Capítulo 1 - Maior falha

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Beatrice olhava para as freiras com seus hábitos pretos e brancos, circulando pelos corredores do internato de forma recatada e limpa, e pensava que aquilo nunca seria ela, que ser freira seria como viver a maior ficção e mentira de sua vida. Estava convencida de que, para chegar lá, teria que enganar a todos, fazê-los acreditar em sua pureza e devoção a Deus.

Mas foi depois, quando ela realmente vestiu o hábito pela primeira vez, que ela pensou, talvez com um pouco de tristeza, que essa era realmente ela, afinal. Talvez ela tenha moldado sua mente e corpo para isso e acabou se tornando uma verdadeira freira, ou talvez ela tenha finalmente conseguido enganar a todos, inclusive a si mesma.

Não importava. Ela encontrou algo em que acreditar para esconder o tormento incessante de seu verdadeiro eu, daquilo que ela tentava tanto encobrir e esquecer de uma vez por todas. Esta era sua chance; ela se libertaria desse fardo e viveria o resto de sua vida da maneira que era esperado dela, nunca mais se desviando, esquecendo a maldade que manchava tudo o que ela tinha em sua vida anterior.

Quando chegou ao OEC, ainda era uma adolescente, mas estava determinada a se tornar uma guerreira. Sentia-se animada com a ideia de dominar ainda mais técnicas, tornar-se ainda mais valiosa para a igreja, oferecer tudo o que tinha ao OEC e às irmãs.

Essa era a sua missão, mesmo que as vozes de seus pais e de toda a sua família ainda soassem frescas em sua cabeça, decepcionados com ela, falando como se ela fosse um erro, como se toda a sua vida não valesse nada e fosse vergonhosa, como se eles quisessem esquecer toda a sua existência.

A dor de não ter mais ninguém esperando por ela era seu combustível para acordar todos os dias e colocar todo seu coração, mente e corpo para se tornar merecedora. De quê? Ela realmente não sabia, talvez de Deus, talvez da igreja, talvez de si mesma. Ela sabia que estava morta para seus pais e não tinha amigos ou carinho real por ninguém, mas ainda tinha um propósito, então dedicou sua vida a ele.

Quando fez os votos, ela sentiu-se aliviada. Essa era a erradicação completa de tudo que a fazia fraca e envergonhada: sua sexualidade. Ela não seria um ser sexual, viveria e existiria apenas para Deus. Viveria para saciar apenas as necessidades básicas de seu corpo que não trouxessem prazer ou ganhos materiais. Se libertaria dos desejos e vontades terrenas, seria pura, seguiria o caminho casto e humilde para o céu, para salvar sua alma eterna.

Beatrice realmente acreditou e não diria que estava feliz, ou mesmo satisfeita com isso, mas estava em paz, tranquila consigo mesma, e isso significava muito mais para ela. Começou a pensar que talvez não precisasse mais usar seu truque de distração, se esforçar tanto para ser a melhor, trabalhar tanto dia e noite, e sempre encontrar uma nova maneira de se tornar melhor em tudo que pudesse imaginar, já que a excelência era sua maneira de cobrir suas imperfeições.

Talvez ela não precisasse mais esconder nada. Ela estava livre desse pecado.

Mas então, como uma manifestação do mal, decidindo não facilitar as coisas para ela, para reivindicá-la de volta e roubar tudo pelo que ela havia trabalhado tanto, como uma doença que começa a apresentar sintomas muito sutis antes que você seja capaz de entendê-la e, quando você percebe, a doença tem mais identidade do que você imaginava, acontece.

Tudo começou durante uma longa e quente tarde de lutas contínuas. Havia outras cinco freiras se revezando para ter lutas curtas contra ela, lançando chutes e socos, tentando derrubá-la. Isso deveria ser um teste para sua resistência, e Beatrice agiu de forma inteligente desde o início, não desperdiçando energia e usando a força delas contra elas mesmas.

A cura para o desvioOnde histórias criam vida. Descubra agora