Capítulo 19 - Brigas e Conflitos

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Quando a sexta-feira à noite chegou, respirei aliviado, mas ao mesmo tempo exausto e estressado. Já não suportava mais a insistência do Sailom, que a cada minuto me perguntava o que tinha acontecido para eu estar tão mal-humorado. Cada pergunta dele só aumentava minha irritação. Seu rosto exibia uma mistura de incredulidade e preocupação, como se ele estivesse tentando entender o que havia acontecido comigo.

Eu reclamava da comida que tinha ficado horrível, reclamava porque tinha vários trabalhos da faculdade para fazer, reclamava porque o Sailom aumentava o som da televisão, reclamava, sentado no chão, porque ele deixou farelos de biscoito caírem no sofá, no qual eu tinha prometido a mim mesmo que nunca mais me sentaria. E ainda reclamava porque o grupo da gangue não parava de enviar notificações no meu celular.

Eu xingava, reclamava e bufava constantemente, e quando ele começou a falar sobre o assunto que passava na televisão, ao qual eu não estava prestando atenção, ele me olhou incrédulo e engoliu em seco quando gritei para ele calar a boca e ficar em silêncio.  

Foi nesse instante que me dei conta de como minha irritação tinha ultrapassado os limites. Foi quando percebi que estava descontando minha raiva e frustração na pessoa errada. Sailom não tinha culpa pelo meu mau humor.

Não foi ele quem foi atrás de mim ontem quando saí quase correndo do refeitório. Não foi ele quem me pressionou para falar algo durante as aulas, não foi ele quem pediu desculpas que eu sabia serem apenas da boca para fora. E não foi ele quem, naquela manhã de sexta-feira, me seguiu por toda a faculdade e repetiu todo o processo da tarde de quinta-feira. Não foi ele quem me iludiu.

- Sailom... Me desculpa. - Respirei fundo e disse, decepcionado comigo mesmo.

- Tudo bem. Todo mundo tem dias ruins. - Ele falou, abraçando a almofada enquanto se encolhia no sofá.

Uma pontada de decepção me atingiu quando meus olhos encontraram os dele e percebi que o havia magoado.

- Meus amigos vão se encontrar amanhã. Você gostaria de ir junto? - Perguntei sem jeito.

- Você está me convidando para sair? - Ele me olhou surpreso. - Pran, o que está acontecendo com você?

- Só acho que preciso sair um pouco para desestressar. - Disse estas palavras em voz alta, dirigidas a mim mesmo, enquanto encarava os livros na mesa de centro, sem um pingo de empolgação na voz.  

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No sábado à noite, quando Sailom e eu chegamos ao bar, eu ainda estava estressado, mas me sentia tranquilo porque havia conseguido me controlar durante todo o dia e não tinha descontado mais minha raiva nele. Além disso, estava animado para encontrar meus amigos da gangue, que não via desde que as aulas na faculdade tinham começado.

Sentia falta deles e, por mais que conversássemos quase todos os dias pelo celular, era diferente. Eu sentia falta da energia caótica que pairava ao redor deles, das risadas, das conversas idiotas, da proximidade diária. Não tive tempo suficiente para matar a saudade que tinha sentido deles desde que voltei para a cidade.

E como fomos para faculdades diferentes, não sobrava muito tempo para nos encontrarmos. Me sentia triste e magoado por ter me privado do último ano que tínhamos juntos. Lamentava profundamente por ter perdido tantos momentos preciosos ao lado deles. Desde as noites de estudo até as aventuras improvisadas e as risadas compartilhadas.

Fomos os primeiros a chegar, pois Louis e Safe estudavam em outra cidade e haviam mandado mensagem informando que estavam presos no engarrafamento. Wai, que trabalhava no bar, tinha tirado o dia de folga para nos encontrar, mas também estava atrasado.

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