Capítulo 28.

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Existem pelo menos três acontecimentos que eu jamais vou esquecer na minha vida.

O primeiro foi quando o meu pai estava vestido formalmente porque iria numa reunião e caiu na piscina. Foi a primeira vez que ouvi um palavrão na minha vida. E minha mãe deu uma gargalhada tão alta que quase engasgou com um pedaço de bolo aquele dia, enquanto meus irmãos - que eram muito menores e estavam tão bem vestidos como meu pai - pularam na piscina seguindo o exemplo do rei.

O segundo foi quando meus irmãos colocaram um sapo na minha maldita cama.

Eu desmaiei na mesma hora e quando acordei, gritei com eles com toda a autoridade que uma menina de 10 anos poderia ter sobre os irmãos.

Foi quase traumatizante.

E o terceiro aconteceu na madrugada do dia 8 de maio - mais conhecida também como hoje
- quando Rennê e Acândia me acordaram dizendo:

- Hora de voltar a ser princesa, Rosé.

Precisei de um ou mais segundos para me virar na cama e sussurrar um:

- O quê?

- Explicamos mais tarde, mas você precisa voltar agora.

Fiz que sim lentamente. Será que eu estava ouvindo direito?

Rennê jogou as cobertas pro alto e eu bocejei enquanto me levantava. Puxei uma fresta da cortina da janela e pude ver que ainda era de noite - o céu não estava tão estrelado aquele dia.

Olhei o relógio sobre a pequena cômoda e bocejei: 4:50. Ainda era 4:50.

Notei que o quarto estava um pouco frio e minha camisola era muito fina. Me abracei para preservar um pouco do meu calor.

No entanto, não precisei fazer isso por muito tempo. Rennê passou uma capa longa sobre meus ombros e fiquei muito agradecida aquele momento. Rennê sempre sabia o que eu precisava.

- Obrigada - sussurrei, com um sorriso cauteloso no rosto. - Então, qual o plano?

- Ir até a passagem secreta da colônia sem ser vista e seguir até o castelo - Acândia dizia enquanto esticava as cobertas e organizava minha cama.

- Passagem? - Foi aí que me lembrei. Havia uma passagem por baixo da colônia que ia diretamente até o Salão Principal.

Eu usava essa passagem quando queria vir brincar com as filhas das criadas.

Não sei como a Roseanne de seis anos não tinha medo daquele corredor. Ele era bem longo e pouco iluminado, talvez fosse a animação de ir brincar com as meninas que não me permitia vacilar.

Eles iam começar a explicar, mas descartei a ajuda com a mão.

- Não entendo. O que há de diferente agora para que eu possa voltar?

Rennê e Acândia pararam de fazer o que estavam fazendo e se olharam, apreensivos.
Rennê olhou pra mim novamente e disse:

- Seus pais vão te contar tudo quando chegarmos lá.

Fiz que sim e coloquei o capuz sobre os cabelos.

Seguimos até o fim do corredor até avistar uma porta de madeira. Acândia girou a maçaneta e descemos as escadas para o porão.

Quando chegamos lá, Rennê tentou empurrar uma estante manualmente mas seus braços eram finos demais.

Acândia revirou os olhos.

- Sai daí, seu fracote inútil. - Ordenou ela, resmungando enquanto o empurrava. Tossi baixo quando Acândia empurrou a estante vazia, espalhando poeira. Logo em seguida, arrancou o papel de parede manchado que estava estranhamente posicionado atrás da estante. O papel de parede escondia mais uma porta.

𝐑𝐄𝐀𝐋𝐄𝐙𝐀 𝐎𝐂𝐔𝐋𝐓𝐀 - 𝐉𝐈𝐑𝐎𝐒𝐄 Onde histórias criam vida. Descubra agora