Capítulo 7

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Capítulo 7.

...

depois do almoço, arthur deu o final de semana de folga a pedro, deixamos ele na casa da mãe.

o silêncio que predominava no carro era constrangedor.

"a lucrécia e você conversaram depois que chegou lá em casa?". o barulho do pisca-pisca foi ouvido junto com sua pergunta.

"sim, ela não está muito feliz com o casamento". "a marizete me contou sobre a sua mãe". "posso perguntar o que ela tinha?".

""transtorno bipolar, depressão e toc". "não cheguei a conhecer ela, faleceu quando eu ainda era recém-nascido porque". fez uma pausa. "bom, de acordo com o meu pai e a lucrécia, ela não queria ter outro filho". "ela tinha passado dos 40 anos, já tinha uma filha adulta, estava há anos sem ter nenhuma crise, feliz com o casamento e a carreira de advogada Ia de vento em popa". "foi então que veio a bomba, ela estava grávida de novo". "se frustrou com a vida e por isso o quadro dela piorou Muito, como a própria lucrécia me diz, de forma irreversível".  ele tentava conter a frustração enquanto falava,.

era uma grande injustiça colocar nos ombros dele a culpa pela morte da mãe, e dava para ver que doía, mesmo não querendo demonstrar.

"desculpa arthur, foi suicídio?". à beira das lágrimas, quis saber.

"foi um acidente". "a lucrécia conta que ela brigou com meu pai e saiu de casa, estava muito dopada pelos remédios e foi atropelada por um ônibus".

"você se culpa pelo que houve?". questionei, desejando confortá-lo.

"às vezes sim, às vezes não". "eu herdei os problemas dela, ou pelo menos um deles". "sabe, entendo o sofrimento dela, jamais Renegaria um filho mas atrapalhei a vida calma que ela tinha conseguido com muito esforço".

"mas você tá bem, né?". "não se esqueça que você quer que nós sejamos amigos". notei que ele desviou a rota, talvez precisasse de um tempo fora de casa.

"o toc é uma doença silenciosa abigail, se você não convive diariamente com a pessoa nem pensa que ela tem". "o problema está nos pensamentos, entende isso?". "eu posso estar aqui tranquilo falando com você, e a minha mente me cobrando a perfeição dos papéis que eu tive que entregar ontem, ou a perfeição que eu exijo de mim mesmo na arrumação do meu quarto, da minha sala na empresa, nos meus horários". "perdi as contas de quantas vezes quase demiti um funcionário da casa por não arrumar minhas coisas do jeito que eu acho que tem que ser, não gosto muito de conviver com outras pessoas e isso me prejudicou nos meus outros relacionamentos". "eu tentei namorar abigail, mas não deu certo".

E foi com aquelas palavras que percebi, arthur era tão machucado quanto eu.

"seu tratamento tem dado resultado?". eu não tinha noção do que aquela pergunta significava para ele .

Fiquei sabendo muito tempo depois que fui a primeira pessoa, além de pedro que o acompanhava durante todo o tratamento a demonstrar interesse pelo mesmo.

"sim, pelo que a psicóloga falou eu estou indo bem, não vou depender de medicamentos". um pequeno sorrisinho de canto surgiu em seu rosto, me deixando um pouco derretida. "mas vamos lá, vamos falar de você". "você e a bárbara se conheceram na igreja?".

"essa história de como eu comecei a estudar foi bizarra, porque simplesmente um dos capangas do meu pai sugeriu que ele me colocasse em uma escola, sem dizer que era filha dele ou que meu pai era metido com tráfico não só de droga mas humano também, tinha gente para me levar e me buscar no colégio". "um casal se dispôs a se passar pelo meu pai e minha mãe fake nas reuniões, ninguém nem suspeitava quem eu era de verdade". "uma menina completamente assustada, com medo da polícia pegar o meu pai que para mim era um santo". "eu vi o rosto do meu pai aparecendo nos jornais, mas achava que ele era inocente, ele sempre me dizia que era inocente e que um dia a polícia iria parar de perseguir ele e ele poderia cuidar de mim direito". "a gente tinha um barraquinho, eu não via o que ele fazia à noite pois estava dormindo, achando que ele era um homem trabalhador que fazia o que podia para cuidar de mim". "bárbara era a única menina com quem eu conversava, não falava nada do meu pai mas a gente conversava, somos amigas desde os nossos oito anos". arthur Dava Voltas no quarteirão enquanto eu continuava falando, nós dois não queríamos descer do carro e enfrentar a realidade da mansão.

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