Capítulo 2 - Velhos Hábitos

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Abri a porta da sala, e minha mãe veio correndo ao meu encontro, os olhos marejados de lágrimas. Soltei a mala da mão esquerda e a envolvi em um abraço caloroso. Tudo parecia familiar, o cheiro acolhedor do lar inundando meus sentidos, e, por um momento, o nervosismo de estar de volta desvaneceu. Era reconfortante, de certa forma, estar em casa.

- Eu estava morrendo de saudades. - Disse minha mãe com os olhos marejados. - Você emagreceu. Seu primo não cuidou direito de você?

- Cuidou bem de mim, mãe. - Eu ri. - E eu também senti saudades de vocês. Falando em vocês... Cadê o Pai? - Olhei ao redor, procurando por ele.

- Seu pai ainda está na empresa, logo ele volta. Só foi resolver algumas coisas.

- E por que a senhora não está na loja? - Perguntei.

- Eu fechei mais cedo para poder cozinhar para você. Venha. Você deve estar faminto. - Lá foi ela, me arrastando para a cozinha. - Eu fiz sua comida preferida.

Enquanto comíamos, meu pai chegou e se juntou a nós. Eles estavam tão felizes com o meu retorno que senti uma dor no coração por tê-los privado de um ano ao meu lado. Percebi que minha fuga tinha sido a coisa mais ridícula. Me senti um tolo por tê-los mantido afastados de mim por tanto tempo.

O resto do almoço foi tranquilo. Eles me fizeram perguntas óbvias que eu sabia que fariam, como: 'Como foi passar o ano com meu primo?', 'Se eu tinha me adaptado à nova escola, mesmo entrando no último ano.', 'Se eu tinha conseguido fazer amizades.', 'Se eu tinha arrumado alguma namorada lá.' E, pasmem, até perguntaram se eu tinha 'engravidado alguém'. Juro que a última pergunta quase me fez cuspir o curry de volta no prato, e eu ri em negação.

Há um ano, quando informei que queria ir morar com meu primo, eles também me bombardearam com perguntas, tentando descobrir o real motivo. Lembro-me de que, na época, a pergunta 'Quem você engravidou?' também foi levantada.

Depois do almoço, peguei minha mala e subi para o meu quarto. Sempre fui muito organizado e gostava de manter todas as minhas coisas no seu devido lugar. No entanto, a visão que tinha agora era o completo oposto disso. O quarto estava limpo, mas desorganizado, e eu sabia perfeitamente o porquê disso. Como sempre fui meticuloso e ficava irritado quando algo meu estava fora do lugar. Durante todo esse ano, minha mãe deixou tudo exatamente como eu o havia deixado. Novamente, aquela dor apertou meu coração, e naquele momento, só desejava que ela não tivesse respeitado tanto minha obsessão metódica e tivesse organizado tudo. Porque tudo aquilo, espalhado, só reforçava o quanto eu estava louco para sair dali.

Naquela manhã, depois do ocorrido, só me lembro de ligar para meu primo, chorando, perguntando se poderia passar alguns dias com ele e jogar na mala as coisas que eu achava necessário levar.

Respirei fundo, afastando as memórias daquele dia para bem longe, e fui organizando os objetos espalhados em seus devidos lugares. Enquanto organizava, olhei para fora da janela e senti meu coração se apertar. Lá estava a casa dele, do outro lado da rua, mais precisamente, na rua de baixo. Agora, eu sabia com precisão qual janela era a do seu quarto.

Me despertei ao sentir o celular vibrar no meu bolso. Olhei o visor e era uma mensagem do Wai me convidando para ir ao bar onde ele trabalha hoje à noite com os meninos. Terminei de arrumar o quarto e me joguei na cama para descansar até a noite.

Cheguei no bar por volta das 21 horas, e o Wai, Louis e Safe já estavam bebendo. Eles vibraram quando me viram e vieram me cumprimentar.

- Finalmente a gangue está completa! - Disse o Wai, me abraçando. - Sentimos sua falta, cara. Eu vou atender algumas mesas e já volto.

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