Como um sonho - Sweet Dreams

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Quê? Ele aceitou assim? Tão fácil?

Minha ansiedade não queria me deixar acreditar que aquilo era genuíno, eu tentava me sabotar cada segundo que ele não era verdadeiro, ainda que minha intuição me convencia que ele era exatamente aquilo e obvio que segui preferi seguir minha intuição.

Certa vez chamei o M para irmos da igreja, e eu preciso falar disso porque foi marcante.

Mandei o evento uns quinze dias antes, ele me dissera que iria e até demonstrou empolgação de início. Parece ser bobo, mas era o meu sonho que meu parceiro sentasse no banco de uma igreja comigo enquanto segurávamos nossas mãos, aquilo significava muito para mim.

Na véspera do culto mandei um lembrete, ele desapareceu. Claro que eu não iria correr atrás dele, embora tivesse ciência de que estava recebendo migalhas dele, meu ego não me deixa me humilhar por ninguém a esse ponto, eu nunca corro atrás. É fato que nunca me entreguei totalmente a ele, nunca deixei que ele me tivesse em suas mãos, talvez por isso era tão interessante para ele, eu também sabia manipular ele ao meu favor.

Ele sumiu. Não mandou nenhuma notícia, e para mim foi perfeito, por ser o gatilho que precisava para mandar um áudio para ele dizendo.

"Olha M, acredito que nem preciso falar nada, né? Pois bem, eu só te desejo uma coisa, que você nunca, nunca na sua vida encontre pessoas como eu, porque pessoas incríveis como eu não merecem pessoas como você".

Bloqueado.

Do outro lado tenho o Ricardo, aceitando ir comigo sem nenhuma resistência, fácil. Tão fácil que me custava acreditar que era real, ainda que ele não gostasse muito de igreja, ele faria esse esforço por mim.

Chegou o dia do culto, ele estava tão lindo, com uma calça preta, uma bag de lei e uma blusa toda colorida. Achava muito engraçado que o nosso estilo destoa um do outro.

Sentamos para assistir o culto, ele pegou em minha mão, e nossas mãos ficaram ali juntas.

Eu não queria que ele me visse chorando, mas fingi que era devido ao louvor.

Mas queria que ele soubesse o quanto eu estava me sentindo especial, e como eu estava completamente apaixonado por ele.

Tenho muito problema em demonstrar fraqueza ou qualquer vulnerabilidade, desde criança precisei ser muito forte para lidar com tanta coisa, que cresci com esses bloqueios.

Às vezes eu até quero falar, até quero demonstrar, mas chega na hora bloqueio, é como se batesse em algum lugar no meu consciente que me dá uma alerta dizendo, "não faça isso".

Fomos embora do culto, assim que descemos o rol do prédio, ele me parou e me disse:

- Obrigado por ter me trago hoje, foi muito especial! (Enquanto olhava nos meus olhos).

Eu não consegui dizer absolutamente nada, já era muita coisa para processar e eu costumo ser lerdo. Eu o abracei e dentro de mim só tinha um desejo que seria expresso em forma de.

"Quer namorar comigo?"

Não! Acho que uma loucura, não posso ser tão emocionado assim a esse ponto, saímos apenas duas vezes.

Tá, mas e daí, porque a gente tem que seguir um roteiro normativo, porque a gente não pode ser fiel ao que sente?

Esses e outros conflitos atravessavam pela minha cabeça em fração de segundos.

Fomos para uma praça, MASP. Conversamos, nos beijávamos, riamos.

Olhei em seus olhos, enquanto ele sorria e disse:

- Tá bom, a gente tá namorando então!

Em instantes seus olhos se enchem de lagrimas, e eu sem jeito digo:

- Não chora (Enquanto enxugava suas lágrimas)

Ele deve tá performando isso, não é possível, ele deve tá manipulado a situação para ficar legal, porque ele sabe que escreverei um livro sobre ele.

Minha cabeça é um trem sem destino, mil e um pensamentos ansiosos conflitam dentro de mim.

Mas no caso dele realmente era difícil de acreditar que estava vivendo aquilo, acho que eu nem estava pronto.

Eu havia conversado com ele dias antes, que completava um mês do meu término, era pouco tempo para me desintoxicar da M, e a última coisa que queria era usá-lo para tapar um buraco emocional causado por elem tinha medo de ainda ter algum resquício de sentimento, tinha receio de não estar pronto para tê-lo e principalmente de machucá-lo.

Comecei a repensar se o pedido de namoro foi uma boa ideia. De repente, fui tomado pelo medo, com o pessimismo. E agora? Como devo agir? Eu nunca namorei, ele tem tanta experiência, e se ele querer controlar minha vida? Será que eu ainda poderei fazer as coisas que gosto sozinho?

A ansiedade me paralisou naquele momento;

"Mas calma, Jefferson, respira, não deixa ele saber".

Estávamos numa cafeteria, pedimos um café com um bolo, não queria que ele descobrisse que tenho distúrbio alimentar também, talvez ele correria de mim, então tentei comer o bolo que ele comprou para mim mesmo que não quisesse.

- Tenho medo (Me abri)

- De quê?

- Sei lá, tipo...medo de ser não o que você merece, de não poder retribuir tudo na mesma intensidade, faz pouquíssimo tempo que me assumi, tudo é novo para mim, ainda tô descobrindo tanta coisa.

- Qual o seu medo?

- É esse, é tudo muito novo, você na namorou e tal, já eu não sei como é

- Qual o seu medo?

- É de não ser bom

- Mas qual o seu medo?

- Tá, eu entendi!

- Não precisa ter medo, eu estou com você nisso, não precisa ter pressa, eu terei paciência, calma.

Ricardo era como um sonho, o meu sonho mais distante, que nem de longe imaginaria estar vivendo.

Ele me levou até a minha estação, mesmo a dele sendo várias estações depois.

Quando subi no meu ônibus para voltar para casa, estava flutuando, em êxtase, tinha nem digerido o dia anterior ainda, Ricardo era muita informação para processar em um final de semana.

Ele disse querer aprender libras porque falo, e ele aprendeu o sinal de te amo em libras estadunidense, e assim ele disse o primeiro te amo em libras.

Tenho certeza que ele fez isso para ficar mais romântico no livro, só falta ele pegar os meus braços me rodar na calçada da Avenida Paulista e me pedir em casamento.

Haveria grandes chances de aceitar.

Fui embora aquele dia muito feliz e radiante e sem querer acreditar em tudo o que me ocorrera em apenas um final de semana, estive radiante como não estive há muito tempo.

Pra Sempre RicardoOnde histórias criam vida. Descubra agora