Capítulo 29 - Mudança

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Pov. Pran (Covinhas)  

O apartamento estava estranhamente silencioso e sufocante. Eu demorava mais do que o normal para terminar os deveres da faculdade, mesmo sem ninguém para me interromper a cada segundo. 

Não havia o som do tecido sendo arrastado no sofá, nenhuma respiração pesada em meus ouvidos, e nenhum resmungo me apressando para terminar a lição.

Tudo estava tão quieto que eu me sentia inquieto, ansioso e entediado. Com uma mão, eu apoiava minha cabeça sobre a mesa de centro e, com a outra, segurava o lápis. Eu já tinha perdido a noção de quantas vezes li e reli a mesma questão sem compreender de fato o que estava escrito nela.

O tilintar do meu relógio de pulso soava seu tic-tac, e as horas se arrastavam lentamente.

De vez em quando, eu encarava meu celular apoiado na mesa. Nenhuma notificação. A falta de qualquer surpresa naquela tarde quase me deixava em agonia. A única coisa que aliviava meus pensamentos era o som do vento, que, de tempos em tempos, balançava a cortina da janela.

Eu sentia falta dele: das suas gargalhadas, do seu mau humor, da sua cara emburrada e da sua impaciência que, em algum momento da minha vida, me irritava, e agora esse sentimento parecia distante, quase esquecido. Não era como se ele não continuasse a me irritar, mas agora era diferente. Tudo havia mudado.

Hoje fazia uma semana desde o dia em que ele havia me arrastado pelo corredor da faculdade e me levado na garupa de sua moto até o parque. Uma semana desde que demos as mãos pela primeira vez. Uma semana desde que conversamos de maneira sensata pela primeira vez. A primeira vez da sua confissão e da minha coragem. Uma semana desde que nos declaramos e decidimos ser honestos com nós mesmos.

O Pran de um ano atrás jamais contabilizaria esses dias, porque, para ele, seria impossível permanecer ao lado de Napat por tanto tempo sem que um quisesse matar o outro. Era impossível porque ele não tinha esperança e acreditava ter sido usado. Era impossível porque aquela semana era um sonho impossível que ele jamais sonhou vivenciar.

Enquanto o tilintar do meu relógio de pulso soava baixo, quase inaudível em meio ao silêncio, e o vento fresco fazia a cortina da janela dançar, eu me questionava: em que momento, durante aquela primeira semana, eu havia me acostumado com a presença dele?

Não era como se não nos víssemos todos os dias. A própria faculdade não permitia esse afastamento. Exceto pela hora do almoço, quando nos separávamos e ele se sentava com Kang enquanto eu almoçava com Sailom e Ink. Desde o dia no parque e a briga no bar, estávamos sempre juntos.

Era estranho sentir falta dele agora, no final da tarde, mesmo depois de termos passado toda a manhã juntos.

Napat aproveitou a informação de que Film não estaria em seu apartamento hoje para fazer a mudança de suas coisas para o apartamento de Kang. Eu até pensei em me oferecer para ajudá-lo, mas me lembrei de que não poderia fazer isso antes de me candidatar.

O primeiro motivo era que eu não queria entrar no apartamento que Napat havia dividido com Film. Com toda a certeza, eu não queria estar lá. Assim que pisasse dentro dele, pensaria em todos os momentos que eles dois tinham vivido ali, e não era algo que eu desejava ter em meus pensamentos. 

O segundo motivo era Kang, que não podia nos ver juntos. Mesmo que na faculdade, dentro das salas fechadas, sempre estivéssemos juntos, quando saíamos para o corredor, sempre mantínhamos uma distância de um passo um do outro. 

E o terceiro motivo era Korn, que, por coincidência, havia ligado para Napat ontem e, após saber da mudança, se ofereceu para ajudá-lo.

Napat não conversava com Korn desde o dia da briga no bar, e eu percebi o quanto ele ficou nervoso ao atender a ligação de seu amigo. Ele não tinha pensado em uma desculpa convincente para dar a Korn, assim como eu também não tinha pensado em uma para contar a Wai. Será que Korn indagaria sobre ele ter escolhido ir embora comigo na noite do bar? E qual resposta ele daria se isso acontecesse?

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⏰ Última atualização: Jul 23 ⏰

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