Capítulo 11 - Então você os tem

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Alguns segundos se passaram sem que Ava se movesse de seu lugar, e Beatrice estava apenas tentando normalizar sua respiração para se sentir no controle de suas emoções novamente. Sua pulsação ainda estava forte e implacável em sua barriga, reagindo a cada toque de Ava da pior maneira possível. Ela não sabia mais como escapar disso.

"Por que você não me disse que a Mary ia dormir comigo?", perguntou Ava num sussurro, fazendo o coração de Beatrice acelerar. Ela se perguntou por que Ava tinha descido. Ela nunca acorda no meio da noite para fazer nada, nem mesmo para ir ao banheiro; ela se enfia na cama e fica lá até de manhã.

"Eu tentei antes. Eu queria que ela descansasse direito..." Beatrice parou, sem saber como continuar sem mentir. "É só por alguns dias."

"Dias?" Ava repetiu, como se a palavra soasse pesada em sua boca.

"Sinto muito", ela se sentiu mal por não levar em consideração como Ava poderia se sentir com tudo isso. Ela foi egoísta nessa decisão, mas sabia que era apenas uma consequência de seus próprios medos.

"Posso dormir aqui com você?", perguntou Ava. Beatrice olhou para baixo. O sofá não era tão grande; ela ocupava uma boa parte dele. Como ela caberia e permaneceria...

Ava simplesmente ocupou o pouco espaço disponível e se deitou nele, pressionando-se contra a frente de Beatrice e forçando-a a se mover até que suas costas estivessem rentes ao sofá.
Ela não sabia o que fazer com os braços, então tentou deixá-los descansar ao lado do corpo, mas inevitavelmente eles acabaram tocando as costas de Ava.
Todo o seu corpo estava tocando uma parte dela e ela forçou as imagens, os pensamentos e as sugestões para fora de sua cabeça. Aquilo era demais para ela.

"Beatrice?", Ava sussurrou novamente.

Beatrice conhecia aquele tom de voz. Era provocativo, era curioso. Ela sabia que teria que fugir do que quer que Ava dissesse em seguida.
Fechou os olhos, desejando poder voltar a dormir imediatamente e não ter sonhos.

"Sim?"

"Posso te fazer uma pergunta pessoal?"

Oh, não.

"O que é?"

Ava se virou, suas costas agora contra o sofá, Beatrice tocando cada parte do lado de seu corpo. Ela sentiu sua pele, macia e quente contra a dela.

"Você fez... votos de castidade, certo?"

Beatrice piscou lentamente, percebendo como Ava já a olhava, provavelmente estudando suas reações. Ela a sentia tão perto, sua respiração a atingia a cada expiração. Ela podia sentir a proximidade de seu rosto mesmo se fechasse os olhos. Elas poderiam falar com o menor sussurro e ainda assim se ouviriam perfeitamente.

"Sim, entre outras coisas."

"E como você..." Ava mordeu os lábios e olhou ao redor, como se pensasse em como começar a pergunta. "Como você faz isso?"

"Faço o quê?"

"Os doma, seus... impulsos?" A palavra soou pecaminosa e completamente errada nos lábios de Ava, alimentando as chamas já incontroláveis que ardiam em seu ventre. Ela suspirou e se perguntou qual seria a reação dela se soubesse... se ela se revelasse, e dissesse que não é boa nisso, que na maioria das vezes são os impulsos que a domam e não o contrário.

"Eu só", Beatrice implorou por forças, "Rezo a Deus".

Ava sorriu, um sorriso pequeno e diabólico que fez o coração de Beatrice acelerar ainda mais, que a fez querer adorá-la da maneira mais profana. Fechar a pequena distância e pressionar seus próprios lábios contra os dela. Ela desviou o olhar e tentou manter esses impulsos longe.

"O que foi?"

"Então você os tem."

Ava olhou para ela com surpresa e diversão, como se não esperasse que Beatrice admitisse aquilo. Mas ela não pensou sobre isso; foi um pequeno deslize, um pequeno vislumbre da enorme paisagem de luxúria que já havia se estalado dentro dela até então. Beatrice tentou parecer cansada, revirando os olhos para o jeito brincalhão dela, para esconder o pânico, o medo absoluto de ser vista.

"Não importa o quanto eu viva perto da minha fé em Deus, eu ainda sou um ser humano", Beatrice repetiu as palavras da Madre Superiora. No momento, ela não as entendeu, mas com o tempo, elas começaram a fazer sentido.

Ava mordeu o lábio, ainda sorrindo. Ela estava gostando disso.

"Então você nunca... sabe?" Ava torceu o nariz de maneira adorável. Beatrice bufou para esconder a necessidade de sorrir e abraçá-la com força.
"Nunca fez nada a respeito? Se tocou um pouco - algo com os d-"

"Ava, pare." Beatrice não aguentava ouvi-la dizer essas coisas, não agora, quando sua mente estava tão receptiva. Ela sabia que usaria tudo o que ela lhe desse para pecar ainda mais, para se queimar viva de desejo. Odiava o quanto pareciam palavras que ela poderia usar mais tarde para aperfeiçoar sua ruína. "Eu ainda sou uma freira."

"E ainda..." Ava olhou para ela com confiança, como se soubesse que venceria essa discussão. "Como você mesma disse, um ser humano."

"Estou cansada." Beatrice não sabia como escapar dessa emboscada. Tentou fechar os olhos e fingir que precisava dormir. "Amanhã acordaremos cedo."

"Ah, mas eu quero saber", Ava sorriu novamente, como se estivesse gostando demais desse assunto para sequer pensar em dormir.

"Não devo fazer essas coisas", Beatrice respondeu em um sussurro, ainda de olhos fechados. Deixando escapar muito mais do que lhe fora permitido antes, mas ainda assim, contendo muito.

"Não sei bem do que se tratam esses votos, mas tenho quase certeza de que você também não deveria explodir o Vaticano durante o conclave." A voz de Ava soou séria, fez Beatrice sorrir, ela tinha razão.

"Durma."

• Todos os direitos reservados a @/Double_Dublin autor(a) do título, 'The Cure For Deviation' publicado originalmente em inglês no AO3 •

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