Capítulo 23 - Wai

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- O que ele está fazendo aqui? - Assim que atravessou a porta, Wai questionou abruptamente, parecendo ignorar por completo a presença de Sailom e seguindo adiante sem sequer lançar-lhe um olhar.

A entrada repentina de Wai no apartamento me deixou momentaneamente atordoado, sem capacidade imediata de reação. 

Por alguns preciosos segundos, permaneci imóvel no sofá, totalmente concentrado em cuidar dos ferimentos de Pat, segurando o algodão com firmeza.

Só quando Pat franziu o rosto, tensionou o maxilar e se levantou do sofá com um movimento brusco, abandonando a expressão dócil e manhosa que exibia segundos atrás, percebi a enrascada iminente. 

Seus olhos, antes ternos, agora faiscavam com uma determinação sombria, indicando uma mudança de humor que eu preferiria não presenciar. Um calafrio percorreu minha espinha enquanto eu me preparava para o que estava por vir.

Wai gesticulava freneticamente, suas palavras se perdiam em meio a sala, enquanto seu dedo apontava acusadoramente na direção de mim e de Napat. 

Tive que me esforçar para decifrar suas palavras, cada gesto alimentando a tensão que pairava no ar. O coração acelerado, a mente lutando para processar o que estava acontecendo, enquanto a voz de Wai ecoava no apartamento, impiedosa e incisiva.

O clima descontraído que pairava há poucos instantes se dissipara por completo.

- Estou mandando mensagem para você desde ontem à noite para saber o que diabos aconteceu e por que você está ajudando esse... babaca. - Wai cuspiu as palavras com desdém. - Estava preocupado com você, Pran. E chego aqui para encontrar vocês dois sentados no sofá como se fossem melhores amigos? - Ele perguntou indignado.

- Wai, por favor, acalme-se. - Murmurei, com um tom de apreensão na voz.

- Calma? Eu exijo saber o que esse filho da puta está fazendo no seu apartamento!

- Quem é o filho da puta? - Pat deu um passo na direção de Wai, o confrontando, e eu tentei segurar seu braço, com medo do que ele pudesse fazer.

- O que foi? - Wai o confrontou. - Vai me bater de novo como fez da última vez? Vai deixar meu olho roxo novamente? Naquele dia, você me pegou de surpresa, mas agora estou preparado para deixar esse seu rosto ainda mais desfigurado do que já está.

Meus olhos oscilavam entre Pat e Wai, sentindo o medo crescer em mim, temendo que a qualquer momento iniciassem uma briga no meio do apartamento. Porém, o desespero maior que sentia, que rondava dentro de mim, era o receio de que um dos dois me confrontasse e me obrigasse a escolher um lado.

Eu conhecia muito bem o Wai. Afinal, ele é meu melhor amigo, aquele que esteve ao meu lado desde o início. 

Em todas as vezes em que Pat e sua gangue nos cercavam, era sempre ele quem me dava cobertura e muitas vezes apanhava em meu lugar. 

Ele sempre me defendia. Agora, eu me encontrava em uma situação em que não sabia se conseguiria retribuir toda a sua lealdade. 

Eu tinha que me manter o mais imparcial possível, e em minha mente eu questionava se conseguiria, de fato, ser imparcial.

Afinal, era meu melhor amigo e o amor da minha vida, que um dia foi nosso maior inimigo, que brigavam.

Eu não sabia o que de fato tinha acontecido entre eles depois que fui embora. Wai havia me contado no dia em que nos encontramos no centro da cidade, após Pat entrar na loja da minha mãe com sua, até então, namorada e me irritar. 

Wai havia me contado o quanto Pat o pegou de surpresa e o confrontou. Ele me contou sobre todo o descontrole de Napat enquanto o batia, e eu soube, naquele dia, que o ódio, a mágoa e o rancor de Wai haviam aumentado em relação a Pat. Seus olhos exalavam uma fúria que eu nunca tinha visto antes.

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