Capítulo 27 - Expectativas

128 19 30
                                    

- Aquele babaca vai acabar derramando toda a bandeja de comida nele mesmo!

Sailom bufava, gesticulando com impaciência enquanto conversava na mesa do refeitório com a mesma garota que encontramos no dia em que ele me arrastou para a corrida. Sem lembrar o nome dela, dei um sorriso sem graça e me juntei a eles, totalmente alheio ao que discutiam.

Meus pensamentos inquietos permaneciam fixos na conversa entre Pat e Film. A pergunta "Se ela pedisse para voltar, ele aceitaria?" ressoava na minha mente, fazendo a ansiedade causar um frio na barriga. Lutava contra o impulso crescente de olhar para trás, pressionando meus dedos na mesa de madeira até que o sangue sob minhas unhas sumisse. Queria olhar, mas o medo do que poderia ver me impedia.

Eles entrando juntos, sorridentes e felizes no refeitório? De mãos dadas? Ou, pior ainda, como da última vez, quando Film se jogou nos braços de Pat e o beijou no meio do refeitório.

Um calafrio percorreu minha espinha. Apenas alguns dias, menos de uma semana, haviam se passado, mas a imagem dos dois como pombinhos apaixonados ainda estava vívida em minha memória.

- Você está bem? Seu rosto está muito pálido. - Perguntou a garota, observando-me atentamente.

- Eu... eu... estou bem. - Afirmei, acenando com a cabeça de forma desajeitada, tentando disfarçar meu nervosismo.

Ela franziu o rosto, analisando meu semblante mais uma vez, como se não acreditasse nas minhas palavras. Então, deu de ombros, sorriu e voltou sua atenção para Sailom, que falava coisas incompreensíveis para mim, bufando e expirando impacientemente a cada frase.

Desde que me sentei ao seu lado, ele não olhou para mim nenhuma vez. Seus olhos iam apenas da bandeja de comida à sua frente para o outro lado do refeitório, ignorando completamente a garota à sua frente e a mim. Para quem nos via de longe, parecia que estávamos tendo uma conversa animada, mas na verdade, Sailom falava praticamente sozinho, quase como se estivesse conversando consigo mesmo.

- Aquele idiota nem consegue colocar a porra do garfo na boca direito! Por que as mãos dele estão tremendo tanto? - Ele questionou, e eu e a garota nos olhamos sem entender.

- Sobre quem ele está falando? - Eu sussurrei para ela, buscando esclarecimento.

- Do Kang. - Ela respondeu sussurrando, e então colocou a mão na boca para conter o riso.

Quando ela pronunciou o nome do Kang, eu olhei na mesma direção que Sailom para tentar localizá-lo no refeitório lotado.

Dessa vez, ele não estava na mesma mesa onde costumava se sentar com Pat e Film. Estava sozinho, na mesa mais afastada possível, completamente isolado. Isso me lembrou que Napat e Film ainda conversavam. 

Suas muletas estavam apoiadas ao lado da mesa, e sua perna esquerda, imobilizada, estava sobre o banco à sua frente. Suas mãos tremiam todas as vezes que ele erguia o braço para tentar colocar comida na boca, sem sucesso, pois a maior parte do alimento caía de volta no prato devido à tremedeira. A cena era desoladora, e eu não pude deixar de sentir uma pontada de compaixão e tristeza ao vê-lo tão vulnerável e sozinho.

Os alunos que passavam pelo refeitório olhavam para ele, mas ninguém oferecia ajuda. Primeiro, porque era o Kang e todos tinham medo de se aproximar demais dele, especialmente considerando o olhar carregado de raiva que ele transmitia. Segundo, porque seu rosto estava tão cheio de hematomas que chegava a dar medo. As feridas de Pat e Sailom não eram nada comparadas às dele.

- Eu pensei que ele não viria para a faculdade hoje, já que estava no hospital ontem. - Eu comentei.

- Nossa turma tinha um trabalho para entregar hoje. - Sailom falou, não me encarando. Seus olhos não desgrudavam de Kang. - Saí mais cedo de casa e bati no apartamento dele para perguntar se ele queria que eu entregasse o trabalho dele ao professor, e aquele idiota bateu com a porta na minha cara. - Sailom bufou e bateu irritado com o punho na mesa.

Corações RebeldesOnde histórias criam vida. Descubra agora