Capítulo 12 - Como seria a sensação?

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Quando ela acordou, o sol estava começando a nascer. Ela sabia disso porque o ambiente estava ameno e parcialmente iluminado, ficando mais claro à medida que os raios de sol refletiam nas paredes. Ela estava grata por não se lembrar dos seus sonhos.
Mas, ao recobrar a consciência plena, percebeu que podia sentir Ava em seus dois braços, apertando-a firmemente contra si. As mãos de Ava estavam em volta deles, mantendo-os no lugar. As pernas delas também estavam entrelaçadas e a cabeça de Ava estava apoiada em seu pescoço.

Ela estava sim feliz por ter acordado primeiro, mas não queria se mexer. Estava tão quentinho, tão certo estar assim. Ela se sentia quase eufórica. Uma sensação de calma se espalhava pelo seu corpo, fazendo-a se sentir tão segura e confortável que nenhum poder neste mundo seria capaz de assustá-la ou ameaçá-la novamente.

Mas aquilo era apenas momentâneo.
Ela sabia que precisava se afastar antes que Ava acordasse. Lentamente e cuidadosamente, desvencilhou-se dela. Vendo-a virar-se e contorcer-se desconfortavelmente, quase se sentiu culpada, mas sabia que já estava forçando as coisas, abusando da sorte.

Beatrice entrou na cozinha, ainda se sentindo sonolenta, tentando não pensar na sensação de Ava em seus braços e no seu calor, que ela ainda podia sentir, e do qual ansiava por mais, exatamente esse sendo o motivo pelo qual ela tinha que se afastar.

Ela estava fazendo café quando Ava entrou, ainda esfregando os olhos de sono e olhando para ela, confusa.

"É muito cedo", ela reclamou.

Beatrice se virou e sorriu; ela gostava daquela voz.

"Estamos treinando cedo hoje, lembra? Ainda há muitas coisas que você precisa dominar." Só Ava poderia fazer isso; ela era a única esperança do grupo.

Ava gemeu e se sentou, lançando-lhe um olhar acusador.

"O que foi?", perguntou Beatrice sem se virar. Ava permaneceu quieta por alguns segundos.

"Nada."

Eles correram pela praia e depois voltaram para lutar com varas. Mais tarde, ela estava tentando guiar Ava para um transe de meditação, onde ela poderia alcançar o Halo mentalmente e manipular sua energia para que parasse de explodir de maneiras incontroláveis, como já havia feito antes.

Ava estava tentando se concentrar e, enquanto Beatrice a guiava, ela descobriu como sua pele brilhava um pouco por causa de todo o suor da luta anterior. Ela também percebeu a maneira como isso parecia contornar seus músculos em crescimento, como eram suaves e delicadas as curvas que os conectavam, como seu coração batia vigorosamente, seu peito se inflando a cada inspiração.

Beatrice estava encarando, antes mesmo de perceber que estava. Vê-la daquele jeito não era novidade, mas naquele dia a sensação era diferente. Estava despertando coisas dentro dela, coisas que a assustavam, mas que também a enchiam de curiosidade... Como seria a sensação de ter suas mãos sobre a pele dela ou, até mesmo, sob seus lábios?

Ela saiu do transe quando Ava abriu os olhos e a flagrou. Seu olhar estava fixo no abdômen definido e forte que aparecia por baixo do top. Ela desviou o olhar imediatamente, lutando contra o rubor que subia pelo pescoço.

"E aí?", perguntou Ava.

"O quê?", Beatrice torceu para que sua voz não soasse tão apavorada quanto parecia para ela. Ava a olhava confusa.

"O que vem agora? Estou esperando."

"C-continue fazendo isso."

"A respiração?", disse Ava, enquanto erguia uma sobrancelha, e Beatrice se sentiu tão encurralada que queria fugir.

"Sim, a respiração."

"Okay," felizmente, Ava fechou os olhos novamente e retornou ao ponto em que estava em sua prática de meditação. Beatrice deveria guiá-la, usar pensamentos específicos para levar suas emoções a certas direções que controlariam a energia emitida pela auréola. Dessa vez, porém, a única direção parecia ser "respiração", já que Beatrice estava distraída demais para pensar em qualquer outra coisa direito.

"Apenas... Apenas continue fazendo isso, já volto", disse Beatrice enquanto se levantava e entrava em casa. Ela precisava se recompor, se controlar. Não aprovava seu próprio comportamento e detestava o quanto isso estava afetando o treinamento deles. Cada dia era precioso e precisava ser investido para melhorar.

"E aí, tudo bem?" Camila a cumprimentou assim que a viu, enquanto pintava uma espécie de retrato abstrato perto da janela. Ela usava uma bandana para cobrir o cabelo e sorria, parecendo estar em um acampamento de verão.

"Está um dia muito quente", Beatrice suspirou, a caminho do banheiro para jogar um pouco de água fresca no rosto.

Enquanto voltava para a sala de estar, Camila se virou para ela novamente. "É?", ela perguntou com um sorriso. Beatrice não queria saber o que aquele sorriso queria dizer.

"Ah, a propósito, Mary ligou."

"Por quê? Onde ela está?", Beatrice perguntou, enxugando o pescoço suavemente com uma pequena toalha de mão.

"Ela e Lilith foram até uma cidade vizinha para procurar alguma notícia sobre Duretti ou pessoas possuídas. Aparentemente tem uma pista, então elas vão passar a noite lá."

Beatrice soltou um suspiro cansado. Que momento ótimo para fazer um trabalho investigativo. Ela assentiu e voltou para fora, onde Ava permanecia sentada em posição de lótus, meditando ou tentando meditar, enquanto esboçava um sorriso suspeito.

• Todos os direitos reservados a @/Double_Dublin autor(a) do título, 'The Cure For Deviation' publicado originalmente em inglês no AO3 •

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