Capítulo 5 - Recordações - Parte 1

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1 ANO ATRÁS -

Me olhei no espelho pela segunda vez naquela noite enquanto me arrumava. Eu ainda não entendia por que diabos tinha aceitado o convite da Pa. Fui derrotado pela sua insistência em comparecer à sua festa. Devo confessar que ela foi tão insistente que, no final, não consegui mais negar. E agora, aqui estou eu, me encarando no espelho, arrependido por ter aceitado.

Não entendia o porquê dela demonstrar gostar tanto de mim, afinal, o seu irmão me odiava e o que nós sentíamos um pelo outro era recíproco. No entanto, com a Pa, a minha relação era totalmente diferente. Desde o dia em que a ajudei depois de encontrá-la na volta da escola, quando éramos crianças, chorando com o joelho ralado, ela sempre me via como um amigo. Naquele dia, depois de consolá-la e cuidar de seus machucados, com certeza, mudei a percepção dela sobre tudo que o seu irmão falava sobre mim. Depois disso, sempre que nos encontrávamos, ela me cumprimentava, puxava assunto comigo e, às vezes, escondida do Napat, vinha até minha casa para brincar.

A mensagem da Pa é clara: ["Cadê você? Não vai dizer que mudou de ideia. Estou te esperando e não vou aceitar um 'não' como resposta!"] Olhei para a tela do celular; ela era tão teimosa.

Respirei fundo e saí do quarto, dizendo a mim mesmo que iria lá, desejar feliz aniversário para ela e ir embora. Não ficaria por muito tempo, pois eu e o Napat no mesmo cômodo nunca dariam certo. Provavelmente, ele já consideraria ofensivo me ver entrar em sua casa, e eu não queria ser a pessoa responsável por arruinar a festa dela.

Saí de casa e desci a rua. Meus amigos me chamariam de maluco se soubessem aonde eu estava prestes a entrar. Lógico que eu não tinha falado com eles sobre o fato da Pa ter me convidado, e por mim eles jamais saberiam.

Cheguei em frente à casa e escutei o barulho de música e pessoas falando vindo de dentro. Senti meu coração acelerar; eu estava adentrando em terreno inimigo. Juntei toda e qualquer coragem que eu tinha naquele momento e entrei.

A casa estava cheia, a música ficou mais alta. Pessoas dançavam e bebiam na pista de dança improvisada na sala. A Pa tinha aproveitado que estávamos nas férias de final de ano e o fato dos seus pais terem viajado para dar aquela festa. Vendo agora, percebi que ela provavelmente tinha planejado aquilo por um bom tempo, porque toda a decoração do lugar parecia ter sido muito bem pensada em tema neon. A casa era grande e clássica, totalmente diferente do que eu havia imaginado com base nos estilos de roupas do Napat e da Pa.

Caminhei mais alguns passos procurando por ela, tinham pessoas demais ali. Ela era tão popular assim para conhecer tanta gente? Me perguntei mentalmente enquanto ia desviando das pessoas, procurando passagem.

- Covinhas! Eu não imaginei que você teria tanto culhão para aparecer aqui. - Quase dei um pulo quando ouvi aquela voz vinda por trás, perto demais do meu ouvido.

- Eu não quero brigar, Napat. - Me virei para encará-lo.

- Seria maravilhoso poder te dar uns socos, mas prometi à pirralha que não iria te bater hoje. - Ele fez cara de desapontado. - Mas foi bom. - Ele abriu um sorriso. - Em troca, vou ficar um mês sem lavar minhas roupas.

- Eu não quero saber disso. - Falei sério e dei as costas para ele, enquanto o ouvia gritar que a Pa estava na cozinha.

O que tinha acontecido com ele? O que exatamente ele estava armando? Ele não me deixaria entrar em sua casa de boa se não estivesse planejando alguma coisa.

Andei mais um pouco perdido porque, sinceramente, eu não sabia onde ficava a cozinha. E, para a minha surpresa, a Pa realmente estava lá. Quando me viu, gritou:

- Pran! Você veio! Que surpresa! Não acredito que você está aqui!

- Lógico! Você quase me ameaçou de morte. - Eu ri a abraçando.

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