Running - Ohmleng

Capítulo 16 - Inefável

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Abro os olhos e a primeira coisa que vejo é uma cabeleira negra espalhada na minha frente.

Ainda confuso e com os sentidos embotados, esfrego os olhos tentando me situar.

Olho ao redor e, finalmente, meu cérebro consegue relacionar imagens a memórias.

Passei muito mal ontem e acabei sendo hospitalizado. Fui diagnosticado com uma infecção gastrointestinal; felizmente nada grave, mas por ser uma inflamação aguda meu corpo rapidamente desidratou, e por isso precisei ficar em observação.

Lembro que liguei para o Ohm e pedi que viesse me fazer companhia, mas não lembro de tê-lo visto chegar.

Mas ele veio.

Olho para ele dormindo em uma posição bastante desconfortável; sentando em uma poltrona e debruçado sobre a minha cama, com a cabeça descansando em cima dos braço cruzados.

Estendo a mão e toco em seus cabelos.

Não entendo como ele consegue parecer tão sereno e relaxado dormindo nesta posição incômoda.

Traço seu rosto delicadamente com as pontas dos dedos.

Ele é lindo.

Tão lindo ao ponto de ser incapaz de descrever com palavras.

Contorno a linha do seu maxilar e, com o polegar, toco seus lábios volumosos.

Eu jamais teria coragem de toca-lo tão intimamente se ele estivesse acordado.

Não que ele não me permita fazer, ou que se sinta desconfortável comigo, e sim porque não posso correr o risco que ele desconfie dos meus sentimentos.

Com um suspiro suave ele se mexe sobre a cama, e eu rapidamente recolho a mão. Segundos depois seus olhos se abrem lentamente.

A princípio ele parece confuso, com a testa franzida e os olhos semicerrados, mas assim que seus sentidos clareiam e ele nota a minha presença, seu sorriso se abre e, em seguida, ele boceja.

_Bom dia. - diz ele consertando a coluna e se espreguiçando.

_Bom dia. - respondo franzindo a testa ao notar alguns arranhões em seus braços.
_O que aconteceu com você?

_Oh, é verdade! Me desculpe por ter atrasado. Eu não consegui chegar a tempo, e quando cheguei você já estava dormindo, sinto muito. Espero que você não tenha esperado muito. - explica ele coçando a nuca envergonhado.

Reviro os olhos.

_Não seja idiota. Quero saber o que aconteceu para você estar todo arranhado desse jeito. - esclareço.

Sua boca faz um "o" perfeito.

"Fofo." - penso.

_Ah, isso não foi nada. - diz ele verificando os próprios braços.
_Sofri um pequeno acidente de moto ontem a noite enquanto praticava uma modalidade nova.

_Espera. Você sofreu um acidente ontem a noite e mesmo assim veio ficar comigo? E ainda por cima passou a noite inteira dormindo desconfortavelmente nessa poltrona idiota? - indago, estupefato.

Ele joga a cabeça para o lado e me olha como se estivesse confuso.

_Hum... Sim? - responde, incerto.

_Pawat, você é... Inefável! - exclamo, dividido entre admiração e assombro.

Ele parece nem entender o motivo pelo qual estou chocado.

Ou seja, para ele, sair de madrugada todo machucado para passar a noite em um hospital ao lado de um amigo não é nada demais.

_O que é inefável? - questiona ele ainda com a cabeça inclinada para o lado parecendo um filhotinho perdido.