As cerejas

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Juliette seguia com uma gravidez bem tranquila.  Não deixou a dança, mas evitava grandes saltos e passos que fossem desconfortáveis.

Alice, a amiga de infância de Juliette veio passar o final de semana com ela.

Era ela quem estava ao telefone com Ju quando Rodolffo interpretou a conversa errado.

Juliette ainda não lhe tinha contado do motivo do término mas hoje Alice ficou a saber e ficou triste pelo mal entendido.

- Amiga, eu estava a brincar.  Nunca passou pela cabeça que ele pudesse ser o dador.  Eu conheço-os dois há tanto tempo.  Lamento toda esta confusão.

- Não tens que lamentar.   Tu não fizeste nada.  Foi só uma conversa.   Ele é que errou e continua a errar.

Acreditas que há dias me viu com o Jorge e me chamou de vadia?
Coitado do Jorge. Se ele soubesse.

- Vocês deviam conversar.  Agora não são só vocês.   Tem uma criança chegando.

- Ele não quis e agora quem não quer sou eu.

- Dois cabeças duras é o que vocês são.   Ele sabe?

- Sabe.
Vamos sair.  Não vamos perder tempo com este assunto.   Eu quero um sorvete grande.

Entretanto Rodolffo como estava bloqueado por ela decidiu ir até à sua casa.   Precisava falar com ela e resolver o assunto e não seria através de mensagem.

Foi até lá mas não encontrou ninguém.

Rodolffo lembrava-se de Juliette ter comentado sobre fazer aulas de dança e onde ia fazer.  Mesmo sendo  sábado dirigiu-se lá.  Talvez ela estivesse nalguma aula, pois ele conhecia-a perfeitamente para saber que não era a gravidez que a faria desistir.

Rodolffo perguntou na recepção de Ju estava lá.  A recepcionista respondeu que não a viu mas se quisesse esperar e falar com Jorge, ele estava a terminar uma aula.

Jorge veio falar com Rodolffo e  encaminhou-o para uma pequena sala.

- Aqui estamos mais há vontade.

- Primeiro eu preciso de me desculpar por aquela noite.  Agi com um estúdio sem nem pensar o que dizia.

- Comigo está tudo tranquilo.   Deve pedir é desculpa à Ju.

- Eu bem queria,  mas ela não dá abertura.  Até me bloqueou.
Qual é a vossa relação,  Jorge? Eu devo afastar-me de vez?

- Nós somos apenas amigos, mas eu estarei ao lado dela sempre que ela queira.  Ela está magoada mas não nega que o ama.

- E eu sou doido por ela.  E queria muito acompanhar a gravidez.

- Mas ela não vai impedir de ver o seu filho.

- Eu sei.  Ela disse-me isso mas eu também quero estar ao lado dela agora.

- Então fique esperto.  Vá à luta.  Reconquiste-a.  E olhe, não tenha medo de mim.  Eu gosto muito dela mas jogo em outro team, entendeu?

Rodolffo sorriu e agradeceu muito.
Pensou em quem o poderia ajudar nesta missão e logo surgiu Alice na sua lista de contactos.

- Alice, preciso conversar contigo, enviou por mensagem.

- Agora não posso, estou com a Ju à procura de uma loja que venda cerejas.  Nem é época de cerejas.

- Não procures mais.  Eu sei onde há. Entrego lá em casa.

Alice estava no banheiro na hora da mensagem, então,  Ju não soube da mensagem.

- Ju, vamos para casa.  Lá continuamos a procurar pela Internet.

Já estavam em casa há pelo menos meia hora.  Juliette já tinha desistido de procurar e Alice ainda fingia continuar até que a campainha da porta tocou.

- Eu vou lá Alice.

Juliette abriu a porta e não viu ninguém mas na entrada estava a mais linda cesta de cerejas grandes e vermelhas.

- Alíiiiiiiice!!!

Alice correu até à entrada julgando que lhe tivesse acontecido alguma coisa.

- Olha Alice, conseguiste?
- Eu não.   Esse mérito não foi meu.

Juliette olhou para fora à procura de uma cara mas não vendo ninguém pegou na cesta e entrou.

Alice espreitou também para ver um Rodolffo escondido atrás de um carro.  Acenou-lhe quando ele se levantou e mandou um beijo de agradecimento.

Rodolffo foi embora e Alice entrou e fechou a porta encontrando Juliette já sentada no sofá com uma tigela de cerejas lavadas à sua frente.

- Alice, não sei quem mandou, mas só pode ser o meu anjo da guarda.

- Deve ser algum admirador secreto.
Podia ser outra fruta qualquer,  porquê logo cerejas que era o que querias?

- Isso realmente é esquisito.   De certeza que não foste tu que encomendaste?

- Não Ju.  Queres  ver o meu telefone?  Eu não sai de ao pé de ti.

- Deixa.  Obrigada a quem mandou.   São óptimas.  Queres?

- Não,  mas cuidado.  Não comas todas que podes passar mal.

- Só vou comer estas.  Sabes de que me lembrei?  O Rodolffo sempre me trazia frutas diferentes dos vários lugares onde fazia shows.  Frutas e doces.  Eu adorava.

- É saudade dele?  Liga para ele.

- Muita saudade, mas não vou ligar.

Rodolffo voltou para casa.  Apesar de tudo sentiu-se feliz por estar realizando um desejo dela.

Chega uma mensagem de Alice

A felicidade mora numa cesta de cerejas.
Não te esqueças das frutas e doces diferentes que trazias dos outros estados.  Ela lembrou-se.
Talvez seja esse o caminho.  Amolecer o coração pelo estômago  sem esquecer que o diálogo é sempre o mais importante.

Nós dois também precisamos conversar pois tudo começou comigo.
Tchau, depois vemo-nos.

Tango dos AmantesOnde histórias criam vida. Descubra agora