicação. No entanto, há um ano atrás, nós rompemos a barreira que nos havia sido imposta desde sempre.

Corações RebeldesOnde histórias criam vida. Descubra agora