Capítulo II
"A cada passo dado é uma moeda que jogada para o alto decide o meu destino.
Me sinto tão cansado, que de tanto andar, já me encontro descalço.
Me perdi do meu caminho.Os dias são escuros.
Raras são as noites esclarecedoras.
Quisera eu ter uma paz duradoura.
Mas, o que me resta é o silêncio absoluto.Entrego minha alma ao balançar das ondas,
Rezando para Deus que me olhe e me console,
Antes que acabe por me afundar.
Será que um dia eu finalmente poderei nadar?Nada adianta.
Nada dá futuro.
Nada lhe ajuda.
Nada lhe agrada.
Nada me consola."- M
Miguel Valentini
Quando eu era criança, ouvia muitos adultos me dizerem que eu era muito sortudo por ter nascido em uma família privilegiada. Ele me elogiavam e me enchiam de perguntas intrusivas sobre meu dia a dia. Qualquer coisa que dissesse a eles era visto como um reflexo exato dos meus bens.Se eu ficasse feliz pelo novo brinquedo, se eu quisesse brincar no jardim, se eu fosse para escola, se eu tivesse interesse em nadar... Tudo era, de fato, acessível por um tempo, tudo era um privilégio e por isso eu deveria agradecer. Eu deveria ser muito grato.
Eu não poderia almoçar sem agradecer. Nem brincar sem agradecer. Nem ir para a escola sem agradecer. Nem nadar na piscina da escola sem agradecer. Eu deveria ser grato. Minha família era muito rica.
Lembro que em algum momento, meu pai também começou a usar essas palavras. Diferente das pessoas que diziam isso a minha volta, ele sorria exageradamente. Me fazendo ajoelhar vez ou outra porque se desagradava de algo, mas ainda sim me pedia para ser grato a ele.
Aos poucos, os motivos para agradecer foram se tornando ainda mais específicos. Deveria ser grato por sair da escola. Deveria ser grato por ainda ter um quarto para ficar. Deveria ser grato pela porção única de comida que ainda tinha. Deveria ser grato de ainda escutar o choro da minha irmã que estava com fome. Deveria ser grato por ainda ter a minha mãe do lado.
Até que aos poucos eu não tinha mais nada daquelas coisas e fui ficando sem ter "coisas" para agradecer. Hoje, percebo que tudo o que eu tive até agora para ser feliz, todos esses privilégios que fui ganhando novamente, ou foram se adicionando com o tempo não me causam mais nada.
O que eu verdadeiramente gostava não estava mais aqui e por isso não havia mais valor, não teria mais porque agradecer.
Esse foi um preço que demorei muito tempo para entender o que significava e pode ser que ainda doa em mim. A única coisa que não mudou foi que ainda há pessoas que me pedem para ser grato. Essas nunca deixaram de aparecer e assim como o meu pai, ela me pedem para sentir esse sentimento repulsivo todos os dias.
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Em Busca da Minha Justiça - 1° Livro | Série Em Busca |
RomantizmMiguel Valetine é a prova de que a ganância pode cegar o homem a ponto de enxergar a sua vida como um grande jogo. Filho de um dos homens mais importantes dos negócios envoltos a tecnologia avançada, ele simplesmente vive uma mentira para conseguir...