Vá embora - Não me deixe

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A última coisa que queria era terminar com ele, talvez eu conseguiria lutar mais, ainda que a minha cabeça conflitasse com a opção de um possível término, eu não queria, porque eu não queria minha vida sem ele. Queria esperar até o seu aniversário, era o momento que tanto sonhei fazer algo incrível para ele, eu queria que ele se sentisse tão especial como eu senti no meu, queria que ele passasse o ano novo comigo, queria reunir nossas famílias porque sei que era o que ele desejava.

Era um sábado, não lembro exatamente como aconteceu, mas ele me questionara o porquê estava agindo tão estranho, porque estava daquele jeito, que estava cansado, eu sabia que ele estava.

Ele começou a me perguntar várias coisas pelas quais não tinha energia alguma para responder, eu estava exausto, talvez ele não entendesse o quanto eu estava mal, talvez eu também não soubesse o quanto ele estava mal também, talvez a gente não se entendesse.

Olhei em seus olhos e tentei com um discurso bem pensado e ensaiado dizer que queria terminar com ele, ele sequer queria ouvir todo o discurso porque sua ansiedade não deixava.

- O que você quer dizer com isso? (Ele me questionou)

- Sinto que gente não tá funcionando mais amor, eu estou me sentindo péssimo em te tratar assim. (Disse sem acreditar)

- Amor, eu insistir em você significa além de te amar, entender sua condição de TDAH, eu amo seu jeitinho, só passando aqui para dizer que te amo de montão e você se tornou uma das pessoas mais importantes para mim. Sei o quanto às vezes é difícil se relacionar, principalmente com alguém cheio de traumas que nem eu. Quero que saiba que tem aqui do outro lado uma pessoa que torce por você todos os dias.

- Eu também te amo muito, de verdade, eu amo seu caráter, sua honestidade, seu carinho, seu cuidado comigo. Você é perfeito e não há nada de errado em quem você é. Eu não julgo você por seus traumas, eu os compreendo e tento entender de maneira empática, mas às vezes os nossos medos e traumas nos impedem de viver algo bom, por isso digo o quão importante é a gente estar bem consigo mesmo, de se entender, se reinventar.

Eu me sinto péssimo de verdade, meu coração fica partido por tratar você como venho tratando, porque não é o que você merece, sabe, não pelo meu ponto de vista, você merece todo amor e amparo do mundo, todo carinho e atenção do mundo. Você é a pessoa mais maravilhosa que conheço, e às vezes eu sentia que estava te entregando migalhas, é isso me doía e eu me cobrava demais, e essas minhas cobranças me sufocavam, porque quanto mais queria ser bom, parecia que só piorava, até sair do meu controle. Minha dor e não ser tão bom quanto você tem sido para mim. Queria te dar a lua se pudesse. Eu que te peço desculpas, por não ser quem você merecia e merece. Fui péssimo com você e me crucifico por isso todos os dias, todas as segundas-feiras fico péssimo com a sensação de que fui um monstro com você. E você não faz ideia do quanto isso me machuca. Então me perdoe novamente por tudo isso, de verdade. Sei que também não é fácil lidar comigo e me admira você ter insistido em mim ainda com tudo isso. Eu te amo, e também, estou aqui e torço por você com a mesma força que torço por mim também, como se sua vitória fosse a minha. (Disse)


Em pouco tempo assisti o Ricardo entrar em transtorno, ter crises de ansiedade como nunca vi, o vi tomar vários remédios, ficar drogado, lhe ver chorar me cortava como uma espada de dois gumes, o vi ter crises até cair no chão e dormir.

Fiquei assustado, apavorado e por dentro me doía no mais profundo por vê-lo daquele jeito, ver o meu grande amor sofrer daquela maneira, senti culpa, mas eu precisava ser forte porque eu estava convicto de que aquilo não iria melhorar, que não iria mudar.

Eu estava em pedaços, só queria o abraço dele, só queria ele me beijando e dizendo que iria ficar tudo bem, eu estava morrendo de medo, eu não queria te perder Ricardo.

Ele deitou em um colchão no chão, ele é tão bom que abriu mão da própria cama para eu dormir ainda que tivesse terminado com ele.

Ele já tinha dormido, ele estava irreconhecível, ele havia chorado rios, seus olhos estavam vermelhos, ele dormiu enquanto chorava, enquanto ouvia seu soluço, aquilo era equivalente a uma adaga no meu peito, mas me mantive frio e calculável.

Eu queria que aquilo acabasse logo, eu queria que fosse mentira, deitei do seu lado, o abracei e fiquei alisando seu cabelo por uns dez minutos enquanto chorava como uma criança e o pedia desculpas, mesmo que ele nunca soubesse que estive ali.

No outro dia, um domingo, ele me pediu para reatarmos de manhã, eu queria dizer sim, mas disse não, e ele não compreendia mesmo que tentasse fazê-lo entender que aquilo não iria resolver, mas por dentro também me questionava que talvez pudesse, talvez eu pudesse lutar um pouco mais. Tá bom, vamos voltar!

Fomos patinar aquele domingo, estava um tempo feio, mas ele fazia ser lindo, eu ainda estava um pouco estranho, confesso. Mas demoro um pouco mais para voltar e processar tudo.

Eu queria abraçá-lo e dizer o quanto amava e o quanto ele era especial.

Eu amava patinar com ele, eu amava qualquer coisa com ele.

Na volta para casa discutimos novamente, eu estava exausto como sempre, mas tentei ser compreensível porque o peguei de surpresa e até que foi uma conversa mais saudável.

Na semana nos falamos por mensagem como de costume e todas as quintas ele me buscava na natação, logo depois das dezoito e meia, porque as dezoito era minha terapia.

Eu amava quando ele me buscava, me sentia a pessoa mais especial, mas naquela quinta foi meio estranho, uma vibe diferente, eu estava estanho também e meio que não conseguia estar no meu estado normal e isso me entristecia porque Ricardo se empenhava ainda mais para deixar tudo bem.

Pra Sempre RicardoOnde histórias criam vida. Descubra agora