Íamos à igreja todo domingo, ele se empenhava em levar algo para o nosso coffee que antecipavam os cultos, ele não era bom só comigo, era bom com todos também. Eu nunca o disse, mas eu o admirava tanto por isso, porque ele se esforçava tanto, nem nos meus sonhos mais profundos imaginei que um dia ter alguém como ele, tão dedicado.
Aquilo tinha que dar certo, eu tava disposto a fazer dar certo, entretanto nossos desentendimentos começaram a ser constantes, e foram tantos que eu não me lembro especificamente de todos, hora era por ciúmes, hora por inseguranças, ansiedades ou desconfianças. Mas sua grande maioria eram coisas muitas vezes infundadas e tão bobas.
Ricardo era inseguro, ele tinha muitas feridas e traumas dos relacionamentos passados; eu não tive reservas quando comecei a namorar ele, ela estava vazia para que enchêssemos com tudo nosso, com todos os nossos momentos, com todas as nossas memórias. Mas ele não, a mala dele não estava vazia, estava cheia de medos, mágoas passadas, feridas e inseguranças. Embora eu o entendesse achava injusto ao mesmo tempo, injusto eu pagar pelo que fizeram com ele. Eu não queria fazer nada daquilo com ele, mas com o tempo percebi que nenhuma tentativa de tentar convencê-lo disso era suficiente. Eu me sentia impotente, me sentia inútil por não fazê-lo se sentir seguro comigo, eu queria que ele se sentisse como eu me sinto com ele, queria que ele soubesse o quanto eu o admiro, o quanto acho ele é perfeito, mas sinto que falhava, que fracassava em qualquer tentativa.
Ataques de ciúmes, discussões e mais discussões, por falar ou não falar, por sair ou ficar, por querer ou não querer.
Tudo bem, são brigas de casal, todo mundo tem.
Mas foram tantas desconfianças, inúmeras insinuações, muitas cobranças, algumas ele estava certo mesmo, mas ainda assim sentia como se não fosse capaz de trazer confiança a ele a ponto de achar que estava sendo ruim para ele me ter como namorado, me cobrava constantemente e isso me causava dores de cabeça, cansaço e estresse.
Uma vez disse ser muito cansativo ter que ficar me validando para ele, porque nós que somos negros, já temos que viver constantemente provando para sociedade que somos alguém de confiança, que temos caráter, que temos honestidade e ter que viver isso dentro de um relacionamento me parecia tão injusto.
Onde eu estava falhando, será que devo ser mais amoroso, será que tenho que dar palavras de afirmação, será que tenho que abraçar mais. Não sei.
Me sentia insuficiente; e se eu fizesse algo por ele? Não sei, e se eu fizesse a cama dele, porque eu não sei cozinhar como ele, então talvez ele se sinta mais cuidado, talvez eu deva usar a linguagem do amor dele com ele mesmo.
Talvez eu deva responder ele mais rápido, talvez eu deva ligar para ele mesmo não gostando de ligação, talvez ele se sinta importante.
Nada!
Nada me isentava das cobranças diárias, eram discussões e mais discussões, pedidos de desculpas e mais desculpas, por outro lado, eu admirava nossa capacidade de diálogo aberto e de reconhecer os nossos erros, acho que nunca fomos dormir brigados.
Eu já não aguentava mais, parecia que minha cabeça ia explodir, eram perguntas tendenciosas no meio da noite, era perguntas e mais perguntas.
- Onde você quer chegar com isso? (Questionava)
- Não, só quero saber
- Para quê?
Aquilo já estava se tornado tóxico, minha paz estava sendo comprometida, ele, por outro lado, dizia ter ansiedade e talvez usasse disso para ser invasivo, porque era apenas a ansiedade atacada, ele se desculpava, e eu também entendia isso, mas a sua ansiedade também me violava e me desrespeitava.
Eu não queria que chegasse a esse ponto, isso é tão injusto.
A partir dali eu sabia que ficaria insustentável e havia nada que eu poderia fazer.
O que eu mais temia agora me parecia ser a solução.
Término.
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Pra Sempre Ricardo
RomanceCaro leitor; Acredito que essa seja a quarta vez que tento escrever esse livro, confesso que de longe está sendo o livro mais difícil de ser escrito até então. Te convido a se aventurar nessa história de romance e amor. Não te prometo um Heartstopp...