A cura para o desvio

Capítulo 10 - Pesadelo

"Ei."

Ava ergueu os olhos para encontrar os de Bea e sorriu, como se estivesse aliviada em vê-la.

"Oi, eu não sabia para onde você tinha ido." Ava e Beatrice tinham passado juntas quase todos os minutos desde que escaparam da Cidade do Vaticano, então se tornou incomum não saber onde a outra estava. Beatrice sentiu seu peito se aquecer com esse pensamento. Ela desejou não ter trocado seu lugar com Mary. Como ela deveria dormir aquela noite sem ela?

"Eu estava ajudando Mary a fazer compras e nós estávamos conversan-"

"Ok, aí vem", interrompeu Camila, colocando sobre a mesa uma travessa enorme com macarrão ao molho de tomate. "Lilith, desça, já está pronto!", ela chamou.

Lilith apareceu depois de alguns segundos e sentou-se para jantar com o resto. Então, eles conversaram e brincaram um pouco mais antes de Ava finalmente se levantar.

"Vou subir para a cama agora, estou tão cansada", Ava passou a manhã com Beatrice na praia tentando ensiná-la a nadar, apenas para que ela afundasse imediatamente todas as vezes. Ava ainda tentou argumentar que a auréola em suas costas era muito pesada para ela e por isso continuava a afundar, mas Beatrice se lembrava de Shanon sendo muito boa em nadar.

"Boa noite", todos disseram, sem pensar muito sobre isso. Mary olhou nos olhos de Beatrice, e ela olhou de volta para Ava.

"Boa noite, Ava."

Ava olhou para ela um pouco confusa, mas ignorou e foi para o quarto no andar de cima.

"Você não vai dormir com ela hoje?", perguntou Lilith.

"Beatrice e eu trocamos, ela vai dormir no sofá por algumas noites", Beatrice se perguntou se ela estava tentando poupá-la de mais mentiras. "Minhas costas estão me matando."

"Ah, você deveria ter falado alguma coisa, você pode trocar comigo também", respondeu Camila.

"E dormir com essa demônia?" Mary olhou para Lilith, que só estava mordendo um pedaço de pão. "Nem pensar."

"Tudo bem, eu vou trocar com Beatrice por alguns dias até me sentir melhor, certo?"

Beatrice assentiu, sentindo-se constrangida, com o pensamento irracional de que todos na sala sabiam exatamente por que ela estava fazendo aquilo e a mortificação que isso lhe trazia, tornava difícil continuar sentada ali como se fosse algo natural e normal, mas mesmo assim, ela o fez.

Beatrice pegou um cobertor limpo e deitou-se no sofá, acordada, sentindo-se péssima. Ultimamente, toda a sua felicidade se resumia aos pequenos momentos que tinha sozinha com Ava, sua nova rotina, sua nova base para a normalidade. Ter isso acontecendo com ela novamente era como um lembrete de que ela nunca estaria livre, não importa o quanto tentasse ou o quanto se enganasse acreditando que estava.

Ela sabia o que a esperava em seus sonhos antes de fechar os olhos. Olhando ao redor uma última vez, encontrando a casa silenciosa, os gafanhotos cantando do lado de fora e a escuridão vindo das escadas, confirmando que ela estava sozinha e que estaria segura para suportar essa punição mais uma vez.

Ela fechou os olhos e, de repente, estava de volta ao seu quarto em Cat's Cradle, tudo estava intacto, de volta ao lugar, e ela estava mais uma vez em sua cama, olhando para a parede, esperando que Ava aparecesse e a encontrasse.

Puxando as cobertas para baixo, ela estava nua e sua pele pálida e singela contrastava com a luz fria da lua do lado de fora. Foi quando Ava apareceu, esperando, silenciosa, pronta para que Beatrice lhe desse algo como da última vez, e ela queria lhe dar tudo, queria lhe oferecer as visões mais proibidas.

O pulsar estava ficando mais forte de novo, tomando conta de seu corpo, e Beatrice se sentia frustrada por cada segundo em que ele não se concentrava e não chegava no lugar onde ela mais precisava, da maneira que ela aprendeu que a fazia se sentir bem. Ela estava apenas se mexendo sem rumo na cama, procurando, mas não encontrando, precisando de orientação.

"Beatrice", disse Ava. Beatrice gemeu. Ela sabia que, assim como da última vez, Ava estava pedindo para ela fazer algo. Era uma permissão para deixar ir, para chegar ao orgasmo, mas ela não estava nesse ponto, não importa o quanto desejasse. Ela estava longe disso.
Da última vez, o momento foi perfeito. Ava disse isso para empurrá-la para o limite, mas desta vez foi como se ela estivesse exigindo que ela estivesse lá.

"Beatrice", ela repetiu, sua voz clara e autoritária, exigindo novamente, por algo que não seria possível. Beatrice se sentiu desesperada.

"Beatrice, acorde."

Beatrice abriu os olhos. Estava escuro, mas uma figura estava diante dela, tocando seu ombro e a sacudindo suavemente. Ela ajustou a visão para encontrar o rosto de Ava. Não tinha certeza se aquilo ainda era um sonho ou não, e sentia-se aterrorizada demais para reagir a qualquer um dos casos, mas essa Ava parecia nítida, sólida, como em todas as manhãs ao seu lado.

"Acho que você estava tendo um pesadelo."

Ava estava ajoelhada ao lado do sofá, passando as mãos nos cabelos dela de forma reconfortante, assim como Beatrice costuma fazer com ela. Ela não achava que se sentia reconfortada; sentia-se cada vez mais inquieta, cada vez mais desorientada.

• Todos os direitos reservados a @/Double_Dublin autor(a) do título, 'The Cure For Deviation' publicado originalmente em inglês no AO3 •