Complicações

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Rodolffo estava encantado por viver de perto os últimos meses de gravidez da Ju.  Cuidava dela com todo o carinho e não deixava que nada lhe faltasse.

O quarto de Maria Carolina estava terminado e ficou a coisa mais linda do mundo.

Hoje, Rodolffo decidiu sair para fazer umas compras.

- Amor vou sair.  Precisas que compre alguma coisa?

- Não.   Não demores muito.  Hoje não acordei muito bem.

- Então deixa.  Vou outro dia.  Ia só ali ao mercadinho do lado.

- Não.   Podes ir.  Também não é nada demais.

- Tens a certeza?

- Sim.  Vai lá.

Rodolffo saiu e Ju foi para a varanda deitar-se no sofá.

Não passou nem meia hora, ele sentiu o telefone vibrar.
Era uma chamada de Juliette,  mas ninguém falava.

Rodolffo largou o  cesto das compras com a dona do mercado e correu para casa.

- Amor, estás onde?

Viu na sala, na cozinha, subiu aos quartos e nada.
Foi até à varanda e Ju estava desmaiada no sofá.

Tentou reanimá-la enquanto ligava para a médica dela.

Juliette começava a voltar a si e Rodolffo segurou nela para a levar para a clínica.

- Vem amor, a médica já está à tua espera.

Conduziu rápido até à clínica por vezes infringindo alguma regra de trânsito.
Juliette ia acordada mas voltou a desmaiar assim que ele estacionou.

A equipe já a esperava e Rodolffo só teve tempo de dizer que ela tinha desmaiado em casa e agora à chegada.

- Aguarde aqui, Rodolffo.  Vamos examiná-la.

Ele ficou deveras aflito e culpando-se por ter saído quando ela tinha dito que  não acordou bem.  Mas era só um pulo ali ao lado!

A médica logo veio dizer que era urgente fazer a cesária pois a criança e a mãe corriam riscos.

Rodolffo equipou-se e entrou colocando-se à cabeceira da Ju que já estava consciente embora confusa.

- Rodolffo, ainda não está na hora.

- Vai tudo correr bem.  A médica diz que tem que ser para o bem de vocês duas.

A cirurgia começou e Rodolffo segurava com força a mão dela, fazendo-lhe festas com a outra mão.

Não passou muito tempo até que um chorinho foi ouvido.

- Cá está a princesa da mamãe,  disse a doutora ao colocar a criança no peito de Ju.

Juliette apertou a filha contra si e logo os aparelhos começaram a emitir sons estranhos.

- Levem a criança.  Rodolffo,  tem que sair por favor.

- Mas o que se passa,  doutora?  Que sons são estes?

- Tem que sair.  A Juliette não está bem.  Vamos tentar o nosso melhor.

- Mas, doutora!

- Desculpe senhor, mas tem que sair já,  por favor.

Rodolffo saiu da sala para o corredor e as lágrimas corriam pelo rosto.  De mãos na cabeça andava para trás e para a frente à espera que alguém lhe desse notícias.

Uma enfermeira aproximou-se dele.

- Senhor Rodolffo, se quiser pode vir ver a sua filha.

- E a minha esposa como está?

- De momento não temos notícias.   Venha ver a menina.  As notícias da sua esposa vão chegar.

Rodolffo acompanhou a enfermeira até ao berçário.

- Porque ela está nesse berço esquisito?

- Senhor Rodolffo.   Ela é prematura.  Precisa ficar aqui na incubadora por algum tempo.  Este berço substitui o ventre materno, mas não se preocupe que ela está de perfeita saúde.

- Oi, princesa dos papás.   A mamãe está dódoi mas logo vai ficar boa e vamos para casa.

Rodolffo chorava e conversava com a filha.   A enfermeira aproximou-se.

- Pode colocar as mãos nestes orifícios e tocar nela se desejar.

Ele assim fez e segurou a mão da pequenina.  Não sabe quanto tempo ali ficou em silêncio,  só contemplando aquele ser lindo a que podia chamar de filha.

A enfermeira voltou para o avisar que a médica o aguardava para conversar.

Ele fez mais um carinho na bébé e saiu.

- Entre Rodolffo,  vamos conversar.

- E a Ju doutora?

- Então.  Estamos a fazer os mais variados exames para saber o que aconteceu.  Assim à primeira impressão eu julgo tratar-se de um AVC, mas só o resultado do exame é que poderá esclarecer.

- Mas como ela está?

- Por isso é que eu quis conversar consigo.   A Juliette entrou em coma.

Rodolffo apoiou os cotovelos na secretária da médica e segurou o rosto entre as mãos.

- Não.  A minha Ju não.

- Tenha calma.  A medicina está muito avançada.  Temos que ter esperança.

- Se eu não tivesse saído de casa.

- O que foi Rodolffo?

- Ela disse que não tinha acordado bem e mesmo assim eu saí de casa para o mercado.

- As coisas são como são.   Ninguém pode prever que vai acontecer isto ou aquilo.  Não se culpe.  Ela é jovem, vai reagir.

- E sequelas, doutora?

- Não pensemos nisso.  Agora pense em si.  Da Juliette e da bébé cuidamos nós.
Cuide de estar bem quando elas recuperarem.

- Posso vê-la?

- Um olhar rápido.   Venha, vou consigo.

Rodolffo e a médica entraram na UTI onde estava Juliette toda ligada com tubos a diversos aparelhos.
Tinha um ar sereno como se estivesse apenas dormindo.

- Estou à tua espera, amor.  A nossa filha também.   Fica boa rápido.  Amo-te muito.

- Agora venha.  Vá para casa.  Descanse e volte amanhã para ver a sua filha.   Se houver alteração com a Juliette eu própria lhe ligo.

- Obrigada, doutora.

- Até amanhã.
-

Tango dos AmantesOnde histórias criam vida. Descubra agora