Capítulo 15

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Capítulo 15.

...

despertei na manhã seguinte, absorvendo cautelosamente os últimos acontecimentos.

eu tinha vivido algo que não estava em meus planos.

meu erro não era querer ser solteira, e sim a motivação disso.

naquela manhã comecei a entender algo claro desde o início da minha trajetória.

o medo sempre me bloqueou de tomar as decisões certas.

eu deixava de fazer o que no fundo sempre quis simplesmente por medo de como as coisas seriam.

o passado dominava e a fé era inexistente, ainda que eu acreditasse no contrário.

olhei para o lado e não vi arthur dormindo, pensando se tinha perdido a hora ou não.

tomei banho e fiz minha higiene matinal indo até a cozinha.

olhei em meu celular uma mensagem.

"amor, precisei sair para resolver uma situação urgente da empresa, a ivana foi processada por outro funcionário, acusação, racismo". "Eu estava uma pilha de nervos quando saí de casa então não queria te acordar".

fiz a leitura da mensagem e em seguida perguntei a ele via áudio se tinha conseguido comer alguma coisa antes de sair.

não pude deixar de me preocupar.

O racismo para mim sempre foi algo repugnante e totalmente inconcebível.

sendo casada com um homem negro, não é de se surpreender que esta total a versão tenha se tornado muito maior.

pessoas negras e pardas merecem o mesmo respeito que nós, os brancos.

por mais que eu me esforce, é difícil compreender a cabeça de um ser humano que pensa diferente.

a indignação de arthur certamente era muito maior que a minha, deve ter sofrido muitos preconceitos.

"não amor, não deu tempo de comer". "na correria da mudança acabei esquecendo de ir ao mercado e fazer as compras que a gente iria precisar, tô levando café e pão, por sorte no dia do cachorro quente nós levamos uma botija de gás". "tô chegando tá bom?". a exaustão emocional estava visível no áudio.

era notória a negligência de paulino com a empresa, deixando tudo nas costas do filho para se dedicar a lucrécia.

arthur demorou questão de dez minutos para chegar.

"a ivana foi demitida e eu dei uma bonificação para o funcionário, para ajudar nos custos processuais". "ele até me pediu desculpa mas disse que não podia deixar passar". comecei a preparar o café, ouvindo o relato de arthur.

"posso fazer uma pergunta?". ele afirmou com a cabeça. "você já passou por isso?".

"nós estávamos cuidando de um projeto, a construção de um hotel". "o responsável pela construção pediu uma reunião com o atual presidente das construtoras rossi, eu compareci e fui barrado pela secretária dele, dizendo que chamou o presidente e não o empregado da casa dele". "meu sangue ferveu, eu cancelei o projeto, perdi milhões mas não fiz". "passei por esse tipo de preconceito na escola também, diziam que eu era bolsista, perguntavam de que senzala meus pais tinham saído e etc". "comigo não é tão ruim, mas quando eu vejo isso acontecer com outras pessoas, como foi com aquele pobre pai de família humilhado por aquela mulher dentro da minha empresa, eu simplesmente fico ainda mais enojado". "acho que eu tenho que tomar mais cuidado com isso a partir de agora, cuidar muito dos meus funcionários, não importando a cor deles".

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